A OpenAI foi fundada em 2015 como uma entidade sem fins lucrativos mas a valorização da tecnologia de inteligência artificial e dos grandes modelos de linguagem (Large Language Models) do GPT garantiu um poder crescente, que aumentou depois da empresa ter anunciado ao mundo o ChatGPT em novembro de 2022.

A possibilidade de mudar o modelo da empresa estava a ser discutida há vários meses e tinha apoiantes mas também opositores, sendo o mais "notável" Elon Musk, que também fez parte do grupo inicial de investidores na OpenAI. O multimilionário chegou mesmo a avançar com uma proposta de compra da empresa para que esta mantivesse o propósito inicial.

Agora a OpenAI assumiu que vai manter o controle por parte da organização sem fins lucrativos. "Decidimos que a OpenAI não lucrativa (OpenAI Nonprofit) ia continuar a controlar depois de ouvirmos líderes cívicos e termos tido conversas com os procuradores-gerais (dos Estados) da Califórnia e do Delaware", afirmou o presidente executivo da empresa, Sam Altman, em carta aos trabalhadores.

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Sam Altman e o presidente da administração da OpenAI Nonprofit, Bret Taylor, informaram que a administração decidiu que esta mantivesse o controlo da OpenAI.

A OpenAI já tem um ramo comercial, mas este deve ser convertido em uma empresa de interesse publico (public benefit corporation), "que tem de considerar os interesses tanto dos acionistas como a sua missão", disse Bret Taylor.

Contudo, declinou na segunda-feira avançar qual seria a dimensão da participação que a OpenAI Nonprofit teria na nova empresa de interesse público.

Este tipo de empresa foi criado no Delaware em 2013. Outros Estados adotaram a mesma lei ou similares, a quais requerem que as empresas visem a obtenção de lucros, mas também a prestação de um serviço público. As empresas que assumem este estatuto, exemplificadas pelo Amalgamated Bank e pela plataforma de formação em linha Coursera, têm de definir este bem social.

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Sam Altman adiantou que passar de uma empresa com responsabilidade limitada para uma de interesse público "configura uma estrutura mais compreensível para fazer as coisas que uma empresa da nossa dimensão tem de fazer".

Adiantou também que "há muito mais procura para usar os instrumentos da IA do que pensávamos que ia haver".

Obter acesso a mais capital facilitaria a OpenAI a fazer fusões e aquisições "e outras coisas normais que as empresas fazem", acentuou Sam Altman. Porém, contrapôs, se a OpenAI fosse "uma empresa normal", seria "mais fácil" obter financiamentos, mas, dada a sua missão, "não queremos ser uma empresa normal e acreditamos que isto está bem acima do limiar necessário para obter fundos".

Como destacou o fundador da empresa, "existem muitos investidores que pensam que a OpenAI é um grande negócio, mas não querem saber ou não apreciam a nossa missão e, sabem?, estamos felizes por não ter o dinheiro deles".

Os cofundadores da OpenAI, incluindo Altman e Elon Musk, começaram o projeto como um laboratório de investigação não-lucrativo, com a missão de construir, de forma segura, a inteligência artificial geral (AGI), para benefício da humanidade.

Uma década depois, a OpenAI reporta um valor de mercado de 300 mil milhões de dólares e tem 400 milhões de utilizadores semanais do produto emblemático, o ChatGPT.

A OpenAI revelou no ano passado planos para alterar a sua estrutura, mas enfrentou um conjunto de problemas. Um foi um processo judicial, apresentado por Elon Musk, que acusa a empresa e Altman de traírem os princípios fundadores. Um juiz federal na semana passada rejeitou algumas das queixas de Musk, mas aceitou outras, que vão seguir para julgamento a decorrer em 2026á

Por outro lado, também a justiça na Califórnia, onde a OpenAI tem a sua base principal, em San Francisco, e no Delaware, onde está sedeada, a escrutina.

O procurador-geral da Califórnia disse, em comunicado, que está a analisar o plano da empresa, que está a ser "um assunto em progressão, com conversações permanentes com a OpenAI".

Vários advogados, incluindo de antigos empregados e outas entidades não lucrativas, solicitaram ao procurador-geral da Califórnia, Rob Bonta, e à do Delaware, Kathy Jennings, que usem a autoridade que têm para proteger o caráter de interesse público da OpenAI e bloqueiem a sua reestruturação.

Alguns estão preocupados se o fabricante do ChatGPT cumprir a sua ambição de construir uma IA que supere os humanos, e deixar de ser responsável pela sua missão pública de impedir que a tecnologia cause danos à humanidade.

(com agências)