AMÁLIA: ChatGPT português tem primeira versão quase pronta mas só para investigadores do consórcio

Apesar da Agenda Nacional de Inteligência Artificial não avançar como previsto, o Governo diz que a primeira versão do LLM português AMÁLIA estará concluída no final de março.

Imagem produzida com IA do Microsoft designer · Microsoft designer

A garantia foi dada ontem em comunicado do ministério da Juventude e Modernização e do ministério da Educação, Ciência e Inovação, que têm a tutela do projeto que foi anunciado pelo Primeiro Ministro no WebSummit a 11 de novembro. O AMÁLIA é uma das iniciativas emblemáticas da Agenda Nacional de Inteligência Artificial que já não vai ser apresentada este mês porque o Governo está em gestão depois do chumbo da moção de confiança, como adiantou fonte do ministério ao SAPO TEK.

Têm surgido dúvidas quanto à capacidade de cumprir a meta de apresentar o LLM português até final do primeiro trimestre, como estava previsto, e agora o Governo confirma que a "primeira versão do AMÁLIA estará concluída no final de março", indicando ainda que "a versão preliminar servirá como base de treino e desenvolvimento para as duas versões posteriores – a versão base e a versão multimodal".

"Os trabalhos desenvolvidos pelos centros de investigação estão a decorrer dentro do previsto no plano de projeto divulgado na RCM n.º 201/2024, sendo que a primeira versão do AMÁLIA (versão beta) estará concluída até ao final do mês de março", indica um comunicado.

O AMÁLIA - acrónimo de Assistente Multimodal Automático de Linguagem com Inteligência Artificial - é o primeiro modelo de Linguagem em grande escala de língua portuguesa de Portugal. É muitas vezes apresentado como o ChatGPT português co objetivos de ser um projeto de soberania da língua portuguesa, ficando disponível para todos de forma aberta e gratuita, para que possam utilizá-lo para concretizar os seus projetos.

Segundo a informação partilhada, "a versão beta tem capacidade para receber e interpretar instruções em formato de texto e responder com base no conhecimento adquirido, não possuindo ainda conhecimento especializado". A versão que será disponibilizada este mês é preliminar e deverá servir de base de treino e desenvolvimento para as duas versões posteriores – a versão base e a versão multimodal.

Em comunicado o Governo indica que "nesta fase, a versão beta estará disponível para os investigadores dos centros de investigação que fazem parte do consórcio".

O financiamento do projeto é assegurado por um investimento de 5,5 M€, financiado pelo PRR, estando prevista uma duração de 18 meses. No calendário da iniciativa está definido que a primeira versão beta é lançada no primeiro trimestre de 2025, evoluindo no final do terceiro trimestre para uma versão base, e até final do primeiro semestre de 2026 será disponibilizada a versão multimodal.

Em comunicado, os ministérios da tutela lembram que a AMA - Agência para a Modernização Administrativa e a FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia são as entidades que estão a liderar a execução do projeto.  A primeira é "responsável pela gestão da iniciativa e por assegurar as condições necessárias para a futura disseminação do LLM por todos os seus potenciais utilizadores públicos e privados", enquanto a FCT é "responsável por coordenar, junto dos centros de investigação, o treino e desenvolvimento do LLM, assegurar a infraestrutura necessária para o treino e alojamento do LLM, e pelo tratamento e curadoria dos dados utilizados para este treino e desenvolvimento".

São estas duas entidades que vão assegurar, depois dos 18 meses de projeto, a infraestrutura e os mecanismos necessários para alojamento e disponibilização do AMÁLIA para toda a comunidade, sublinhando que estará disponível em open source, de forma gratuita.

"O Governo reitera ainda que estas são as únicas entidades envolvidas no projeto de desenvolvimento do AMÁLIA, não havendo, assim, nenhum envolvimento de entidades privadas", indica o comunicado.

"Tal como divulgado por altura do lançamento do AMÁLIA, o seu treino e desenvolvimento técnico está a cargo de 'um consórcio liderado pelos centros de investigação Nova LINCS da Universidade Nova de Lisboa, Instituto de Telecomunicações e Instituto Superior Técnico, e integrará outros centros de investigação nacionais com reconhecido mérito no âmbito da Inteligência Artificial'", refere a mesma fonte.

É ainda indicado que "de forma a tornar o modelo o mais robusto possível e permitir aproveitar sinergias com conhecimento desenvolvido por outros centros de investigação e iniciar o processo de treino do AMÁLIA com dados de domínios específicos (e.g. Media, Ciência e Educação), a FCT celebrou um contrato com a Universidade Nova de Lisboa e com o Instituto Superior Técnico, bem como com a Universidade de Coimbra, Universidade do Porto e Universidade do Minho, conforme publicado no Portal Base". Aqui é referido um valor de 4,6 milhões de euros e um prazo de execução de 476 dias, o que corresponde a cerca de 15 meses.

"Este projeto é concretizado em articulação com centros de investigação nacionais, tais como o NOVA LINCS, o IT, o INESC-ID, o INESC-TEC, o CISUC e o ALGORITMI, envolvendo adicionalmente investigadores da Universidade da Beira Interior e Universidade de Évora", acrescenta.

O desenvolvimento dos projetos de Inteligência Artificial é acompanhado por um Comité de Acompanhamento Especializado presidido por Arlindo Oliveira, presidente do INESC e professor catedrático no Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, e que conta com Goreti Marreiros, presidente da Associação Portuguesa para Inteligência Artificial e professora coordenadora principal Instituto Superior de Engenharia do Porto; Daniela Braga, em representação do consórcio Accelerat.ai, agenda mobilizadora no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência; e Paulo Dimas, em representação do consórcio Center for Responsible AI, agenda mobilizadora no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência.

O Comité tem como objetivo “assegurar as melhores práticas de desenvolvimento de Modelos de Linguagem de Grande Escala, o cumprimento dos princípios éticos e de segurança e aconselhar sobre o potencial de aplicações do modelo nos diversos setores de atividade”.