Em outubro, a FIL acolheu a mais recente edição do Portugal Smart Cities Summit, que este ano viu aumentado em 50% o espaço de exposição. Em novembro, Portugal marcou pela primeira vez presença no Smart Cities Expo World Congress em Barcelona com um espaço próprio, onde estiveram 50 entidades entre empresas e autarquias, que ali demonstraram soluções e casos de sucesso. Os dois eventos refletem a dinâmica de um sector que tem vindo a crescer, embora ainda seja difícil de quantificar. Em 2019, quando foi apresentado o Cluster Smart Cities Portugal referia-se que o sector integrava 2 mil postos de trabalho e gerava uma faturação anual de 113,9 milhões de euros.
O cluster aparentemente ficou pelo caminho (nem o IAPMEI nem o CEiiA, que à data promoviam a iniciativa, responderam a questões sobre o tema), mas os projetos continuam a chegar ao terreno. São já promovidas por um leque alargado de empresas, que ajudam as cidades a definir estratégias e a preparar sistemas, primeiro para a digitalização, e mais tarde para tirarem partido de todos os dados gerados e geridos. Proliferam as soluções que permitem melhorar a eficiência energética, gerir melhor recursos ou promover a mobilidade. Assim como aquelas que aplicam tecnologias inovadoras, como a inteligência artificial ou a realidade virtual, para responder aos desafios das cidades, ou as soluções que fornecem ferramentas para simplificar a gestão operacional do dia a dia e planear decisões.
A Focus BC trabalha desde que foi fundada, em 2012, nesta área das Smart Cities. Chega ao final de 2022 com presença em 20 autarquias e empresas municipais, entre soluções que cobrem áreas como a mobilidade, turismo, ambiente, economia, proteção civil, urbanismo ou planeamento estratégico e com uma plataforma para integrar todos esses dados.
Uma das âncoras da oferta da empresa neste mercado é a City as a Platform “uma plataforma de inteligência urbana e territorial, potenciada pela Google Cloud e pelo Google Maps, que permite criar uma visão integrada e em tempo real sobre o território”, explica Vasco Pinheiro, Managing Partner da Focus BC.
A solução foi criada para dar suporte à tomada de decisões, que possam contribuir para melhorar a eficiência dos serviços, reduzir os custos operacionais e facilitar a comunicação com o cidadão. Integra várias soluções que, individualmente ou em conjunto, endereçam diferentes desafios da gestão de uma cidade ou de um território.
“A plataforma City as a Platform e as soluções que disponibilizamos são utilizadas na gestão do dia-a-dia de um território a um nível mais operacional, muitas vezes com recurso a salas de operações; a um nível tático, relacionado com o planeamento do território; mas também a um nível mais estratégico, no suporte à implementação de políticas públicas”, acrescenta Vasco Pinheiro.
Plataformas de inteligência urbana ganham destaque
A Ubiwhere aborda o mesmo mercado, também com soluções que respondem a necessidades específicas, como a recolha de resíduos urbanos - com uma solução adaptável a sistemas de recolha seletiva, de indiferenciados e biorresíduos - ou a gestão inteligente de estacionamento, com uma solução que sensoriza os lugares disponíveis nas áreas designadas para estacionamento.
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Mas a estrela da oferta é também aqui uma plataforma de inteligência urbana.Uma ferramenta de software que permite integrar e harmonizar “qualquer tipo de dados digitais da cidade”, para uma visão unificada e transversal, ao alcance de um mesmo ecrã, das várias dinâmicas da cidade. Como explica a empresa, “saber que a cidade tem muito trânsito é bom, mas poder tirar conclusões sobre as causas e consequências da cidade ter muito trânsito e atuar sobre isso é muito melhor”.
Este tipo de plataformas permite centralizar a recolha e tratamento de dados para um mesmo local e facilitando a aplicação de mecanismos que ajudam a compreender as interrelações entre os diferentes dados que ali chegam. São o passo lógico na evolução dos projetos que começam por abordar temas específicos, mas que a determinado ponto querem fazer convergir esses dados para uma plataforma comum, com as vantagens que daí podem resultar.
A tecnologia da Ubiwhere é usada em cidades como Guimarães, que recorre ao software para medir a sua performance ao nível da sustentabilidade e transição verde, e para monitorizar a implementação da estratégia de políticas públicas locais nessa área. O projeto foi já considerado uma boa prática pela Comissão Europeia.
A tecnologia está também a ser usada na Província de Granada, em Espanha, para traçar o perfil de turista que visita a região. “Vai agregar e harmonizar os dados que o visitante deixa por onde passa (welcome centers, por exemplo) para permitir compreender as suas características, preferências e expectativas” e ajudar a região a alinhar a oferta turística.
A tecnologia da Focus BC é usada por exemplo em Famalicão e Lisboa. Em Famalicão, a “solução implementada integra dados de diferentes fontes, internas e externas ao município, ajudando na tomada de decisão e fortalecendo a relação com o cidadão”.
