A sexta edição do RALI - Realidade Aumentada em Lisboa, organizado pela ITPeople, teve lugar na sede da Microsoft, no Parque das Nações. A tecnológica tem vindo a desenvolver soluções de realidade aumentada em torno do seu headset HoloLens, equipamento que os presentes tiveram oportunidade de experimentar. A tecnologia tende a evoluir, e cada vez mais massificar-se na sociedade atual, sendo um dos grandes trunfos da revolução digital que já está a acontecer nas empresas.
E ao que parece, a realidade aumentada ainda está no início, havendo um grande potencial para explorar a tecnologia. Exemplo disso foi a recente patente da Microsoft de um periférico que confere tato às experiências lúdicas do HoloLens. “Todos os sectores podem ser tocados pela tecnologia e tornar as empresas mais competitivas”, referiu Paula Panarra da Microsoft Portugal, no discurso de boas-vindas do evento anual.
Como tornar as cidades mais inteligentes com a realidade aumentada
Centrando-se nas cidades inteligentes. Miguel de Castro Neto, da Nova IMS, começou por explicar o potencial da tecnologia na conferência “Aumentar as Smart Cities”, referindo que se encontra a investigar novas soluções práticas de realidade aumentada.
Um dos desafios das cidades inteligentes é a gestão de energia. Por outro lado, a realidade aumentada pode ter um papel importante para melhorar a experiência do turismo, mas também no planeamento das próprias cidades.
Para explicar, o empresário da NOVA IMS refere que o IMT criou maquetes de Lego para planear a cidade, utilizando depois realidade aumentada para simular as ideias a implementar e modificar a sua estrutura. “Quando surgiram notícias sobre o destino do espaço da Feira Popular, invés de se ler o que poderá ser, as pessoas podem simplesmente podem ver o planeamento através de maquetes feitas em realidade aumentada”, explicou o empresário, salientando o potencial de RA na informação.
A tecnologia pode ser utilizada na segurança das cidades, criando caminhos virtuais projetados nos mapas para socorrer acidentes. Ou receber informação em tempo real durante os percursos de bicicleta pela cidade. Ou quando necessitam de chegar a um local, as pessoas podem escolher um caminho ou os melhores transportes públicos, no planeamento do percurso. Além de muitas outras soluções relacionados com os resíduos sólidos e parqueamento, e na gestão vertical dos espaços. “O limite é a criatividade, através dos dados disponíveis para construir as melhores soluções”, refere enquanto termina a sua intervenção.
Já Allen Vasconcelos, representante da EDP X, salienta o facto de assistir a um vídeo ser mais simples do que ler, mas a realidade aumentada é o passo seguinte, introduzindo interação e dinamismo. Na sua visão para as smart cities, apenas quando se consegue cruzar a informação se consegue construir algo. A qualidade de vida é a sua prioridade, seguindo-se a diminuição de custos, e por fim, investigar novos serviços onde aplicar a realidade aumentada. Salienta que existe a informação estática, que não muda durante um tempo definido, mas a dinâmico, tais como os dados do trânsito, com informações relevantes em tempo real, é onde devem ser apostados recursos. “Com essas informações é possível tomar decisões”, sublinha.
A mobilidade elétrica também foi referida como "alvo" para a criação de soluções de realidade aumentada, desde a informação sobre o tempo de estacionamento ou a sua autonomia. Também a iluminação pública deve ser inteligente, na sua visão, devendo funcionar quando há mais pessoas no local ou quando há mais procura. “Não se trata de uma transformação digital, pois isso está a ser feito, mas sim uma aceleração digital”, salienta o responsável da EDP X, como objetivos para transformar a empresa nas áreas onde opera.
Para terminar a sua intervenção, foi dado o exemplo: um técnico quando está a analisar um equipamento, tem acesso a uma série de ferramentas através de um headset de realidade aumentada. Este pode ser ajudado por outro técnico mais especializado, que não esteja no terreno, para o apoiar nas decisões. A realidade aumentada pode ajudar a passar a informação.
A loja da EDP no Marques de Pombal foi convertida em espaço demonstrativo de realidade aumentada. E os menus foram substituídos por experiências mais interativas durante a visita dos clientes. Por exemplo, é possível mostrar diretamente ao cliente os equipamentos, antes de os adquirir, e como estes podem ficar bem na sua casa. “Daqui a uns anos tudo isto vai ser normal, e iremos estranhar quando formos deparados com projetos que não estejam assentes em realidade aumentada”, concluiu Allen Vasconcelos.
