Além do automóvel, a eletrónica, a informática e as telecomunicações estão entre os sectores onde a escassez de chips mais tem provocado mossa este ano. Algumas marcas realinharam o roadmap de lançamento de novos produtos, para poderem concentrar a oferta numa gama mais reduzida de opções.

Outras têm tido dificuldades em responder à procura até dos seus produtos âncora e há ainda aquelas que, tendo conseguido gerir stocks limitados até agora, têm dúvidas se conseguirão fazê-lo até ao final do ano. Enquanto isso, os preços aumentam e as campanhas promocionais tornam-se mais tímidas.

Em Portugal o problema, que é mundial e que promete continuar pelo menos durante 2023, não tem ainda consequências muito expressivas na atividade das lojas, se pensarmos em falhas de stock. No entanto, os preços já estão mais elevados e as perspetivas para esta reta final do ano e início do próximo é de que possam escassear mais produtos.

“Nos nossos dados ainda não verificamos de uma forma muito expressiva o efeito causado pela falta de chips”, sublinha Rui Reis, key account da GfK. "Embora o efeito não seja ainda visível nos dados de venda auditados, alguns fabricantes revelam alguma preocupação com a potencial falta de stock, em particular para o último trimestre de 2021 e princípio de 2022”, acrescenta o responsável.

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Rui Reis admite que este efeito poderá colocar em stand by as vendas de marcas onde existe uma maior ligação emotiva com o consumidor, porque há uma maior tendência por parte do cliente para aguardar pela disponibilidade de stock. Já para as marcas com menor ligação ao consumidor, se a falta de chips limitar a oferta, o impacto tende a ser mais negativo, porque o consumidor acabará por direcionar a compra para outro fabricante com disponibilidade de stock e um produto idêntico.

Preços já subiram 14% em alguns segmentos

Em Portugal, e no que se refere ao acumulado dos sectores de Eletrónica de Consumo, Foto, Informática e Telecom, a GfK verifica que o mercado está positivo, tanto em valor como em unidades comercializadas. Sector a sector, a consultora identifica, para o acumulado do ano, uma tendência de queda em unidades vendidas na Eletrónica de Consumo e Fotografia. Esta tendência de queda reflete-se tanto na comparação com o ano anterior, como com 2019. No entanto, verifica-se que em valor os segmentos cresceram, porque os preços dos produtos aumentaram, em média, 14%.

“A explosão dos preços das matérias primas que influenciam os preços de custo e transportes contribuirá igualmente para uma maior escassez de produto, que aliada à alta procura contribuirá para o aumento do preço médio, algo que se tem vindo a registar nestes sectores”, explica Rui Reis.

No domínio da Informática e Telecom, a GfK diz que “a trend é particularmente positiva especialmente para Telecom, onde o acumulado do ano cresce em valor, sobre 2020 e sobre 2019”. Na informática o crescimento foi mais moderado.

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Na oferta que disponibiliza, a Worten relata que o maior impacto da escassez de componentes essenciais para alguns produtos, até à data, é “alguma incerteza nos timings de entrega da mercadoria por parte dos fornecedores”. A retalhista admite que “os abastecimentos mais críticos estão relacionados com produtos tecnológicos das categorias de TI, Telco e também alguns produtos de entretenimento, como é o caso das consolas, na medida em que são produtos que exigem, na sua composição/produção, os tais chips que escasseiam a nível mundial”.

Para lidar com estas limitações a empresa diz que tem feito “todos os esforços para, de forma planeada (logo antecipada), garantir que não há atrasos muito significativos na entrega de mercadoria” e para conseguir manter stock nas lojas.

Promoções menos duradouras e mais ofertas em pacote

Os responsáveis do comparador de preços KuantoKusta admitem notar também diferenças nas promoções. “As promoções existem na mesma, mas como os stocks são mais limitados devido a esta crise de matéria-prima, as campanhas promocionais das lojas tendem a ter uma duração muito mais curta do que seria normal, porque os stocks são facilmente escoados”.

Outra mudança, está na forma de posicionar ofertas relacionadas com produtos mais escassos, com uma tendência crescente para fazer packs e combinar produtos, que antes não eram “companheiros” tão frequentes. “As placas gráficas muitas vezes não são vendidas à unidade, mas são colocadas num computador para que seja vendida toda a máquina, porque o restante material, de outra forma, poderia ficar empatado”.

A plataforma, que compara preços de 1250 lojas, sublinha ainda que, embora a questão dos semicondutores seja um problema transversal a várias indústrias e marcas, “as grandes empresas, que têm um grande poder global, podem ter acesso a esses chips e por isso não verificamos empresas como a Apple, Samsung, Microsoft com grandes problemas de stock, apesar de também os terem”.

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As consolas, um dos produtos mais procurados do confinamento e a braços com dificuldades de stocks há muitos, muitos meses, estão ainda assim entre os segmentos onde as marcas já assumiram que o desequilíbrio entre oferta e procura vai continuar.

A Xbox Series X/S já esteve esgotada durante várias semanas, também em Portugal, a Microsoft conseguiu repor stocks, mas já admitiu que neste final de ano o problema pode voltar a colocar-se. Um responsável disse recentemente que a empresa simplesmente não consegue produzir para responder à procura elevada.

Acontece o mesmo com a PlayStation 5, lançada no final do ano passado e com vendas intermitentes desde então. Esgotou logo que foi lançada e a Sony reconheceu, ainda em maio, que este ano não conseguiria equilibrar oferta e procura.

A nível global e voltando a uma visão mais geral sobre a eletrónica de consumo, foto, informática e telecomunicações, Rui Reis admite que se verificaram já “crescimentos mais modestos no terceiro trimestre, quando comparados com igual período de 2020”. Resta esperar para ver como conseguirão as marcas e os retalhistas responder às solicitações do Natal.

Este artigo integra o Especial CRISE DOS CHIPS: ONDE NOS AFETA, COMO SE RESOLVE E QUE PAPEL ASSUME A EUROPA?

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