O comércio online na Europa está a recuperar o fôlego e a voltar aos níveis pré-inflação, revela um estudo da Ecommerce Europe que prevê receitas de 958 mil milhões de euros este ano no sector, mais 8% que em 2023 (ou 5%, ajustando o valor aos efeitos da inflação), quando as compras online valeram 887 mil milhões de euros na região.

A pesquisa mostra que a recuperação está fortemente ligada ao peso que plataformas de comércio eletrónico como a Temu e outras chinesas têm conseguido ganhar, com preços que a maior parte das lojas locais não conseguem acompanhar.

Como explica o relatório, a subida dos preços na Europa, no contexto de inflação elevada dos últimos anos, mexeu na procura reduzindo-a por um lado e aumentando o interesse em produtos baratos, por outro. “Ainda não voltamos aos níveis de confiança que os consumidores tinham antes da crise inflacionária, mas não estamos longe disso”, explica Anton Delbarre, economista-chefe da EuroCommerce, associação retalhista co-autora do estudo, citado pela Reuters.

Num comunicado divulgado no site, a mesma associação recorda que o sector “continua a debater-se com desafios que abrandam o seu crescimento desde 2022”, apontando como exemplos a inflação, o avanço tecnológico desigual, a adoção de modelos mais sustentáveis e a adaptação a novos regulamentos de sustentabilidade. Ao mesmo tempo, “as empresas sediadas na UE estão a lutar contra a forte concorrência de operadores não sediados na região, juntamente com a falta de uma aplicação justa dos regulamentos da UE sobre estes”, sublinha-se.

Como se sabe, a concorrência de lojas online como a Temu não agrada aos comerciantes europeus que acusam a empresa de concorrência desleal e de não cumprir as mesmas regras que são impostas às plataformas de comércio eletrónico da região.

Em maio deste ano, as associações de consumidores de vários países europeus, incluindo Portugal, queixaram-se à Comissão Europeia das práticas comerciais da Temu, que também está sob escrutínio da CE por causa do cumprimento das regras previstas na nova Lei dos Serviços Digitais.

Nos Estados Unidos os relatos sobre a falta de segurança de produtos infantis também levaram a Comissão de Segurança dos Produtos de Consumo do país a proporem uma investigação às plataformas de comércio eletrónico chinesas Temu e Shein.

Estudo europeu também tem dados sobre Portugal e números de 2023

Portugal é um dos 38 países incluídos neste estudo sobre o comércio eletrónico na Europa Os dados disponíveis para consulta na versão aberta do documento mostram que no país 88% da população com idade entre os 16 e os 74 anos usa a internet e 56% vão fazer compras online este ano. O valor médio previsto para a Europa é de 72%.

O motor de pesquisa favorito dos portugueses (95%) é o Google e quase metade dos portugueses que fizeram compras online nos três meses anteriores aos inquéritos para o estudo compraram em lojas online fora do país, mas dentro da UE.

Sobre o ano que passou, o estudo mostra que o sector europeu de comércio eletrónico B2C registou um crescimento de 3%, face aos 2% de 2022. “No entanto, apesar do crescimento nominal global, o panorama do comércio eletrónico apresenta disparidades regionais significativas”, sublinha um comunicado divulgado pela EuroCommerce.

Essas diferenças ficaram bem patentes nos números apurados para 2023. Na Europa Ocidental, tradicionalmente o maior mercado para o comércio eletrónico B2C europeu, as compras online valeram menos 1%, para 596 mil milhões de euros. Na Europa do Sul e na Europa Oriental registaram-se taxas de crescimento de 14% e 15%, para volumes de negócios que atingiram 166 mil milhões de euros e os 17 mil milhões de euros. Na Europa Central as receitas de comércio eletrónico aumentaram 8% para 79 mil milhões de euros, enquanto no norte da Europa caíram 5% para 56 mil milhões de euros.