Miguel de Castro Neto elogiou ainda os dados abertos sobre Lisboa, que permitem aos empreendedores criarem soluções inspirados pela informação, ao invés de perderem tempo e gastarem recursos em obtê-los. Se uma empresa souber os dados de energia, sabe onde estão as pessoas, como por exemplo, no turismo, estando já a ser criados negócios em torno deste segmento. Os projetos de arquitetura baseados em modelos virtuais digitais terão de fazer parte do futuro na construção, e não apenas os alicerces do edifício, mas as suas camadas, desde a eletricidade, sanitários, água e a comunicação, concluiu o responsável da NOVA IPS.
A realidade aumentada ao serviço dos clientes e das empresas de retalho
A utilização da realidade aumentada no retalho, na procura de novas soluções para ajudar nos negócios nas lojas ao público foi o tema da palestra liderada por Bruno Mourão Martins da CCIP: Câmara de Comércio, Rui Nabeiro da Delta Cafés e Eloy Guterres do Banco CTT.
Bruno Martins referiu a importância da mudança de mentalidade para a transformação digital, desde a parte dos processos à tecnologia. “A cultura é mesmo assim, a parte mais difícil é a mudança”, explicando que é preciso mudar os paradigmas para se criar a tal transformação digital. Para utilizar a tecnologia, a cultura tem de mudar. A literacia digital é outro ponto importante, sendo necessário haver capacidade de comunicação entre equipas dispersas, e através da realidade aumentada podem-se unificar os projetos. Além de que a sociedade vive a cultura do “agora”, do acesso imediato aos produtos - a tal referida geração do Netflix - são motivadores da mudança.
A banca tem sido um sector percursor na tecnologia, e no banco CTT, que tem apenas dois anos de idade, conseguiu já 300 mil clientes. A sua base de clientes é a população jovem, millennials, ocupando cerca de 40% do bolo. A estratégia digital foi importante, servindo como modelo pioneiro daquilo que poderão ser os bancos nos próximos anos. Ainda assim, refere que o ecommerce não tem crescido em Portugal, como em outros pontos da Europa, sendo necessário uma aceleração. A ameaça à banca atual é na verdade o próprio retalhista, pois para sobreviverem necessitam não só de ter uma base de clientes, como reputação, dando como exemplo o fenómeno da Amazon.
O responsável pelo Banco CTT explica como a realidade aumentada terá impacto no retalho, suportando com o exemplo do IKEA, retalhista onde os clientes podem ver os móveis projetados na sua casa, antes sequer de os comprar. O mesmo vale para as lojas de roupa, e até na Boing, onde os técnicos podem projetar as avarias para a manutenção dos aviões. São muitos os sectores que podem beneficiar com a realidade aumentada, destaca.
Já no sector do café, o responsável da Delta refere que esta tecnologia tem grande potencial para crescer, sobretudo na área de bens alimentares. Uma ida ao supermercado pode ser uma nova experiência, trabalhando sobre a informação dos produtos. “Que tipo de café necessita? As soluções AR podem informar melhor o cliente, seja a origem do café, o método utilizado para o torrar ou cozinhar o café”, explica o responsável da marca. Que pratos podem acompanhar um determinado vinho? São perguntas que a tecnologia pode responder de forma rápida, interativa e envolvente quando aplicada.
Do outro lado do negócio das lojas, a tecnologia pode ajudar os trabalhadores a tornarem-se mais eficientes na reposição dos produtos ou na organização das prateleiras, assim como no planeamento das montras, por exemplo, como explica Rui Nabeiro. A Delta já tem uma máquina de café cujo manual de instruções é em realidade aumentada, bastando o cliente apontar a app para o dispositivo, para receber explicações de como funciona ou como podem resolver problemas sem interferências dos técnicos. “Poupa-se em tempo, chamadas e recursos para dar apoio ao cliente”, salienta a importância da tecnologia para a empresa.
Num futuro onde todas as empresas utilizam a tecnologia, já não basta mandar uma mensagem com uma promoção, os clientes vão querer algo para si, personalizado, e esse é o caminho a seguir, na visão de Eloy Guterres do Banco CTT.
