Nos últimos dias, têm chegado às redes sociais diversos relatos sobre a invasão russa de territórios ucranianos. Imagens e vídeos dão-nos uma ideia do que se passa no país, numa altura em que o conflito armado parece iminente e inevitável.
À medida que o conflito intensifica, são cada vez mais os investigadores que se dedicam a reunir e a partilhar estes registos nas suas próprias contas. No Twitter, contudo, os conteúdos parecem estar vedados, uma vez que a resposta da rede social tem passado por suspender estes perfis.
Kyle Glen dá conta de ter tido a sua conta suspensa por 12 horas, no passado dia 22 de fevereiro, bem como Oliver Alexander - este último por duas vezes no espaço de apenas um dia. A plataforma francófona, Neurone Intelligence, a espanhola, Mundo en Conflicto, e a brasileira, Notícias e Guerras, também foram afetadas.
Uma thread compilada por Nick Waters, analista da Bellingcat, uma plataforma de inteligência baseada em conteúdos open-source (OSINT), lista mais uma dezena de outras contas suspensas.
De acordo com o que tem sido partilhado por alguns destes investigadores, o Twitter tem justificado as suspensões com alegadas "violações das suas regras de conduta", embora não especifique quais dessas regras foram infringidas. Alguns dos envolvidos receiam que a decisão de desligar estas contas temporariamente esteja relacionada com uma campanha de denúncias para perturbar a atividade destas agências e investigadores.
Elizabeth Busby, porta-voz do Twitter, já comentou o caso. "Estamos a monitorizar, proativamente, a emergência de narrativas que violem as nossas regras de conduta e, neste caso, cometemos erros ao tomar medidas de fiscalização contra algumas contas", explicou, acrescentando que a empresa já está a "rever estas situações". Busby é peremptória em afirmar que as suspensões não foram o resultado de uma campanha de denúncias conduzida por bots, como foi sugerido.
Quando questionada pelo The Verge sobre que regras poderiam estar a ser violadas pela partilha deste conteúdo, Busby aludiu à política de conteúdos sintéticos e manipulados, sob a qual é proibida a partilha de imagens e vídeos "sintéticos, manipulados ou fora de contexto, que possam enganar ou confundir as pessoas e causar danos". A diretriz visa impedir a disseminação de informação falsa, mas a porta-voz não clarificou como é que os perfis visados infringiram a mesma.
Aric Toler, diretor de investigação da Bellingcat, considerou as suspensões surpreendentes, uma vez que várias contas de língua inglesa foram afetadas. Toler acrescenta que os erros são frequentes com contas mais pequenas, de outras línguas, dado que as equipas do Twitter não as dominam por completo, razão que não pode aqui ser evocada.
O caso levanta algumas suspeitas, uma vez que, no passado, a Rússia conduziu campanhas de desinformação junto de utilizadores ucranianos e foi por várias vezes acusada de utilizar as redes sociais como arma, provendo a disseminação de notícias falsas, especialmente durante o conflito que resultou na anexação da Crimeia, em 2014. Os apoiantes da Ucrânia estão preocupados que a suspensão de contas OSINT possa beneficiar os objetivos militares do Kremlin.
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