Em novembro, a FTX declarou falência, deixando dívidas por liquidar a milhares de credores e, mais recentemente, Sam Bankman-Fried, co-fundador e ex-CEO da corretora de criptomoedas, que anteriormente tinha perdido 94% da sua fortuna de um dia para o outro, foi detido por suspeitas de fraude e lavagem de dinheiro.
A “onda de choque” do colapso da FTX fez-se ouvir um pouco por todo o mundo, com milhares de investidores sem conseguirem recuperar fundos. Em Portugal, a Offchain Lisbon, o capítulo português da comunidade mundial dedicada a entusiastas da tecnologia de Blockchain e do mundo das criptomoedas, quer avançar com uma ação coletiva contra a corretora.
Ao SAPO TEK, Pedro Aguiar e José Reis Santos, fundadores do capítulo português da comunidade, explicam que a ação tem como primeiro objetivo “identificar e organizar os lesados da FTX em Portugal”.
De seguida, a organização procura “averiguar as possibilidades” de os investidores afetados “iniciarem ou se juntarem a um ação judicial coletiva, seja esta em Portugal, Europa ou outra jurisdição a escolher”. “Estamos ainda em processo de averiguação sobre qual melhor a jurisdição onde colocar a ação judicial colectiva”, detalham.
Neste momento, a organização está a identificar, através de um inquérito online, investidores que tenham sido lesados pela FTX em Portugal, incluindo também pessoas que não tenham cidadania portuguesa. De acordo com os responsáveis, estão a ser exploradas as possibilidades legais ao dispor no país e mais além.
Para já, uma vez que começou recentemente a recolha e processo de identificação dos lesados, a organização ainda não tem uma estimativa clara de quantos investidores possam ter sido afetados pelo colapso da FTX no país. Além de Portugal, a Offchain Lisboa está também em início de conversações com parceiros em outros países para a tomada de medidas semelhantes.
A queda que fez o mundo cripto "estremecer"
Recorde-se que na semana anterior ao colapso da FTX, outrora considerada como uma das maiores corretoras de criptomoedas, tendo sido sido avaliada em 32 mil milhões de dólares, Changpeng Zhao, CEO da rival Binance, tinha já dado a entender publicamente que as perspetivas financeiras da FTX não eram as melhores.
Prevendo um cenário de “desastre”, muitos utilizadores da plataforma da FTX tentaram recuperar investimentos que tinham feito. No entanto, a corretora não tinha forma de dar resposta à vasta quantidade de pedidos. Estima-se que, em 72 horas, tenham sido resgatados 6 mil milhões de dólares em investimentos.
Entretanto, a FTX e a Binance tinham chegado a um acordo de compra, com a empresa de Sam Bankman-Fried a ser vendida para aliviar problemas de liquidez. Porém, após uma análise aos documentos financeiros da FTX e com o anúncio de uma investigação à corretora por parte de autoridades norte-americanas, a Binance voltou atrás e decidiu não avançar com a aquisição.
Depois do anúncio de falência em novembro, acredita-se que o número de credores da FTX possa ascender a um milhão e a dívida a 8 mil milhões de dólares. Para já foram reconhecidos 3 mil milhões de dólares em dívidas aos 50 maiores credores.
Antes de ser detido nas Bahamas, um dia antes de uma audiência com o Congresso dos Estados Unidos para explicar o colapso da plataforma, Sam Bankman-Fried admitiu erros de gestão, defendendo que o colapso teria sido precipitado, em grande parte, pela retirada massiva e simultânea de ativos da FTX.
Por outro lado, de acordo com informações vindas a público, uma grande quantidade de fundos terá sido desviada da FTX para outra empresa do grupo, a Alameda Research, e acredita-se que parte destes ativos, um montante que ronda os 1.000 milhões de dólares, terá desaparecido.
Como avança a imprensa internacional, Sam Bankman-Fried foi hoje levado a tribunal em Nassau, onde se espera que aceite a extradição para os Estados Unidos, depois de contestar essa possibilidade. Nos Estados Unidos, o co-fundador e ex-CEO enfrenta acusações de fraude e branqueamento de capitais.
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