O impacto da realidade aumentada na cultura e no Homem
A Igreja e a tecnologia podem andar de mãos dadas, e este foi o tema desenvolvido pelo Monsenhor Tomasz Trafny, do departamento de Ciência e Fé do Vaticano e Pedro Farinha Gomes, do centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa.
A moderadora lançou a pergunta de como as redes sociais e as tecnologias podem ter impacto na fé, com Tomasz Trafny a responder que existem muitos benefícios, pois as pessoas passam a participar nas atividades religiosas em casa ou onde estiverem. As despesas e o conforto são aspetos que podem pôr em causa a mobilidade religiosa, e a tecnologia pode combater essa “inércia”. O representante do Vaticano refere que estamos a assistir a uma mudança no culto dos objetos físicos para o digital.
A realidade aumentada permite criar laços na cultura, na aprendizagem das crianças, dando como exemplo a China, que já está a utilizar a realidade aumentada para substituir os professores no ensino. O “toque”, o contacto com as pessoas continua a ser um problema, mas Monsenhor refere que as pessoas estão a mudar a sua perceção. Há novos comportamentos dos jovens, que depois de uma aula, ao invés de fazerem perguntas curiosas ao professor, estão a trocar mensagens nos telemóveis. Por outro lado, na sua visão, quando as pessoas estão envolvidas em realidade aumentada, personalizando o seu avatar, não se aborrecem e estão sempre satisfeitas com o que está a acontecer e a aprender.
Pedro Farinha Gomes salienta possíveis abordagens acerca da Filosofia da Realidade Virtual, sobretudo relacionados com a ética. Até que ponto as experiências e relações entre as pessoas podem ser feitas sem a presença física? O monsenhor respondeu que no Japão há uma grande percentagem de jovens, entre os 20-40 anos, que estão apaixonados por avatares virtuais e não estão interessados em relações físicas. “A realidade virtual é apenas a ponta do iceberg daquilo que a tecnologia pode oferecer à humanidade, existem avanços biónicos e genéticos, que podem ajudar as pessoas, os chamados Humanos 2.0. Literalmente, é fazer um upgrade aos humanos”, desmistifica o conselheiro do Papa para assuntos de tecnologia. A abordagem do Monsenhor Tomasz Trafny à tecnologia é tão rica, que o SAPO TEK irá publicar em breve uma entrevista com o representante do Vaticano.
A realidade aumentada nos videojogos
Os videojogos e o entretenimento são as áreas onde as pessoas identificam melhor a realidade aumentada. Nuno Folhadela da OnTop e Tiago Pereira da BigAR, mostraram as suas propostas no evento.
Tiago Pereira refere que a realidade aumentada não é só Pokémon GO, aliás, a primeira versão nem tinha AR, refere. A solução de realidade aumentada produzida pela BigAR utiliza deteção de objetos, tais como jogos de cartas, como o Magic the Gathering. O dispositivo deteta o objeto em menos de um segundo e transmite a carta virtual nas diferentes línguas. A realidade aumentada cruza os objetos com a base de dados e fornece a informação, independentemente do idioma. O empresário refere que no caso do Pokémon GO as pessoas até desligam as funcionalidades de realidade aumentada para poupar bateria. No seu produto, a realidade aumentada para além da sua rapidez, terá de ser útil para os utilizadores. A sua solução serve para avaliar as cerca de 30 mil cartas de Magic the Gathering disponíveis, mostrando aos utilizadores o seu valor e raridade, por exemplo, mas há outro tipo de jogos e cartas disponíveis na app.
Nuno Folhadela refere que está há três anos a trabalhar com a tecnologia de realidade aumentada, notando que os jogos servem para desbravar caminho para outras aplicações. “Nos próximos cinco anos vão acabar as molduras, tudo vai ser projetado na realidade sem a barreira do dispositivo”. PuzzleAR é o seu novo jogo, que utiliza objetos separados em peças que devem ser montados em realidade aumentada. “A realidade aumentada torna as interações entre os utilizadores instantânea, é o passo seguinte depois da internet”, refere Nuno Folhadela.
Tiago Pereira refere que todos os produtos, nas montras, vão ser passíveis de conter informação em realidade aumentada. A inteligência artificial vai completar a experiência, e no caso da sua solução de identificação de cartas, descobrir quais as mais procuradas ou mais valiosas. “A informação é o segredo nestes negócios”, destaca o responsável da BigAR.
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