O Atlas do Sector dos Videojogos em Portugal indica que em 2020 estavam integrados em grupos internacionais cerca de 7% dos estúdios a operar em Portugal. Nos últimos anos há alguns exemplos de projetos nacionais que foram adquiridos por empresas internacionais, caso da ZPX, que passou a fazer parte da norueguesa Funcom. Há também vários exemplos de empresas internacionais que montaram estúdios em Portugal, hoje com um papel importante nas suas operações globais, caso da Miniclip, uma das primeiras multinacionais de jogos a vir para Portugal.
O grupo com sede na Suíça chegou a Portugal em 2010. Neste momento é a partir de cá que desenvolve alguns dos seus jogos mais importantes, incluindo o 8 Ball Pool, Agar.io, Carrom Pool e Soccer Stars, explica Marius Manolache, Chief Operating Officer da multinacional. Há também um número significativo de colaboradores a trabalhar nas áreas de operações, tecnologia, machine learning, segurança, infraestrutura cloud, marketing e apoio ao cliente.
De referir que 8 Ball Pool se transformou no maior êxito da Miniclip e no ano passado foi mesmo distinguido pelo Guiness com o título do Pool Game para mobile mais descarregado. Não admira por isso, que Marius Manolache eleja o crescimento do jogo como um dos marcos mais importantes na história da operação local.
8 Ball Pool está a completar 10 anos. Começou ainda como um jogo em flash disponível através do site da Miniclip. Foi adaptado para mobile em 2013 e um ano depois já era o título mais descarregado dentro do género. Continua a ser uma aposta forte da empresa, que diz ter um roadmap detalhado de novas funcionalidades para lançar, continuando a fazer evoluir o título.
Marius Manolache recorda que a unidade portuguesa da Miniclip teve um papel central quando a empresa começou a fazer a transição de web para mobile, em 2010.
“Embora [Portugal] possa não ter sido a escolha óbvia na altura, ter acesso a profissionais altamente qualificados na área da engenharia era a nossa prioridade chave, que levou a uma enorme oportunidade de crescimento e que 10 anos mais tarde está mais que compensada”.
Hoje, o escritório de português é o maior do grupo em número de colaboradores. Marius Manolache reconhece que há alguma dificuldade em encontrar recursos mais especializados no mercado, que vai sendo colmatada com a contração e formação interna de profissionais com outro tipo de background. Ainda assim, o responsável prefere dar destaque à qualidade do sistema de ensino português, de onde têm saído muitos jovens que tiveram na Miniclip o seu primeiro emprego e foram crescendo com o próprio projeto. Esta relação com o sistema de ensino é também alimentada por várias parcerias com universidades.
A Miniclip conta neste momento com uma equipa local de 313 colaboradores. Para 2022 estão previstas mais 35 contratações. Os próximos “Miniclippers” vão trabalhar nas novas instalações da empresa no Taguspark , em Oeiras (na foto), e remotamente. As novas instalações estão em fase de conclusão e, como foi revelado à data do anúncio, representam um investimento de 11 milhões de euros, num espaço desenhado de raiz para a empresa.
A Miniclip tem crescido em ritmo acelerado nos últimos três anos, também cá, onde a equipa aumentou 50% só nesse período. Esta é uma expansão que acontece também por conta de um conjunto de aquisições recentes, onde se incluem a compra da SuperSonic Software (agora Puzzling.com), Greenhorse Games ou Gamebasics. A nível global, a empresa triplicou o número total de colaboradores desde 2019.
Marmalade responde a projetos locais e internacionais a partir de Lisboa
A Marmalade é outro dos estúdios internacionais com presença em Portugal. Posiciona-se como um player de High-Quality Branded Premium Digital Boardgames, um estúdio focado na “transformação de jogos de tabuleiro conhecidos, com IPs estabelecidos no mercado, em experiências digitais de elevada qualidade e com melhorias a nível de gameplay”, como explica Cristiana Serra, a responsável pela operação de Lisboa.
A equipa atual tem 28 pessoas, com planos para chegar em breve às 30, que desenvolvem para plataformas mobile, mas também para consolas e PC. É integrada por marketing designers, programadores, artistas 2D, 3D e UI/UX, quality assurance testers, game designers e produtores, numa lógica multidisciplinar que permite abarcar todas as fases de um projeto.
Quem está em Lisboa tanto pode trabalhar em projetos alocados ao estúdio local, como ao estúdio de Londres, porque a lógica de funcionamento da empresa assenta em tirar partido da sua pool de recursos, sem fazer distinção geográfica.
