Embora esteja aqui tão perto, o Mobile World Congress não tem conseguido atrair uma forte presença de empresas portuguesas. Nos últimos anos contam-se pelos dedos o número de expositores que se assumem como portugueses, e que assim estão listados na lista da GSMA, e muitas vezes a presença acaba por ser breve e resumir-se a uma experiência de um ano, sem continuidade.
A falta um pavilhão de Portugal, onde possam estar reunidas as empresas que não têm capacidade de avançar com um stand próprio numa das feiras mais caras da Europa, tem sido apontada por várias vezes. Sobretudo quando se olha para os grandes stands de outros países, como a França, a Malásia, a Bélgica e a Espanha, com as regiões autónomas a terem também um destaque importante.
A falta de capacidade de investimento e de "agregação" faz com que, nos últimos anos a presença de empresas portuguesas no MWC seja curta, não chegando muitas vezes à dezena depois de uma participação em 2014 com 14 empresas e de alguns anos em que se chegou a 10 representantes portugueses. Mas na edição de 2024 bateram-se recordes, com cerca de 20 expositores portugueses, entre as quais 10 startups com stand no 4YFN, a que se juntam mais 10 apoiadas pela Startup Portugal. Tecnologia, telecomunicações, serviços e aplicações fazem parte do ADN de todas, assim como o objetivo de conseguir mais investimento, divulgação do negócio, contactos e oportunidades internacionais, e este ritmo renovado pode ser para manter.
Entre as muitas novidades que havia para conhecer nos oito pavilhões do MWC, o SAPO TEK foi à procura das empresas portuguesas e do que tinham para mostrar em Barcelona, avaliando também as primeiras impressões do investimento feito na feira e os potenciais resultados. No geral, a avaliação da feira que terminou é positiva, uma ideia que é partilhada por muitos dos visitantes portugueses com que falámos e que notam a dinâmica da feira, em especial na área de contactos e networking.
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Esta é também a apreciação de Paulo Trezentos, CEO e fundador da Aptoide. “Há 10 anos que estamos no MWC, uns anos com presença própria e outros sem stand. Este ano voltámos a ter presença própria através da nossa joint venture para carros Faurecia Aptoide Automotive e sentimos que a feira está novamente com muita gente e as reuniões que marcámos foram muito interessantes”, explica ao SAPO TEK. Mesmo assim admite que a feira está mais pequena, sobretudo na área de aplicações, em especial se comparar com os anos “de ouro” de 2018 e 2019, embora “continue a ser uma excelente feira”.
A Aptoide apostou sobretudo em acompanhar as mudanças que estão a ser feitas com o Digital Markets Act e que vão permitir a lojas de aplicações competir com a App Store e Google Play de forma mais justa para instalação de apps nos equipamentos iOS e Android. “Fizemos reuniões com vários parceiros para começar a executar essa oportunidade e foi muito focada nisso, e lançámos um site com a nossa posição”, explica Paulo Trezentos. No caso da Faurecia Aptoide Automotive o foco foi na divulgação da marca, que já tem mais de 14 milhões de carros contratados de marcas como a BMW, Smart Lotus, Renault Dacia, entre outros, e quer continuar a crescer no mercado de apps para automóveis e estabelecer novas parcerias.
A divulgação da marca e a possibilidade de estabelecer novas parcerias está também na base da presença da Crossjoint Solutions, uma empresa de serviços de tecnologia especializada na optimização de sistemas de informação. É o primeiro ano que está na feira de Barcelona e André Simões, gestor de produto, explicou ao SAPO TEK que a empresa foi desafiada por outros parceiros a expor no MWC, onde tinha um stand no pavilhão 6, e que a experiência estava a ser positiva.
“O feedback que tínhamos tido é que o network aqui é mais focado, teríamos acesso a empresas que têm o problema de desempenho dos sistemas de informação que nós resolvemos, e estamos a sentir essa procura”, afirma. Uma oportunidade pode ser na Ásia, onde ainda não tem presença e que se pode juntar aos projetos que tem na América do Norte e América do Sul e na Europa. “O nosso negócio é 40% Portugal e 60% internacional”, adianta ainda André Simões.
A TimWeTech e a WIT Software são já presenças habituais no MWC e este ano mudaram de “pouso” ficando no Hall de congresso e no pavilhão da GSMA para mostrarem as soluções de telecomunicações e uma demonstração de portal de comunicações para 5G-NC.
