João Blümel é um entertainer português com 36 anos e tem como principal paixão criar bons espetáculos, que sejam inesquecíveis para o público. A sua arte é aquilo que se chama de mentalista. Mas afinal do que se trata? “Um mentalista chama pessoas aleatórias da plateia, pede para pensar em coisas como números, palavras, músicas, e outros, sendo o objetivo adivinhar isso mesmo”, refere o artista em entrevista ao SAPO TEK. Para realizar os seus “truques”, utiliza técnicas de influência, análise de comportamento humano, a linguagem corporal, sendo necessária uma grande capacidade de leitura instantânea, explica.
O seu dom desenvolveu-se quando em miúdo considerava ser muito intuitivo. “Conseguia dizer coisas pessoais sobre miúdos que não conhecia, desde as profissões que gostariam de ser, como veterinário e arquiteto. Tinha 14 anos e eles 12 anos. Desde cedo que tinha a particularidade de saber qual era a banda favorita das pessoas, por exemplo”. Aos 15 anos descobre a neurolinguística, uma ciência que procura analisar o comportamento humano, “da mesma forma como se analisa os computadores”. Diz que a partir daí se deu o shift. Foi perdendo a sua intuição, dando maior foco às partes técnicas.
Formado em fisioterapia, profissão que apenas exerceu por dois anos, desde criança que era apaixonado pelas artes, da dança e música, chegou mesmo a querer ser cantor. Mas aos seus 8 ou 9 anos recebeu a caixa de magia de Luís de Matos. “Fiquei obcecado com as artes de ilusionismo, fui praticando e comprando livros”. Isto num período pré-internet, porque quando descobriu o mundo online, os seus horizontes foram expandidos, obtendo todo o material de entretenimento e a informação que necessitava. Antes ia às bibliotecas, mas os conteúdos eram muito limitados.
Na internet passou a participar em fóruns de magia e a fazer formações. Conheceu uma pessoa ligada à neurolinguística e hipnose, arte que fez durante alguns anos, entre os seus 18 e 22 anos. A última vez que hipnotizou uma pessoa foi num casting para a SIC há quatro anos. “Uma hipnose é como um hack de um cérebro, introduzindo formas de influenciar o comportamento de forma profunda e impactante”, explica.
Mas o seu grande interesse pelo mentalismo surgiu mais cedo, quando conheceu a neurolinguística. “Havia um curso em Portugal na altura, mas era algo que nunca se falava. A linguagem é muito poderosa e a programação neurolinguística baseia-se nisso”. Diz que a área analisa as pessoas com mais sucesso, como comunicam para atingir os resultados mais eficientes, sejam atletas ou homens de negócio, por exemplo. “Se ensinarmos estes padrões a pessoas normais, serão que vão aprender? Sim, é como se fosse uma programação”, refere João Blümel.
"Se ensinarmos estes padrões a pessoas normais, serão que vão aprender? Sim, é como se fosse uma programação"
A arte do mentalismo já existe há mais de 100 anos, “mas no início do século passado as pessoas eram mais místicas, referindo nos seus espetáculos que ia comunicar com os mortos ou mexer objetos com a mente”. Na sua opinião, estes conceitos são “estúpidos”, uma vez que ninguém vai acreditar nisso. Assim, ao desenvolver o seu conhecimento na neurolinguística, a sua arte de mentalista baseia-se em princípios de psicologia, em vez de ilusionismo. Começou com 16 anos a fazer pequenas experiências, com objetos, onde analisava o olhar, cálculos de percentagem da direção que olhavam, etc. Diz que se inspirou num artista britânico chamado Derren Brown, que tinha um programa chamado Trick of the Mind, em que ele chegava a lojas e pagava compras com folhas de papel que tinha na carteira.
Durante a sua carreira, João Blümel já fez espetáculos no Brasil, assim como nos Estados Unidos: o Magic Castle em Hollywood e depois Nova Iorque, onde passou seis meses. Um dos truques que se lembra de fazer consistia em tirar fotos com uma Polaroid a pessoas aleatórias na rua, pedindo-lhes para dizerem números, que depois apareciam na foto. O seu truque, confessa ao SAPO TEK, era a presença de um táxi com um número, colocado estrategicamente na direção do olhar das “vítimas”, que acaba por servir como influência às escolhas dos números.
Espetáculo de realidade virtual no Pavilhão de Portugal na Expo Dubai
Quando o SAPO TEK entrevistou João Blümel, o mentalista estava de malas feitas para viajar ao Dubai, onde vai apresentar o seu novo espetáculo. Trata-se do seu sétimo espetáculo, que foi criado em 2020, depois de um grande hiato entre 2016/19. “Tive um bloqueio, não conseguia criar nada de novo. Não tinha ideias para o meu sétimo espetáculo, que tem um significado místico”. Em 2019 experimentou pela primeira vez a realidade virtual e ficou impressionado.
“Por muito entusiasmado que se fale em VR, sem colocar o headset na cabeça não se consegue perceber a imersão das experiências. Deu-se um clique, sabia que era por ali que queria seguir, fazer mentalismo em realidade virtual”. João Blümel sempre foi um “nerd” das tecnologias, desde muito jovem que teve um computador e chegou mesmo a ponderar seguir como engenheiro informático.
