“Ginásio online” da Actif para seniores está a chegar a hospitais e a preparar o salto para o Reino Unido

Combater o sedentarismo é promover a saúde e a Actif acredita que criou uma resposta para facilitar esta máxima em instituições onde nem sempre há recursos para promover esta atividades, mas também em casa, com ajuda da tecnologia.
“Ginásio online” da Actif para seniores está a chegar a hospitais e a preparar o salto para o Reino Unido
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A história da Actif nasceu, como muitos outros projetos empreendedores, da vontade de arranjar uma solução para um problema que a fundadora viu de perto. A avó de Sara Gonçalves foi diagnosticada com demência e passava os dias em atividades sedentárias, que em nada contribuíam para moderar a evolução da doença.

A plataforma criada pela empresa é um instrumento de combate ao sedentarismo, com uma oferta de exercício físico e cognitivo, que pode ser adaptada a diferentes condições dos utilizadores. Foi pensada como uma resposta para contrariar as muitas horas que quem está em lares passa sem grande atividade e o impacto que isso pode ter para a saúde do corpo e da mente. Quer também ajudar a resolver as limitações das instituições que muitas vezes têm poucos recursos para promover estas iniciativas.

“A maior parte das pessoas associam exercício físico a algo lúdico e o que nós queremos é mostrar que é tão poderoso como um medicamento ou até mais, em certos casos”, explica Sara Gonçalves.

“O que vemos é que ninguém tem olhado para esta questão da atividade física como uma ferramenta de prevenção, tratamento e promoção da saúde. Fala-se muito do tema na comunidade, mas depois faltam ferramentas que as pessoas possam usar”. Quando alguém vai ao médico e sai com a recomendação de mais atividade física, acaba a pensar: “ok o médico mandou-me fazer exercício, mas por onde é que começo?”

O sistema da Actif permite a personalização de conteúdos, depois da resposta a um conjunto de perguntas que ajudam a apurar as necessidades e limitações de cada utilizador. Quem decidir experimentar por conta própria pode fazê-lo através do site da empresa e é isso que vai ter, sugestões adaptadas ao seu perfil e condição e diferentes planos de subscrição, com hipótese de experimentar sem custos.

6.000 exercícios em mais de 20 categorias

Num lar, num hospital, ou em qualquer outro ambiente de utilização com ecrã partilhado, o algoritmo que ajuda a personalizar a oferta de 6.000 exercícios em mais de 20 categorias faz uma segmentação mais genérica, mas mantém o ajuste das propostas a diferentes critérios e vai melhorando a capacidade de resposta, à medida que o modelo vai absorvendo mais dados de utilização.

Até à data mais de 1.100 pessoas experimentaram os exercícios da Actif, apresentados em conteúdos multimédia criados por profissionais e multiplicados com a ajuda do algoritmo desenvolvido pela empresa. A startup conta com vários clientes no sector social e no sector privado, como as Misericórdias do Porto, Amadora e Figueira da Foz, ou a Unidade de Cuidados Continuados do Hospital Arcebispo João Crisóstomo do Serviço Nacional de Saúde. Em 92% das instituições onde a plataforma foi experimentada continua a ser usada e a esmagadora maioria das equipas que têm contacto com o serviço utilizam-no mais de cinco vezes por semana.

O sistema foi recentemente certificado como dispositivo médico pelo Infarmed, “um passo importante para dar credibilidade ao produto e abrir novas oportunidades, nomeadamente no contexto hospitalar”, que é uma das apostas mais recentes da Actif, numa vertente de apoio à reabilitação em contexto hospitalar. O objetivo não é substituir-se à fisioterapia convencional, mas acrescentar propostas de mobilidade que incentivem quem está internado a passar menos horas imobilizado, se puder movimentar-se.

“As pessoas em internamento, quer seja pré ou pós-operatório acabam por passar muito tempo em atividades sedentárias e os terapeutas dedicam-se a trabalhar em processos de reabilitação propriamente ditos e não intervêm nestes casos”, lembra Sara Gonçalves.

A Actif quer posicionar-se para complementar esse trabalho profissional. “Estamos a falar de atividades físicas e não numa reabilitação muito específica de um problema concreto, que tem de ser respondida com exercícios específicos. Aqui trata-se mais de uma questão de manutenção da atividade física e combate ao sedentarismo”.

Internacionalização vai começar pelo Reino Unido

“Tem-se falado muito na questão das vagas sociais e a verdade é que quanto mais sedentárias as pessoas forem nestes períodos, mais necessidade de tratamento vão ter e menos probabilidade terão de sair sozinhas para as suas casas”, sublinha Sara Gonçalves.

A Actif está neste momento a preparar a internacionalização para o Reino Unido, onde pretende começar pelo mesmo segmento que começou em Portugal, o dos lares de idosos. Esta é uma das grandes metas para os próximos meses. Chegar a mais utilizadores em Portugal é igualmente um objetivo.

“Somos uma empresa de impacto social e o nosso objetivo é chegar ao maior número de pessoas possível”.

Tendo em conta que só 4% da população portuguesa mais velha vive em instituições, a startup aposta em expandir o acesso da plataforma também para quem está em casa e na comunidade, até numa perspetiva de “planeamento do envelhecimento. Quanto mais cedo conseguirmos incorporar este tipo de rotinas na nossa vida com melhor qualidade vamos viver”, defende Sara Gonçalves.

À medida que o projeto tem ganho notoriedade, a Actif tem também percebido que a sua proposta tem interesse em contextos que ainda não tinha pensado explorar, como a recuperação pós-operatória de doentes oncológicos, ou a promoção de atividade física junto de pessoas com deficiência ou outras condições físicas específicas e está a trabalhar com parceiros também nestas áreas.

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Em curso estão dois estudos de impacto com as residências sénior ORPEA e com a Misericórdia de Lisboa e o projeto Radar. O objetivo é validar o impacto da utilização da plataforma nas residências sénior da ORPEA e em pessoas com mais de 65 anos que vivem em casa, mas estão em situação de isolamento. Vai ser medido o impacto do exercício na diminuição do risco de queda, por exemplo, ou o nível de motivação despoletado para incorporar rotinas de exercício.

A startup prepara também uma nova ronda de investimento (já teve uma em 2022), que deve estar fechada até meados do ano. Está à procura de 1,2 milhões de euros para apoiar a expansão para o Reino Unido.

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