Quem passeia ou se desloca em trabalho pela cidade do Porto nem dá conta, mas centenas de sensores estão instalados por toda a cidade para recolher diferentes tipos de dados, anonimizados, que são hoje vitais para ajudar o município a tomar decisões. São determinantes na gestão da ocupação e distribuição da rede de autocarros da cidade. Ajudam a monitorizar dados meteorológicos e zonas mais sensíveis da cidade, para que a Proteção Civil possa identificar rapidamente áreas de intervenção urgente, por exemplo, quando há inundações na zona da baixa da cidade. Os sensores são usados também na gestão de outras áreas da vida da cidade, como a otimização de rotas de recolha e tratamento de resíduos.
Estas e outras tecnologias e aplicações ajudam a pôr no terreno a estratégia de Smart City do Porto, que tem vários anos e que assenta numa infraestrutura robusta, que foi a base para um conjunto de projetos que vieram a seguir. Como refere Filipe Araújo, vice-presidente da autarquia, que é também o vereador responsável pelo Pelouro do Ambiente e Transição Climática e pelo Pelouro da Inovação e Transição Digital, “o Porto foi vanguardista na implementação de uma robusta infraestrutura tecnológica, que permite entender as necessidades e tendências da evolução urbana”. Começou com a implementação de uma rede fibra ótica, que por um lado permite o acesso a serviços de internet e televisão em todos os edifícios municipais e nos bairros sociais, e por outro garante acesso a Wi-Fi em diversos pontos da cidade.
Em cima desta infraestrutura tem havido a preocupação de digitalizar vários processos, incluindo aqueles que se relacionam com o Gabinete do Munícipe, “para aliviar o esforço administrativo associado à resolução das questões colocadas pelas cidadãos”, e de lançar serviços que ajudem quem mora ou visita a cidade a tirar o melhor partido dela.
O cartão Porto, por exemplo, permite receber notificações e alertas no telemóvel sobre ocorrências relacionadas com a mobilidade, ou a segurança, na zona de residência de cada munícipe. O mesmo cartão dá acesso a serviços e experiências gratuitas, ou com desconto, na cidade.
O Explore Porto, um serviço digital que promove a mobilidade dentro da cidade, fruto também do trabalho prévio de digitalização, dá informação em tempo real sobre a melhor forma de deslocação entre dois locais na cidade e sugestões de pontos de interesse no trajeto. Por toda a cidade há pontos “beacons”, a partir dos quais é possível ativar o serviço. Basta apontar o telemóvel para um deles (usando NFC ou um código QR) e acede-se a informação sobre o local da cidade onde se está naquele momento.
Os diferentes dados digitais que a cidade consegue gerar, como a informação recolhida pelos sensores, convergem hoje para uma plataforma urbana, que os órgãos dirigentes usam para tomar decisões.
Tirar mais e melhor partido destes dados é a grande prioridade atual da estratégia portuense, orientada agora para “o desenvolvimento de um Centro de Gestão Integrada de Segunda Geração, baseado no conceito de gémeo digital (digital-twin)”.
O que se pretende, explica Filipe Araújo é sobretudo “potenciar a operação coordenada da cidade, melhorando a informação em tempo real e preditiva, numa lógica de promoção do conceito de data driven decision making”.
Este Centro de Gestão Integrada de segunda geração deverá ainda ser suportado pelo reforço do investimento na infraestrutura de sensorização da cidade, assim como na infraestrutura de câmaras de monitorização de tráfego (CCTV), que está a evoluir no sentido de criar novos serviços de vídeo proteção, em conjunto com a Polícia de Segurança Pública.
Lisboa Inteligente integra 3 milhões de registos diários
Potenciar dados é também já o grande foco em Lisboa, que criou a Plataforma de Gestão Inteligente de Lisboa para integrar e disponibilizar os dados que a cidade está a recolher das mais diversas fontes. “Temos hoje uma aposta clara na normalização e garantia da qualidade dos dados que são gerados pelos seus serviços e parceiros e que estão à disposição de quem vive, trabalha ou visita a cidade”, frisa Ângelo Pereira, vereador da autarquia.
A plataforma integra já cerca de 3 milhões de registos diários sobre os mais diferentes temas e dimensões de vida da cidade. Contam-se aí dados que permitem identificar ocorrências na cidade, como acidentes rodoviários, parâmetros de qualidade do ar, meteorologia, dinâmica do estado do trânsito, parques de estacionamento, GIRAS, localização de viaturas, tráfego, dados anonimizados sobre dispositivos móveis nacionais e em roaming, entre outros.
