Autora e oradora motivacional, Mafalda Ribeiro conversou com o SAPO TeK sobre a forma como conta com a ajuda das redes sociais para provar que “é possível sorrir, ainda que permanentemente sobre rodas”. Num mundo onde considera que, na generalidade, são muitas as inovações que estão a ajudar pessoas como mobilidade reduzida, Mafalda acredita que o problema reside na forma como são distribuídas, falando num “longo caminho a percorrer”.
A osteogénese imperfeita coloca muitos obstáculos a Mafalda Ribeiro. A doença hereditária, conhecida vulgarmente por doença dos ossos de vidro, significa ossos partidos, dores permanentes e a necessidade de se deslocar numa cadeira de rodas para a vida. É neste contexto que Mafalda Ribeiro tem uma profissão com uma missão e um propósito bem definidos: “transmitir mensagens de esperança, mostrando através do meu storytelling que o impossível é mesmo só um exagero para difícil”.
E para aquela que se define como uma “mulher de fé sem limites com 97 cm”, as redes sociais revelam ser uma “ferramenta que facilita a disseminação da mensagem de que é possível sorrir, ainda que permanentemente sobre rodas”. No entanto, Mafalda Ribeiro esclarece desde logo que ao partilhar o conteúdo é a sua verdade, “e por isso vale o que vale”, não sendo “´produzida` para alcançar o que que quer seja”.
Numa altura em que o Governo já admitiu que vai monitorizar o discurso de ódio da Internet, Mafalda Ribeiro acredita que “chegamos a uma era em que não sabemos usar com responsabilidade a nossa liberdade individual”, fazendo referência a uma música da cantora Sara Tavares onde é dito: "sei que posso fazer tudo, mas nem tudo me convém". No caso das redes sociais, o problema das palavras de ódio é que “são quase sempre palavras que o vento não leva”, considera.
“O bullying, o racismo, o preconceito, a xenofobia e tanta violência psicológica gratuita de que os miúdos cada vez mais cedo são alvo começa, ganha forma e organiza-se na Internet, atrás de um ecrã onde somos todos heróis”, considera. Por isso, Mafalda acredita que “alguém tem de estar mais atento e parar isto”.
O problema das palavras de ódio nos discursos que proliferam nas redes sociais é que quase sempre são palavras que o vento não leva, afirma Mafalda Ribeiro
Mafalda afirma não ter haters. “Acho que há uma certa ´condescendência def.` e nunca me atacaram, mesmo quando me posiciono mais objetivamente sobre um tema mais fracturante da sociedade”, afirma. Por outro lado, a freelancer garante que não alimenta polémicas na “casa” dos outros e escolhe “em sabedoria” as causas que defende e as batalhas que quer travar. Por isso, deixa clara o seu ponto de vista sobre a partilha nas redes sociais: “podemos ter opinião sobre tudo, mas não temos de a tornar pública sempre”.
Gagdgets a que Mafalda recorre: uma grande diferença no dia a dia de uma pessoa com mobilidade reduzida
Quando questiona sobre os equipamentos tecnológicos que utiliza, Mafalda Ribeiro garante que recorre aos básicos e que “todas as pessoas utilizam”. No entanto, e esclarecendo que “há coisas que quem não tem problemas de mobilidade usufrui por prazer, algum ócio ou confortabilidade”, para pessoas como a Mafalda Ribeiro os gadgets são uma “forma de poder fazer coisas que sem a tecnologia se calhar não fazia de todo”.
A freelancer dá o exemplo das aplicações de videochamada que vieram facilitar bastante toda a “logística de sair de casa” para ter, por exemplo, uma reunião de 20 minutos no centro de Lisboa. “Assim como tudo o que foi criado para encurtar distâncias é incrível para quem não é autónomo a nível de mobilidade”, refere.
"Para pessoas como eu (os gadgets) são uma forma de poder fazer coisas que sem a tecnologia se calhar não fazia de todo"
A possibilidade de ler jornais online foi também um dos destaques de Mafalda Ribeiro, que, para ler a versão em papel diariamente precisava que alguém os trouxesse. “Ler jornais online a mim ajudou imenso não só o ter de ir ao quiosque comprá-lo diariamente, o que não acontecia, a não ser que alguém mo trouxesse”, explica também. O facto de existirem jornais que, quando abertos e folheados, serem literalmente maiores do que a Mafalda também não era de todo favorável.
Assumindo-se como uma “leitora compulsiva”, Mafalda explica que o e-book veio fazer toda a diferença, ainda que “prefira mil vezes o cheiro do papel”. A possibilidade de poder transportar e ler em qualquer lugar aqueles livros que só conseguia se estivessem apoiados numa mesa, dado o seu peso, veio melhorar também neste sentido a vida de Mafalda. “Poder levar de férias todos os livros e filmes que me apeteça num único equipamento é um luxo”, chega mesmo a afirmar.
Também as apps de compras online e comida entrega ao domicilio tornaram-se uma mais valia na vida de Mafalda Ribeiro. Vivendo sozinha, não necessidade de forma tão evidente de ajuda de alguém de fora.
Estão as tecnologias a serem bem distribuídas por aqueles que têm necessidades especiais?
As pessoas com deficiência têm visto equipamentos a serem desenvolvidos para as ajudarem a terem uma melhor qualidade de vida. Uma solução da empresa sueca Tobii, por exemplo, permite aos utilizadores interagirem de forma mais acessível a algumas das aplicações mais populares, como o Facebook, Instagram, e a serviços com a Netflix ou o Spotify.
Para Mafalda Ribeiro, existem já muitas inovações a nascerem e a serem implementadas, acreditando que “a transformação digital é uma realidade e que veio trazer muitos benefícios a pessoas com necessidades especiais”. No entanto, a freelancer considera que o problema está no “investimento na forma como os protótipos de boas ideias depois chegam às pessoas, são comercializados ou mesmo doados”. Este processo “ainda não é ainda o ideal”, afirma.
Mafalda Ribeiro considera ainda que “os apoios que existem para pessoas com fraca capacidade financeira para suportar custos de tecnologia têm ainda um longo caminho a percorrer”. Para a freelancer é necessário “priorizar as pessoas às tarefas” e, neste caso, de “investir primeiro nas pessoas percebendo as suas verdadeiras necessidades”. “A seguir será mais fácil investir nas ferramentas que lhes trarão uma maior qualidade de vida”.
Garantindo que no dia a dia não consegue passar sem o telemóvel, que acaba por ser a sua câmara fotográfica. “Adoro fotografar, como se assim pudesse congelar para memória futura a minha forma de estar na vida, genuinamente grata e feliz”, conta ao SAPO TeK. Mafalda conta ainda com um tablet e um portátil, não dispensando um computador para escrever. “O ´touch` desenrasca mas preciso de sentir as teclas debaixo dos dedos e o barulho que elas fazem à medida que as palavras se formam”, explica.
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