“Com Lisboa, temos feito múltiplos projetos nas diferentes áreas do domínio público, sendo um deles um catálogo de dados relativos às cheias. O propósito do projeto é conseguir estabelecer relações de causa e efeito, permitindo prever possíveis situações de cheias no futuro”, explica Vasco Pinheiro.
Realidade mista e dados em tempo real
Multinacionais com presença em Portugal como a Kyndryl, spin-off do negócio de gestão de infraestruturas da IBM, estão também a endereçar este mercado.
“Em Portugal, o mercado das Smart Cities deixou claramente de ser uma tendência, assumindo-se como uma realidade estruturada com um peso e força cada vez maiores”, diz João Carvalho, head of sales, business development & alliances da Kyndryl Portugal.
“É um mercado no qual nos temos vindo a posicionar há uns anos, por via do trabalho que estava a ser desenvolvido ainda antes do spin-off, e no qual temos já projetos em curso em alguns municípios do país, com resultados bastante interessantes”. A Kyndryl diz que posiciona estas soluções não só para Câmaras Municipais, como para todo o ecossistema de organizações relacionadas com o poder local, como sejam associações de municípios, comunidades intermunicipais, áreas metropolitanas, comissões de coordenação e desenvolvimento municipal, ou não estivessem já muitos projetos a ser discutidos num âmbito mais abrangente que o das fronteiras administrativas de cada território.
Há na oferta soluções para a gestão de estacionamento, otimização de rotas na recolha de resíduos, gestão da iluminação pública, medição da qualidade do ar, leitura inteligente de contadores de água, ou sistemas de gestão de mobilidade integrados. Algumas desenvolvidas a partir do centro de competências local.
Na última edição do Portugal Smart Cities Summit. A Kyndryl mostrou também na FIL a XRaaS, uma nova plataforma de Realidade Estendida como Serviço, que “poderá contribuir para a criação de experiências virtuais imersivas de rápida implementação, para o treino e aprendizagem de protocolos, capacidades e resposta rápida”, exemplifica a empresa.
No mesmo evento esteve a NOS, que anunciou nos últimos meses vários projetos com autarquias e que também aproveitou o Portugal Smart Cities em outubro para mostrar muitas das soluções que tem vindo a implementar para otimizar recursos (consumo de água ou energia), deteção de incêndios, experiências interactivas, inspeção de infraestruturas, videovigilância com recurso a tecnologias de computer vision, análise e gestão centralizada de dados. Pombal, Loulé, Barreiro, Famalicão ou Seixal são algumas das cidades que estão a usar estas soluções.
Os concorrentes Altice e Vodafone também estão a olhar para este mercado, ou não fosse o 5G e as comunicações de um modo geral, uma peça indispensável numa cidade inteligente, capaz de recolher e trabalhar dados.
Dados dos telemóveis no apoio à gestão das cidades
Mafalda Alves Dias, diretora de Grandes Contas e Setor Público na Vodafone Portugal, explica que as soluções da empresa para esta área estão orientadas em três eixos principais: mobilidade, digitalização e sustentabilidade. Nesta última cabem por exemplo soluções de gestão da água que permitem regar só quando não chove, ou sistemas de iluminação pública, que ajustam a intensidade ao movimento.
Na componente da digitalização destacam-se soluções com RV e RA para museus e na área da mobilidade a operadora sublinha uma solução de analítica, que usa os dados de registo dos telemóveis nas antenas da empresa, para identificar padrões de mobilidade ou zonas congestionadas.
Este tipo de solução, que os três operadores exploram, podem ajudar as cidades a compreender em tempo real o impacto de um acontecimento, como um grande evento ou um fenómeno atmosférico, e apoiar decisões como o redirecionar tráfego ou a alocação de mais recursos para determinado local. Também são úteis para monitorizar fluxos no dia-a-dia e planear decisões de investimento.
A oferta da Altice Empresas para esta área segue pelas mesmas linhas, com soluções para gestão de estacionamento, frotas ou resíduos, telemetria de água, eficiência energética, monitorização ambiental, entre outras. Vila Franca de Xira, Almada, Mafra, São João da Madeira ou Loulé são algumas das autarquias onde a operadora tem projetos.
Na área da mobilidade estão também a trabalhar várias empresas, como a Armis ITS focada no desenvolvimento de soluções inteligentes para a área dos transportes, que integrem infraestruturas, veículos, condutores e passageiros.
Os serviços da empresa vão desde a definição de estratégias, desenho de processos, definição de arquitetura, até à implementação de soluções para Sistemas de Transporte Inteligentes, ITS, na sigla em inglês. O foco está num dos temas que continuará a ser um dos grandes desafios que se colocam às cidades inteligentes nesta área da mobilidade: permitir a articulação e interação entre diversos sistemas de suporte ao transporte e à mobilidade.
A Armis tem já três produtos no mercado. O Drive, para a gestão inteligente de mobilidade tráfego, usada em Portugal pela Ascendi e o Open Roads, um produto dedicado à supervisão de ativos e contratos de concessões rodoviárias, implementado no IMT e na Infraestruturas de Portugal. Já o Next está focado na previsão de tráfego, simulação de eventos e planeamento da mobilidade e está implementado na Câmara Municipal do Porto.
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