Uma aposta de tudo ou nada, revelou o CEO da Xiaomi quando a empresa decidiu apostar na construção do seu automóvel elétrico SU7. Lei Jun realizou uma conferência de ponto de situação desta nova área de negócio a dizer que a decisão foi tomada por acaso. Tudo começou quando a Xiaomi recebeu uma notificação de que estaria na lista negra dos Estados Unidos, por alegadas ligações ao governo chinês, durante a presidência de Donald Trump em 2021. Felizmente foi um susto de poucos meses, voltando a ser uma empresa livre de negociar com as tecnológicas dos Estados Unidos.
Mas este susto fez eco no quadro da direção. “E se formos impedidos de produzir smartphones? O que vai acontecer com os milhares de funcionários da empresa?” Perguntas que Lei Jun disse ter levado a uma resposta por um dos diretores: “E se fizéssemos um automóvel elétrico?” Aquilo que poderia ter sido uma piada, foi na verdade uma bola de neve cresceu ao longo dos últimos anos, ultrapassando uma pandemia e outras dificuldades ao longo do processo.
Em 2023 a Xiaomi finalizou o SU7, um sonho que o próprio líder da empresa pensou ser impossível, tendo mesmo colocado o “pescoço” da sua reputação no projeto, mesmo que a possibilidade e insucesso fosse bastante elevado. E em abril de 2024 foram distribuídos no mercado as primeiras unidades do veículo.
Veja na galeria imagens do Xiaomi SU7:
Durante a conferência, Lei Jun disse que devido à sua agenda muito ocupada utilizava um motorista durante as deslocações, reduzindo o tempo que conduzia. Mas quando começou a trabalhar no automóvel quis voltar ao volante. Nestes últimos anos de produção do SU7, o líder da Xiaomi pediu emprestado automóveis aos seus amigos e até colegas de trabalho, tendo conduzido mais de 100 modelos, para tomar notas.
Quando deu conta, o líder da Xiaomi tornou-se obcecado pela indústria automóvel e viu-se a ver tudo o que era filmes, programas e documentários sobre automóveis, de Top Gear, a Need for Speed, Fast and Furious e até sonhou tornar-se um piloto de automóveis de corrida, levando-o a receber aulas de condução profissional. E a receber a licença de piloto real, semelhante às que se tira no videojogo Gran Turismo.
Lei Jun envolveu-se de tal maneira na produção do automóvel, que participou em todos os testes, de Inverno e de Verão, levando as equipas técnicas e de certificação a ficarem admirados que nunca viram um CEO de uma empresa a participar neste tipo de afinações. Em janeiro, antes do lançamento do automóvel, a Xiaomi realizou aquele que é considerado o maior teste conjunto, fazendo um percurso com 576 veículos passando por 300 cidades, num total de 540 mil quilómetros combinados.
Todos os executivos da Xiaomi alinharam em fazer pelo menos 1.000 quilómetros ao volante dos protótipos, um teste à confiança na segurança. O líder da Xiaomi participou em 10 testes, dizendo que nunca tinha conduzido por tanto tempo, levando mesmo ao nervosismo interno do quadro de direção da empresa, porque em caso de acidente seria uma crise interna de liderança. Lei Jun queria dar a pelos testes, pela confiança no automóvel, depois das aulas que foi recebendo que o tornaram um melhor piloto.
“Sei fazer drift, embora não seja muito bom”, revelou o líder da empresa e para o provar, mostrou mesmo um vídeo a executar as manobras de derrapagem que vemos os pilotos profissionais a fazer, ao volante do SU7.
Veja o vídeo:
Foram três anos de muito trabalho pela equipa, sem publicidades ou leaks de informação, afirma. Quando foi revelado em dezembro de 2023 a versão final do automóvel, bastaram três dias para receber feedback. A empresa foi acusada de imatura, com críticas online de ter conseguido fazer em três aquilo que uma fabricante experiente necessita de 10 anos, pedido para a empresa parar com a produção do automóvel. Lei Jun considerava que o seu produto era melhor que a concorrência, desafiando fãs da Tesla ou BMW a experimentar.
Uma das preocupações no design do automóvel foi apelar igualmente a um público feminino, recebendo respostas que as mulheres não compram veículos de alta performance. A dificuldade no marketing e o nervosismo da equipa de vendas levaram à frustração do líder da empresa.
O alvo era lançar 76 mil veículos. Mas e se falhasse nas vendas? A fábrica era grande, mas apenas podia ter três dias de produção em stock, ou seja, cerca de mil automóveis. Isso fez pensar que seria uma maluquice o alvo de vender esse número. Na organização dos testes à imprensa, as críticas foram positivas. O desafio seguinte foi definir o preço, que não fosse demasiado baixo ou elevado devido à concorrência. Foi um processo difícil chegar ao valor correto.
Nos números mais atualizados, a Xiaomi diz que entregou 7.058 automóveis abril, 8.630 em maio e mais de 10 mil em junho. Prevendo-se que este mês de julho ultrapasse a mesma marca dos 10 mil. A empresa espera até novembro ter vendido 100 mil automóveis. Lei Jun diz que foram vendidos automóveis a fãs da marca que nem precisaram fazer o test drive. A marca espera até ao final do ano vender 100 mil unidades e chegar aos 120 mil quando completar um ano de vida. Considera que a guerra ainda não está ganha, mas a batalha do lançamento do SU7 foi vencida.
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