Seja na Terra, ou até no Espaço, a presença feminina no mundo da tecnologia é cada vez mais forte e, no final de maio, a mais recente conferência digital internacional do movimento Women in Tech abriu espaço para os testemunhos de mulheres que se afirmam como vozes da mudança num setor ainda marcado pela disparidade de género.

O evento dedicou 24 horas à forma como mulheres em todo o mundo estão a “ocupar o espaço” que necessitam para prosperar nas suas carreiras e, ao SAPO TEK, Cláudia Mendes Silva, embaixadora da Women in Tech Portugal, explicou que o atual contexto da pandemia de COVID-19 teve um forte impacto na “mecânica” de um dos maiores eventos da organização, levando-o para o mundo digital.

Todos os anos em maio, o movimento organiza o Women in Tech Summit, um evento em Paris que reúne as delegações de diferentes países para partilhar experiências sobre a diversidade, inclusão e igualdade de oportunidades na tecnologia, premiando as mulheres que estão a transformar o setor.

A nova conferência virtual da Women in Tech dedica 24 horas à presença das mulheres na tecnologia
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A pandemia obrigou ao cancelamento do evento físico, mas a ideia da partilha de experiências a nível internacional permaneceu. “Em 6 semanas, esta ideia cresceu para um evento mundial com início na Austrália e término no Peru, com o lançamento de 6 capítulos adiados pelas restrições impostas pela COVID-19”, detalhou Cláudia Mendes Silva, acrescentando que, as das embaixadoras do Women in Tech, da fundadora Ayumi Moore Aoki e dos parceiros do movimento foram essenciais à concretização de “um evento tão rico e diverso”.

O lançamento do novo capítulo do movimento em Angola foi um dos momentos de destaque na Women In Tech 24 hours Virtual Tour. “Se as mulheres angolanas já representavam a base das famílias, com a Women in Tech vão poder contar com o apoio necessário para o seu empoderamento no mundo dos negócios, tendo como base o que a tecnologia lhes pode oferecer tanto a nível profissional, como pessoal”, contou Romana Ibrahim, embaixadora do capítulo angolano, ao SAPO TEK.

A responsável abraçou a área da tecnologia em 2017 com a criação da Keep Warranty e, mais recentemente, com a SmartConsult. As ligações com o país já eram fortes e foram o “drive” que levou Romana Ibrahim a embarcar na nova missão com vista a suportar as mulheres que trabalham na tecnologia: “seja na sua educação, mentoria, ou na estimulação da diversidade dentro das empresas e da própria economia”.

De Portugal para o Mundo na luta contra a disparidade

Em Portugal, as mulheres têm vindo a marcar posição no mundo da tecnologia a par e passo e, segundo Cláudia Mendes Silva, o país tem bons indicadores de uma forte presença feminina nas áreas de CTEM (ciência, tecnologia, engenharias e matemática) quando analisado como um todo.

É verdade que têm sido desenvolvidas várias iniciativas e programas, em especial, para as camadas mais jovens. No entanto, ao analisar os números ao pormenor, a questão muda de figura e a responsável revelou que Portugal se destaca pelos piores motivos. “Tem-se verificado o decréscimo da adesão feminina em áreas puramente tecnológicas, nomeadamente, nas áreas de programação”, exemplificou Cláudia Mendes Silva.

Os dados pintam um panorama onde a luta pela igualdade e a motivação das mulheres é essencial, elevando a missão da Women in Tech. “É preciso agir desde cedo, com programas adequados, porque se esta força de trabalho não existir no início da pirâmide, dificilmente teremos modelos femininos que inspirem e sejam considerados referência no topo”, sublinhou a embaixadora do capítulo português do movimento.

Com a crescente instalação de empresas tecnológicas em Portugal nos últimos anos, é necessário evoluir e dotar as mulheres de conhecimentos, como a programação, que podem fortalecer a sua carreira e abrir novos horizontes. Assim, para Cláudia Mendes Silva, as “organizações precisam de se envolver mais na comunidade, com forte participação na partilha de conhecimento”.

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A colaboração, seja física ou digital, é uma força motriz para a mudança e a embaixadora deu a conhecer que o Women in Tech Portugal tem vindo a cooperar ativamente de forma a promover atividades “que possam trazer valor para as mulheres na área das tecnologias” e que "deem ênfase ao trabalho desenvolvido pelas mulheres portuguesas”.

Além dos Women in Tech Awards, que homenageiam as mulheres que dedicaram a sua vida profissional à tecnologia: desde as que estão por trás das decisões mais tecnologicamente disruptivas às que são uma referência a nível de liderança, o movimento desenvolveu recentemente o Programa “Engenheiras por um dia” em parceria com a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.

A iniciativa que está integrada na Estratégia Nacional para a Igualdade e Não Discriminação 2018-2030 – Portugal Mais Igual foi um dos projetos que marcou a edição de 2020 do Dia Internacional das Raparigas nas TIC a 23 de abril.

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Na data que em que se pretende desconstruir preconceitos e estereótipos de género sobre profissões tecnológicas, a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género revelou que as mulheres representam menos de dois em cada 10 profissionais de Tecnologias de Informação e Comunicação em Portugal.

Tendo por base dados do Instituto Europeu para a Igualdade de Género e do Eurostat, a Comissão explicou que a proporção de profissionais femininas na área decresceu de 17,1% em 2005 para 14,7% em 2018, e apenas cerca de 0,2% das adolescentes portuguesas aspiram trabalhar nestas áreas.

É neste contexto que a Women in Tech em Portugal quer ajudar as mulheres a encontrar a sua voz no mundo da tecnologia, sendo uma ponte entre entidades governamentais e organizações privadas para a criação de eventos que abram a porta a carreiras promissoras na área. Ainda há um longo caminho a percorrer em vista à igualdade, mas é possível avançar através da colaboração e a Women in Tech Portugal está a incentivar mais organizações tecnológicas nacionais a juntarem-se à luta.

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