Fonte de informação, jornal, biblioteca, ponto de encontro e comunicação, centro de serviços da administração pública e das empresas, loja de conveniência para todo o tipo de produtos, banco disponível 24 horas, clube de vídeo (em streaming) e de jogos online, local de atividades úteis e inúteis, de vícios e perversões. A Internet é tudo isto e muito mais coisas, e o desafio é perceber e identificar o que não se consegue encontrar online.
Para mais de 5,16 mil milhões de pessoas, 64% da população mundial, a Internet faz parte do dia a dia. Está nos computadores, nos telemóveis, no televisor, nos despertadores, nos carros, mas também cada vez mais nos frigoríficos, máquinas de lavar e outros equipamentos domésticos. Ainda longe de uma utilização plena, os números de utilizadores de internet são impressionantes, com a massificação na Europa, Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul e uma aceleração que se sente especialmente na Ásia, na América Latina e em África.
Hoje as Nações Unidas assinalam o Dia das Telecomunicações e da Sociedade da Informação, que muitos designam já como o Dia da Internet, e o potencial de contributo para o desenvolvimento sustentável é sublinhado pela mensagem de António Guterres, secretário geral da ONU.
“A revolução digital é a força definidora do nosso tempo”, defende António Guterres.
Apesar de reconhecer os benefícios, a mensagem não esquece os riscos e perigos de deixar os mais pobres e desfavorecidos para trás, agravando desigualdades sociais e económicas, e a proliferação da desinformação e do discurso de ódio. António Guterres reforça a importância de conseguir uma coligação para o digital de forma global, evitando fragmentação, protegendo os direitos humanos e garantindo que a tecnologia é um impulsionador do bem-estar, da solidariedade e do progresso.
A meta de uma conetividade global até 2030 é o objetivo a atingir, mas a ONU sublinha que é preciso acelerar para não deixar ninguém de fora.
Dos laboratórios militares para o mundo inteiro
O mundo mudou nos últimos 50 anos, desde que a se fez a primeira ligação entre computadores na ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network) em 1969, transmitindo a palavra login, e depois da criação da World Wide Web trazer uma forma mais acessível de acesso a informação, com uma web de páginas.
Nenhum dos criadores daquela que é uma das tecnologias mais usadas no mundo teve noção, à partida, da forma como a Internet iria crescer. Hoje estão registados mais de 1,13 mil milhões de websites e mais de 25 mil milhões de páginas indexadas na World Wide Web. O tráfego gerado anualmente é de 120 zettabytes e todos os dias são criados mais de 328 milhões de terabytes de informação.
Para além das páginas da Web “aberta” há também o mundo da Deep Web, e de tudo o que se passa para lá da informação publicada, e a Dark Web, à qual não é possível aceder através dos browsers convencionais. E há também um mundo de bots a gerar informação, que se estima que sejam responsáveis por 47% de todo o tráfego criado.
O desenvolvimento das comunicações e a criação do que se designou como uma sociedade da informação trouxe promessas de desenvolvimento humano, social e económico que ainda não se estenderam de forma generalizada a todo o mundo e a divisão digital, com a infoexclusão dos mais pobres e desfavorecidos, é uma das áreas de preocupação.
Outras tecnologias ajudaram a mudar radicalmente a forma como navegamos na Internet. Primeiro eram necessários computadores de secretária, uma linha telefónica fixa e um modem, mas hoje a internet chega a todo o lado e os smartphones e tablets tornaram-se para muitos os principais instrumentos de acesso. As redes sociais, os serviços de mensagens instantâneas e a ligação a outros equipamentos através da Internet das coisas, ou IoT, assim como novos interfaces de wearables, tornam o acesso ainda mais presente e prevalecente.
A tecnologia de comunicações e o avanço do poder de computação aceleraram a capacidade de transmitir e aceder à informação, abrindo caminho ao vídeo, às videoconferências, hologramas e ao metaverso.
O futuro passará pela utilização da Inteligência Artificial, onde a explosão do ChatGPT é apenas a ponta de um icebergue do potencial de mudança.
O potencial económico é também enorme, e a chamada economia digital é apontada como o futuro para as empresas. As companhias mais poderosas estão ligadas às tecnologias de informação e comunicação, e continuam entre as que mostram maior potencial de crescimento, impulsionado também pela aceleração do digital com a pandemia de COVID-19. Isto apesar de se assistir a um movimento de reestruturação que tem levado a despedimentos de milhares de profissionais a nível global.
Splinternet: O risco de divisões e internet separadas
Depois do sonho de uma Internet Universal, que facilitasse o acesso à informação e conhecimento, o risco de assistirmos a uma divisão da rede é cada vez maior. China, Rússia, Coreia do Norte, Irão, Venezuela, Myanmar, Sudão, Paquistão, Jordânia ou Chad são apenas alguns dos nomes de uma longa lista de países que mantêm restrições de acesso à Internet ou que, por algum motivo, desligaram ou controlaram o acesso a serviços online, pondo em causa a ideia de uma Internet livre e acessível a todos.
O risco de fragmentação é real e tem sido alvo de muitos alertas de várias organizações, mas a guerra na Ucrânia tornou a questão mais premente, sobretudo depois de terem surgido apelos para bloquear a Rússia da Internet.
No ano passado mais de 60 países uniram-se numa declaração para o futuro da Internet, que também Portugal assinou, e que pretende proteger os direitos humanos e a liberdade para todos, uma Internet global que impulsione a livre circulação de informação e acesso aos benefícios da economia digital. Pode ser apenas uma declaração de intenções mas não deixa de ter importância num momento em que as ameaças são cada vez maiores.
O problema da fragmentação da Internet, ou Splinternet como se convencionou chamar, está longe de ser novo, mas a Internet Society avisa que já afeta milhares de milhões de pessoas.
Os alertas para o controle e bloqueio de serviços são antigos e Tim Berners-Lee já defende há vários anos um “Contrato para a Internet” para reparar o que na sua perspetiva está errado com a grande rede. A iniciativa data de 2019 e a visão do “pai da World Wide Web” já reuniu milhares de empresas e organizações que assinaram este “Contrato” com nove compromissos em várias áreas.
A Internet Society é outra das organizações que tem vindo a alertar para a possibilidade da fragmentação deitar por terra décadas de esforço para garantir a ligação do mundo inteiro, dividindo a Internet numa série de redes separadas, sem pontos de contacto.
Dan York, diretor da Internet Society, defende que o impacto na nossa forma de viver é profundo e explica, de forma simples, com o exemplo de que há utilizadores que não conseguem aceder ao Facebook, têm uma alternativa ao Google porque o motor de busca está bloqueado e que mesmo a Wikipedia está fora de alcance.
“Podemos usar os mesmos browsers e programas de email mas não conseguimos chegar aos mesmos sítios. E mesmo que consiga, não tem a certeza se o governo local está a monitorizar tudo o que faz online”, defende.
O futuro passará pelo Metaverso e a Web 3? E qual o impacto da Inteligência Artificial? Os algoritmos e a capacidade de automação das novas tecnologias desenvolvidas podem ser um auxiliar para reduzir o tempo em tarefas rotineiras, ou um copiloto como a Microsoft lhe chama de forma tão adequada, mas também são instrumentos com potencial para reduzir a liberdade individual e a nossa capacidade de tomar decisões, como apontam especialistas do Pew Research Center e do centro Imagining the Internet Center da Universidade de Elon.
O certo é que, tal como em 1969 os criadores do ARPANET estavam longe de imaginar o impacto da Internet, hoje também é impossível prever qual será o futuro nos próximos 5 anos, e ainda mais nas próximas 5 décadas.
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