Nos sete anos do estúdio da Marmalade em Portugal, Cristiana Serra aponta como um dos marcos importantes o lançamento do The Game Of Life, em 2016, que foi o primeiro produto depois de uma reestruturação profunda no posicionamento da Marmalade, até então muito focada na sua própria plataforma de desenvolvimento de jogos.
Este ano, o estúdio de Lisboa vai estar focado em “expandir sobre o sucesso dos jogos mais recentes que lançámos para o mercado, ao mesmo tempo que trabalhamos em vários novos projetos pelos quais estamos muito entusiasmados”, assegura Cristiana. Taboo, Jumanji: The Curse Returns, Jigsaw Video Party ou Monopoly Sudoku são alguns dos jogos lançados pela Marmalade para iOS e Android.
A responsável explica ainda que a divisão de Lisboa da Marmalade nasceu da oportunidade de absorver uma equipa já com experiência nos videojogos, sete pessoas na altura, que já tinham trabalhado com a empresa em regime de work-for-hire, através de outra empresa portuguesa.
Lockwood já reforçou competências do estúdio em Portugal
A equipa fundadora da Marmalade Lisboa tinha passado antes, por exemplo, pela Biodroid, estúdio português que acabou por desaparecer e por onde também passou Ricardo Flores, agora diretor da filial portuguesa de outro estúdio britânico, a Lockwood Publishing. O projeto chegou a Portugal quase ao mesmo tempo que a pandemia. Começou a operar em março de 2020 e, mesmo com a turbulência que se seguiu, tem feito o seu caminho e já ganhou novas competências. Hoje integra já 32 pessoas e movimenta cerca de 300 mil euros mensalmente.
Ricardo Flores explica que o estúdio da capital portuguesa é já bastante completo e que por cá se faz um pouco de tudo. “O estúdio de Lisboa nasceu para desenvolver toda a parte de música e eventos - concertos virtuais, espaços para marcas [de Akin Avatar] e esse foi o foco no primeiro ano”.
A partir do verão do ano passado deixou de estar focado só nesse segmento, para entrar em todas as áreas de conteúdo. “Muita da gestão do dia a dia hoje passa já por cá, do ponto de vista de conteúdos, definição dos conteúdos que vão para o jogo, como monetizar, desenvolvimento de negócio, mas também o trabalho para encontrar novas marcas e novas parcerias”.
Akin Avatar é o principal jogo da Lockwood, um mundo virtual 3D onde o jogador se faz representar por um Avatar personalizável e assume uma identidade virtual. Tem 200 milhões de utilizadores registados e sete milhões de utilizadores ativos mensalmente, com versões para Android, iOS e Amazon App Store.
Além de Lisboa, a Lockwood distribui-se por Newcastle, onde tem a área de investigação e desenvolvimento, Nottingham, onde é feita a gestão do videojogo e Lituânia onde está a parte de backoffice. Por cá, os planos para este ano passam por aumentar a equipa, para trazer mais operações do jogo para Portugal e por preparar o estúdio para acolher novos projetos.
Trazer a Lockwood para Portugal foi uma decisão que surgiu na sequência de uma ronda de financiamento da empresa que permitiu acomodar os planos de expansão para uma nova geografia no sul da Europa, de modo a poder reforçar a capacidade de fazer evoluir e crescer o jogo. Pouco tempo depois de estar em Portugal a empresa fechou mais uma ronda de investimento: 25 milhões de dólares que fizeram do gigante chinês Tencent um dos principais investidores.
A favor de Portugal na decisão estiveram aspetos como a disponibilidade de mão-de-obra, com as mesmas nuances que Miniclip e Marmalade também identificaram. “Claro que se quisermos pessoas com mais experiência estamos um pouco mais aflitos, mas não se compara com o que acontece em Espanha ou na Alemanha”, admite Ricardo Flores, acrescentando que “isso está a tornar Portugal apetecível para vários estúdios estrangeiros, que olham para cá e que pensam em adquirir ou instalar-se cá com operações próprias”.
No caso da Lockwood o recrutamento de artistas ou programadores que vêm de outras áreas é habitual e tem resolvido as necessidades que surgem. A adaptação ao universo dos videojogos faz-se depois dentro de portas.
Este artigo faz parte do especial Desenvolver jogos em Portugal: Quem, como e para onde?
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