Mais dinâmica nas Startups com o 4YFN
Este ano a feira de startups 4YFN (a sigla em inglês para Four Years From Now - para quatro anos a partir de agora) faz 10 anos e ganhou mais espaço no plano do MWC, com dois pavilhões, o 8 e o 8.1, e uma dinâmica muito própria. Parecia uma feira diferente, com mais animação, palcos de pitch a decorrer, stands mais pequenos e muitas startups a desbravarem caminho.
Já em 2023 o evento tinha sido integrado no MWC, depois de ter passado alguns anos relegado para o espaço da praça de Espanha, onde se realizava a feira antes da Fira Gran Via ter assumido esse papel. Com mais espaço foi possível ter mais empresas e animação e ao mesmo tempo as startups beneficiam da proximidade e do número global de visitantes, que este ano ultrapassou os 100 mil.
O número de expositores portugueses também ganhou muito com a participação de 10 startups com stand no 4YFN, com o apoio da Startup Portugal, a que se juntam mais dez empresas que foram apoiadas pela organização na participação na feira e nos encontros promovidos em eventos paralelos. António Dias Martins, Diretor Executivo da Startup Portugal, diz que este é um investimento elevado, porque esta é uma das feiras mais caras da Europa, mas sublinha que o balanço é muito positivo.
“Foram feitos centenas de contactos e reuniões com potenciais investidores, incubadoras e aceleradoras locais, parceiros e clientes. Todos reconheceram a elevada qualidade desta delegação com destaque para os investidores que avaliaram os pitches que as mesmas fizeram no palco “Pitching Point””, explica ao SAPO TEK.
Três startups portuguesas foram premiadas em pitch competitions, a Goparity que ganhou o segundo lugar entre 140 startups concorrentes ao prémio “Impact Award” da conferência e a Express Tec e Fibersight que ganharam, respectivamente, o primeiro e segundo prémio da final da competição internacional dos prémios Santander.
“Estas feiras servem para um primeiro contacto pessoal, ninguém espera sair daqui com um cheque no bolso”, lembra o diretor da Startup Portugal, admitindo que já faltava uma presença mais estruturada de Portugal no MWC, numa feira tão importante para a tecnologia e telecomunicações e tão próxima geograficamente, sobretudo quando comparado com o investimento em pavilhões nacionais de outros países.
A primeira avaliação feita, um dia depois do fim do MWC24, já permitiu traçar objetivos de continuidade. No próximo ano a meta é “voltar com uma delegação ainda maior nesta que passa a ser uma importante paragem do programa Business Abroad da Startup Portugal”, afirma.
A Startup Portugal já promove a participação no South Summit em Madrid, no Collision no Canadá e no Web Summit no Brasil e no Quatar. Esta é a primeira experiência de uma delegação no MWC e conta com a colaboração da consul geral de Portugal em Barcelona, Ana Coelho e da AICEP. António Dias Martins lembra que “o mercado da Catalunha é um importante hub de inovação e empreendedorismo que merece toda a atenção dos empreendedores portugueses em especial em áreas como a health & bio tech, smart manufactoring, fintech e hospitality”. As organizações espanholas valorizam a capacidade de terem parceiros que possam rapidamente começar a atuar localmente e por isso é importante que as startups portuguesas estejam nestas feiras mostrem o que estão a fazer.
As empresas apoiadas pela Startup Portugal foram escolhidas pelos interesses que já têm no mercado espanhol e, em conjunto, já levantaram mais de 37 milhões de euros, empregam mais de 250 pessoas e só e 2023 já faturaram mais de 20 milhões de euros. O SAPO TEK falou com alguns dos participantes e verificou que globalmente a apreciação é muito positiva e que há contactos e reuniões marcadas para as próximas semanas que podem dar lugar a projetos interessantes.
No pavilhão da 4YFN a BHOUT, Biometrid, Coverflex, Enline Energy, Goparity, Leadzai, Naoris Protocol, Orgavalue, OSCAR e UpHill Health tinham um espaço de stand durante toda a feira e oportunidade de participar em vários pitch.
Foram dias exigentes, mas na quarta feira, quando o SAPO TEK falou com os participantes, a sensação era de uma mistura de cansaço mas de satisfação.
A Goparity acabou por ser uma das que ganhou maior destaque, também por ter sido selecionada para a pitch competition, entre 140 startups, ficando em segundo lugar na competição. Matias Aramburu, Senior development associate da Goparity, explicou ao SAPO TEK que a empresa que tem uma plataforma de investimento de impacto já conquistou uma presença global e que a participação no MWC é uma oportunidade de divulgar o projeto. Nos últimos dois anos o financiamento à empresa disparou, assim como o interesse na participação na plataforma de investimento sustentável. “Estamos focados no mercado espanhol. Já fizemos o nosso trabalho de sensibilização para o tema em Portugal e queremos expandir o projeto, depois de termos ganho recentemente a nossa licença europeia”.