"Por muito entusiasmado que se fale em VR, sem colocar o headset na cabeça não se consegue perceber a imersão das experiências. Deu-se um clique, sabia que era por ali que queria seguir, fazer mentalismo em realidade virtual"
Assim, o seu novo espetáculo tem como base a realidade virtual e aumentada. “As pessoas vão ao palco e colocam os óculos, assistem a mundos criados pela sua equipa, interagem com objetos e ainda conhecem o Blümel 2.0 que interage com elas”. Durante 2020 afirma que os seus espetáculos estiveram sempre esgotados, tendo convidados como o Nuno Markl, Fernanda Serrano, Salvador Sobral e Inês Aires Pereira. “Sinto que este é o melhor espetáculo que alguma vez fiz”.
Vai estar presente na Expo Dubai, que se realiza até ao dia 31 de março, para apresentar uma experiência específica para o Pavilhão de Portugal, baseado em culturas e experiências portuguesas. Diz que era para ser em janeiro, mas devido as chuvas que ocorreram no Dubai, o Pavilhão de Portugal sofreu inundações e tiveram de ser adiados alguns eventos. Assim, vai estar de 1 a 7 de março no Dubai com o seu espetáculo.
Veja na galeria as imagens do espetáculo previsto para o Dubai:
“Estou super entusiasmado com o espetáculo, porque conjuga o tema da Expo que é a tecnologia e a união das pessoas através da tecnologia. E o meu espetáculo passa mesmo por unir as pessoas através da tecnologia de realidade virtual. Ainda por cima, o espetáculo será uma bandeira que vai promover a cultura portuguesa”.
Ainda no que diz respeito à realidade virtual, João Blümel diz que se está a afirmar como “metaverse mentalist”, referindo-se como pioneiro, pois não viu ninguém no mundo a fazê-lo. Diz-se muito entusiasmado com o potencial dos metaverses para a indústria do entretenimento, “um game changer”. Ainda assim, manifesta algumas preocupações éticas, no que diz respeito às questões da privacidade, uma vez que a tecnologia usa a imagens das pessoas para criar avatares. E tem noção do impacto social que as tecnologias têm.
“As pessoas já estão alienadas no computador, agora imagine-se quando a imagem estiver em todo o lado, como no filme Ready Player One que espelha bem o que é o metaverse”. No entanto, afirma que a web 3.0 veio para ficar e que o atual espaço online vai ficar obsoleto. Para já a adoção massiva dos headsets ainda não se concretizou por serem caros e pouco confortáveis, mas aguarda a evolução tecnológica das lentes de contacto com realidade aumentada, a um preço acessível, para todos utilizarem. “Os telemóveis que conhecemos vão mudar”.
Paragem forçada pela pandemia incentiva a criação de canal na Twitch
Tal como outros artistas, atores e até atletas, o isolamento imposto pela pandemia incentivou João Blümel a criar um canal de streaming na Twitch. Não para exercer a tua atividade de mentalista, mas inicialmente para se dedicar ao gaming. Refere que durante a pandemia, devido à escassez de trabalho, acabou por passar muito tempo a jogar videojogos e que o seu melhor amigo, igualmente “geek” de séries, filmes e jogos, o incentivou a abrir um canal na Twitch, algo que nem sequer conhecia ao certo, sabendo que estava apenas relacionado com jogos.
"Nos primeiros dias comecei a jogar e dei conta que foram aparecendo pessoas. Começava a conversar com elas e distraia-me nos jogos, passando o tempo a perder. Resolvi assim abandonar os jogos e dedicar-me em exclusivo às conversas."
“Nos primeiros dias comecei a jogar e dei conta que foram aparecendo pessoas. Começava a conversar com elas e distraia-me nos jogos, passando o tempo a perder. Resolvi assim abandonar os jogos e dedicar-me em exclusivo às conversas”. Foi então que começou a fazer streams de “reacts”, a ver coisas que gosta, como magia, espetáculos de variedades, etc. e a reagir aos conteúdos. “O pessoal começou a enviar-me vídeos para reagir”, até que um dia convidou a sua namorada, a atriz Teresa Monsanto, para fazer uma live conjunta. “Ao inicio ela não queria, mas depois gostou. A pouco a pouco começaram a surgir ideias, de fazer como um talk show com pessoas a ver.
O seu canal começou com o seu nome, tendo feito no dia 13 de fevereiro o seu primeiro ano. Mas com a presença assídua da sua companheira decidiu mudar o nome para The Blumels. “Ela domina completamento o conteúdo, decide o que vai entrar e eu gosto de ser surpreendido, pois nunca sei o que vou ver na stream”. Atualmente conta com um canal de Discord onde interage com os seus seguidores fora da stream. E também já têm merchandising, como canecas. Apesar do entusiasmo, agora que o trabalho começou a surgir, tem menos tempo para fazer streams, por causa dos espetáculos de ambos, mas as transmissões são para continuar, garante aos seus seguidores.
João Blümel diz que o seu público nos espetáculos enquadram-se na faixa etária de 25-40 anos, ainda que as pessoas mais novas também gostam. Na Twitch, um pouco pelo conteúdo que promove, tem um público mais jovem, na casa dos 20 a 30 anos, “também devido à plataforma ter um público mais novo. O mentalista ainda não teve a oportunidade de fazer nenhum espetáculo desde que começou com o canal na Twitch, por isso ainda não aferiu se as transmissões chamam mais público. Mas está expectante, considerando que vários seguidores manifestam interesse em assistir. Já a sua companheira já recebeu nos seus espetáculos algumas pessoas que os acompanham na Twitch. “Espero que as pessoas que nos acompanham na Twitch possam depois assistir aos meus espetáculos ao vivo”, embora o diga com pés assentes na terra, porque o seu canal é muito pequeno.
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