Depois do seu anúncio oficial em junho deste ano, a Libra tem vindo a ser alvo de duras críticas e ainda nem sequer foi lançada. Desta vez, foi Yves Mersch, membro do board do Banco Central Europeu (BCE), que considera que a criptomoeda proposta pelo Facebook poderá afetar a capacidade do Banco de definir a política monetária. No discurso desta segunda-feira, o antigo governador do Banco Central de Luxemburgo chega mesmo a dizer que a Europa deve ignorar o apelo de "promessas traiçoeiras".

Na opinião de Yves Mersch, e dependendo do nível de aceitação da Libra, a criptomoeda do Facebook poderá "reduzir o controlo do BCE sobre o euro e prejudicar o mecanismo de transmissão da política monetária". E para o membro do board do Banco isto iria afetar a posição de liquidez dos bancos da Zona Euro e prejudicar o papel da moeda internacional.

À semelhança das moedas comuns, a Libra seria altamente centralizada, algo que pode ser "extremamente preocupante", tendo em conta que não é apoiada por um credor de última recurso e é responsável perante os acionistas.

Para além disso, e fazendo referência à multa avultada a que o Facebook foi obrigado a pagar pela FTC, Yves Mersch recorda que o lançamento desta criptomoeda será feito pelas mesmas pessoas que tiveram de "se explicar perante dos legisladores dos Estados Unidos e da União Europeia sobre as ameaças às nossas democracias resultantes do tratamento de dados pessoais nas suas redes sociais".

Perante estes desafios, o membro do BCE considera que as autoridades reguladoras e de supervisão europeias precisam de reivindicar a jurisdição sobre a Libra e de uma cooperação global para mitigar os riscos que poderão surgir.

"Espero que os europeus não fiquem tentados a deixar para trás a segurança e a solidez das soluções e dos canais de pagamento estabelecidos em favor das promessas enganadoras, mas traiçoeiras, do Facebook".

 

Um dos primeiros a criticar a criptomoeda do Facebook foi Donald Trump, que admitiu não ser fã "dos Bitcoins ou de outras criptomoedas que não são dinheiro e cujo valor é altamente volátil e imprevisível”. E mais recentemente, no final de agosto, a Bloomberg avançou que a Libra está a ser investigada pela União Europeia devido a quebras da lei da concorrência. Em causa estão questões de antitrust, se a empresa de Mark Zuckerberg está, ou não, a violar as leis da competição no solo comunitário europeu.

Apesar de as várias reações negativas que vieram surgindo, o Facebook já conta com o apoio de diversos parceiros importantes, tais como a MasterCard, Visa, PayPal, eBay, Uber, Lyft e Spotify, e outras, incluindo a portuguesa Farfetch, num total de 29 organizações envolvidas que funcionarão como uma espécie de "membros fundadores" da criptomoeda, como é possível ver na imagem. A rede social conta somar cerca de 100 parceiros até ao lançamento da tecnologia.

Devendo ser lançada em 2020, a Libra servirá para fazer transações entre particulares e estabelecimentos, e será também integrada nas plataformas WhatsApp e Messenger. No mesmo ano, a Calibra pretende facilitar os utilizadores a terem acesso aos serviços bancários básicos.