Portugal está na 28ª posição entre os 100 melhores países no ecossistema empreendedor, tem 7 unicórnios, embora seis com sede fora do país, 3.880 startups e scalups, com uma avaliação de 34,7 mil milhões de euros e mais de 69,1 mil empregos gerados em startups.
Em 2022 o investimento de capital levantado por empresas portuguesas foi de 421 milhões de euros mas apesar dos números positivos há indicadores para uma estagnação em algumas áreas e de sinais de alerta, como o facto de mais de 30% de empreendedores não considerarem Portugal um bom destino para fixarem os seus negócios, apontando várias críticas às condições existentes, nomeadamente em termos fiscais e de burocracia.
Os números fazem parte da segunda edição do estudo Building a Scalup Nation, que hoje foi apresentado pela Startup Portugal ao Conselho estratégico numa reunião que decorre durante a manhã em Lisboa. O estudo foi desenvolvido com a IDC Portugal, fazendo o retrato do ecossistema empreendedor em Portugal e reunindo dados de várias fontes, conjugados com inquéritos realizados aos empreendedores que fixaram em Portugal as suas startups.
Gabriel Coimbra, diretor geral da IDC Portugal, destacou os vários dados recolhidos e lembrou que nos últimos 10 anos Portugal beneficiou de “um crescimento brutal do nosso ecossistema com dinâmica enorme de novas startups e unicórnios e também talento e conhecimento”. Os pontos fortes destacados, em especial o bom posicionamento em termos de talento, foram sublinhados, mas os dados do estudo revelam também que há obstáculos reconhecidos, com 71% dos empreendedores a apontarem as questões de fiscalidade como um elemento que precisa de mudanças, indicando ainda problemas com levantamento de capital e a burocracia existente.
“50% dos inquiridos falam também da regulação específica para startups e a burocracia ainda elevada”, adianta ainda o diretor geral da IDC Portugal, referindo que apesar de haver muitos programas de apoio nem o processo é rápido para atrair mais investidores e empreendedores.
O responsável pela consultora sublinha ainda que há trabalho ainda a fazer para posicionar Portugal como hub para atrai mais empreendedores e investimento e no aspecto da fiscalidade de forma transversal, para criar condições para mercados mais disruptivos, como as fintech, e ter condições fiscais para que sejam competitivas em Portugal.
Veja nas imagens mais dados do estudo Building a Scalup Nation
No comentário ao estudo, António Dias Martins, diretor executivo da Startup Portugal, defende que alguns dos indicadores são preocupantes e que Portugal está a recuar em áreas onde já esteve melhor posicionado. Algumas áreas foram já alvo de análise e sugestão de melhorias no pacote de medidas proposto ao Governo, nomeadamente na forma de fazer negócio e na interação com a Administração Pública.
“Não podemos estar à sombra de uma boa primeira vaga que tivemos entre 2016 e 2020. Foi interessante, deu visibilidade e um bom vibe, mas temos de continuar a olhar para a frente”, sublinha António Dias Martins, defendendo que é preciso “lançar um nova vaga de medidas”.
“Este mercado é concorrencial, temos de olhar para a frente e ter medidas que permitam ser competitivos nessa matéria”, justifica, lembrando que os outros países também se estão a posicionar nesta área.
Também Manuel Caldeira Cabral diz que o Conselho Estratégico está a olhar para as medidas e boas práticas internacionais mas que “não há uma silver bullet”. Para o empreendedor as startups dependem do ecossistema e precisam de medidas na área do capital, da desmaterialização de processos e ter capacidade de atrair imigrantes, entre outras. “Para algumas [startups] a questão chave é uma destas e para outras pode ser a combinação de três, para o ecossistema são todas”, sublinha. Por isso é preciso trabalhar num conjunto de medidas em várias áreas, porque é isso que vai tornar Portugal mais competitivo.
Ainda assim destaca também que “não basta fazer medidas, é preciso implementá-las e garantir que os serviços aderem”, lembrando que foram criados os startup visa mas que depois uma instituição como o SEF não os aplica e torna-se um ponto de bloqueio.
Durante a apresentação do estudo ao Conselho Estratégico foram feitas algumas críticas também aos dados de investimento de capital referidos e à forma como são consideradas as startups, algumas das quais não são portuguesas, informação que foi obtida através da Dealroom. António Dias Martins reconhece que há trabalho a fazer para ter indicadores mais fiáveis e diz que a Startup Portugal está a desenvolver uma ferramenta de mapeamento do ecossistema de startups que deve estar pronta em 2023 e que pode trazer mais clareza nesta área.
Já está disponível uma versão resumida do estudo Building a Scalup Nation que pode ser descarregada do site
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