Também Salvador Barros, head of Growth da BHOUT, sublinha o foco internacional desta feira. A empresa de jogos responsável pelo primeiro saco de box inteligente, que combina sensores com visão computorizada 3D, IA e aprendizagem automatizada, quer abrir espaços de treino, os clubes. “Não estamos à procura de investidores já, mas sabemos que aqui os encontramos. Neste momento estamos em processo de identificação de franshises e encontramos pessoas com interesse nessa direção, mas também estamos a encontrar talento […] é um bocadinho de serendipity, surgem coisas que não estávamos à espera, mas é difícil ter uma estratégia perfeitamente montada”.
Com um projeto de biotecnologia que quer revolucionar o transplante de órgãos, a Orgavalue já está a trabalhar com várias entidades em Portugal para conseguir reduzir o tempo de espera dos transplantes. Rodrigo Valdoleiros e Silva é o CEO e fundador e explica que a Orgavalue se distingue pela utilização de órgãos humanos colhidos de cadáveres humanos, em colaboração com o Instituto de Medicina Legal do norte e o Ministério da Justiça, retransformando-os para depois personalizar para o dador.
“O nosso desejo é que no futuro Portugal seja o cluster europeu para enviar estas matrizes de órgãos para outros países de forma a que cada hospital possa fazer este processo de forma simples e automática”, refere.
No MWC já identificou possibilidade de colaboração a DTI Foundation de Barcelona e também intenções de contacto pela NATO Investment Fund, que todos os anos tem 1 bilião de euros para investir em startups de alto potencial, entre outros potenciais parceiros. “São colaborações que desconhecíamos e que são determinantes se quisermos entrar no mercado catalão”, afirma.
Ligado à tecnologia de cibersegurança, a Naoris Protocol tem também sido abordada por várias entidades no 4YFN, e durante a conversa que tivemos no stand com João Santos a startup foi desafiada a participar numa conferência e exposição no Brasil. O head of compliance da Naoris explicou que a empresa foi fundada por David Carvalho, um hacker ético, e que tem uma solução de cibersegurança descentralizada baseada em inteligência artificial e blockchain.
O produto foi finalizado em dezembro e a Naoris Protocol quer agora procurar parcerias e negócios internacionais, pelo que esta oportunidade é interessante para a startup. O modelo de verificação da integridade dos dispositivos tem atraído a atenção de várias entidades, e João Santos diz que “há muitos investidores a procurar novas tecnologias, muito B2B, e em especial no âmbito da cibersegurança onde nos últimos 2 anos há maior sensibilidade das empresas e dos Governos para procurar soluções alternativas, diferentes dos modelos tradicionais, que se apoiam em sistemas centralizados”.
A exposição ao mercado internacional, e em especial ao mercado espanhol, é igualmente valorizada pela UpHill Health, que está entre as empresas apoiadas pela Startup Portugal. “É a primeira vez que vimos ao 4YFN, está muito alinhado com a nossa estratégia atual, já estamos muito presentes em Portugal, trabalhamos com todos os grandes hospitais e estamos a conseguir duplicar a capacidade, e já estamos a alargar para Espanha […] esta região está a ser muito o foco de desenvolvimento”, explica Duarte Sequeira, COO da UpHill Health.
A solução da UpHill Health pretende libertar os profissionais de saúde de tarefas mais repetitivas e rotineiras e aumentar a qualidade dos serviços aos doentes. Nos últimos dias as oportunidades de reuniões multiplicaram-se e por isso a apreciação da participação é muito positiva, contando com o apoio das organizações portuguesas nestes contactos.
As oportunidades identificadas na feira podem agora tornar-se em negócios e parcerias, ajudando as empresas a solidificarem as suas estratégias de internacionalização, o que era uma dos objetivos principais desta iniciativa da Startup Portugal.
António Dias Martins diz que o objetivo é dar seguimento à participação no 4YFN e voltar no próximo ano com mais startups e uma delegação maior, colocando o MWC como "uma importante paragem do programa Business Abroad da Startup Portugal".
O SAPO TEK esteve a acompanhar todas as novidades do MWC24, pode ver todas as notícias no especial.
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