A Duolingo é uma das aplicações mais populares do mundo para aprender línguas, com 40 milhões de utilizadores ativos diariamente e 8,6 milhões de subscritores pagos, segundo dados oficiais de 2024. Nas redes sociais é um sucesso - ou pelo menos era - com 16,7 milhões de seguidores no TikTok, graças a uma presença ativa e um histórico de campanhas bem-sucedidas.

Nas últimas semanas, um anúncio do CEO da empresa mudou a boa relação da companhia com os seguidores. Luis von Ahn anunciou que a tecnológica vai adotar uma estratégia de AI First. Ou seja, vai começar a trocar humanos por tecnologia em todas as funções onde isso for possível.

O plano é só autorizar a contratação de humanos para tarefas que a IA ainda não consiga assegurar e tem sido explicado em entrevistas onde o responsável tem deixado clara a sua visão sobre o tema. O gestor tem defendido que a IA terá cada vez mais condições para substituir humanos em várias tarefas na área da educação.

A notícia foi aplaudida pelos investidores da empresa e odiada pelos seguidores nas redes sociais. Deu origem a uma avalanche de críticas e comentários negativos, que a Duolingo aparentemente deixou de conseguir gerir e por isso tomou uma decisão drástica: apagar todas as publicações no TikTok e no Instagram.

Esta quarta-feira a Duolingo voltou a fazer uma publicação online. Um vídeo colocado no perfil de ambas as redes sociais mostra alguém de cara tapada, com uma máscara da famosa mascote verde da empresa, numa comunicação ao estilo Anonymous, que parece ter intenção de trazer algum humor à questão, sem grande sucesso.

A pessoa que fala no vídeo é supostamente um membro da equipa de social media da Duolingo, a relatar aquilo que terá sido uma revolta interna da qual resultou uma publicação sobre IA, que abalou a empresa e que serviu para mostrar o poder da equipa para desestabilizar a companhia, se não for reconhecida pelo seu trabalho.

Os comentários, mais de 45 mil nesta altura, continuam na maioria a ser negativos e a criticar a Duolingo por dar a entender com este tipo de comunicação, que os seguidores que a “cancelaram” na internet têm uma visão superficial do tema. Frisa-se que a brincadeira não faz esquecer que a companhia mantém uma estratégia de trocar cada vez mais humanos por IA e que cada seguidor ou cliente pode ter uma palavra a dizer sobre isso, manifestando o seu descontentamento ou, como alguns dizem ter feito, deixando de usar os serviços da empresa.

Não se pode dizer que, antes deste anúncio, a vida corresse mal à Duolingo, que fechou o ano com uma faturação de 748 milhões de dólares, mais 41% que no ano anterior e a ações a valerem mais do que nunca, numa escalada que se prolongou nos últimos meses. Na semana passada os títulos chegaram aos 530 dólares.

Este caminho tem sido feito já com alguma aposta na IA, que já tinha merecido críticas, porque é visto como uma das causas para o despedimento de 10% da força de trabalho, anunciado em 2023. Na altura a reação foi moderada porque o anúncio e o seu impacto também foram mais discretos. Agora, as ondas de choque da estratégia da empresa parecem ainda não ter acabado.