Toda esta informação alimenta um serviço prestado pela plataforma, a quem está dentro e fora da esfera da autarquia, através da App Lisboa.24, que conta já com 6.000 utilizadores, e do Portal Lisboa Aberta.
Espelho da política de dados abertos seguida pela autarquia há vários anos, o Portal Lisboa Aberta disponibiliza neste momento 370 conjuntos de dados, provenientes de 19 entidades. “Todos eles disponíveis para utilização aberta e livre para melhor cumprirem os fins de quem os procura, sejam investigadores, empresas, ou outras entidades públicas”, como refere Ângelo Pereira.
A Plataforma que está a montante, pela capacidade de integrar, disponibilizar e permitir a análise de dados em tempo real é um passo importante na estratégia de criar uma cidade mais inteligente e sustentável, frisa o mesmo responsável, explicando que serviços críticos como a Polícia Municipal de Lisboa ou o Serviço Municipal de Proteção Civil já fazem parte da gestão das suas operações diárias com base nos dados disponibilizados na plataforma e o mesmo recurso é usado no apoio à decisão por outros serviços da autarquia.
Ainda assim, a CML reconhece que continua a haver um “caminho desafiante” a percorrer para poder tirar o máximo e o melhor dos dados disponíveis. Isso passará por continuar a apostar na melhoria de processos, na otimização de recursos tecnológicos, no alinhamento com os requisitos do RGPD e na aposta em cibersegurança.
“É neste alinhamento entre processos, aplicações e dados que estamos a preparar a evolução de todo o ecossistema de utilização de Sistemas de Informação”, detalha Ângelo Pereira. Objetivo: garantir um acesso cada vez maior a informações em tempo real, ou tão imediatas e atuais quanto for possível.
O foco da estratégia de Lisboa vai por isso continuar a passar pela sustentabilidade e qualidade dos dados, não só com a preocupação de integrar outras áreas neste universo, “mas também de criar condições para uma aposta na inteligência artificial, por exemplo, com algoritmos de exploração, para que possamos aprender com os dados que já temos e melhorar previsões e tendências”.
Porto e Lisboa destacam a importância, para a evolução das respectivas estratégias de implementação do conceito de Smart City, de manter espaço aberto para a experimentação, interna e com parceiros.
“É fundamental apostar na capacitação das pessoas, na sua formação, mas é também muito importante desenvolver espaços para a experimentação, para a prototipagem rápida, para que todos em conjunto possam testar, errar, e repetir”.
“Sem estes espaços de experimentação, que têm de ser 360, centrados nas pessoas, envolvendo os cidadãos e todos os técnicos municipais, será sempre muito complexo avaliar o impacto das ferramentas, reduzindo riscos de investimento, por exemplo”, defende Filipe Araújo.
Em Lisboa, sublinha-se o papel do Laboratório de Dados Urbanos de Lisboa, neste contexto de experimentação. A iniciativa resulta de uma parceria entre a Câmara Municipal de Lisboa e 13 instituições de ensino superior e instituições de investigação, com as quais são partilhados desafios de analítica de dados relevantes para a cidade. Os alunos respondem a estes desafios e apresentam os resultados aos serviços municipais, uma colaboração que tem permitido desenvolver “trabalhos relevantes para os serviços e testar soluções de analítica que em fases posteriores podem entrar em produção”, admite Ângelo Pereira.
Também o Porto frisa o empenho em posicionar-se como "laboratório vivo", incentivando e acolhendo os projetos que queiram tirar partido dos dados abertos que o município recolhe a disponibiliza.
As duas autarquias enfatizam ainda outros dois aspetos, que consideram centrais para o sucesso das iniciativas de transformação que têm vindo a conduzir. O “alinhamento claro com os princípios estratégicos que definimos”, como defende Ângelo Pereira e a importância de manter a sintonia com as melhores práticas nacionais e internacionais. O alinhamento dos projetos com as várias iniciativas europeias, nas áreas relacionadas com as cidades e comunidades inteligentes, é visto como fundamental “para a avaliação e melhoria contínua do trabalho desenvolvido”, como acrescenta Filipe Araújo.
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