Os Estados Unidos preparam-se para colocar a famosa aplicação TikTok na lista negra das apps chinesas que são consideradas uma ameaça ao país. A Microsoft, por outro lado, quer comprar as operações da app em alguns países, incluindo os Estados Unidos. Esta é mais uma novela a juntar-se a outras como o caso da Huawei. Mas é preciso recuar quase um ano para o início desta saga em torno daquela que é atualmente uma das redes sociais mais populares do mundo.
A história do TikTok, tal como o conhecemos, começou há dois anos, quando em agosto de 2018 a tecnológica chinesa concluiu a fusão entre a Musical.ly com a TikTok, num negócio de 800 milhões de dólares, originando cerca de 600 milhões de utilizadores na plataforma. A ideia de gravar vídeos curtos, de 15 segundos, com a introdução de ferramentas divertidas de edição de som e clipes musicais, e depois a partilha, tornou-se rapidamente um fenómeno.
Um ano depois, no final de outubro de 2019, os Estados Unidos pediram uma investigação ao Centro de Contraterrorismo do país para avaliar um possível risco de segurança na aplicação. Começava aqui mais um braço-de-ferro entre a administração de Donald Trump e uma empresa chinesa. Em sua defesa, a ByteDance esclareceu as várias acusações. O TikTok garante que todos os dados dos utilizadores americanos são armazenados efetivamente nos Estados Unidos, com um sistema de backup em Singapura, que os data centers estão localizados fora da China e que nenhum dos dados estão sujeitos às leis chinesas. Para além disso, a empresa diz contar “com uma equipa técnica dedicada e focada em implementar políticas robustas de cibersegurança e práticas de privacidade e segurança de dados”.
A partir daí, são várias as acusações de perigo apontadas à app, pelo risco que representa para os Estados Unidos. O facto é que o TikTok apresentou vulnerabilidades como disse a Check Point Research, que garante ter detetado "múltiplas vulnerabilidades" que permitem, por exemplo, apagar vídeos das contas e revelar informação pessoal, como endereços de email. Problema que a ByteDance já terá resolvido.
Donald Trump decidido a banir TikTok dos Estados Unidos, a não ser que…
A “novela” entre os Estados Unidos e o TikTok parece ter sido renovada para uma segunda “temporada” no último fim-de-semana, quando Donald Trump revelou na sexta-feira que iria anunciar uma decisão definitiva para a popular aplicação. E segundo era avançado por diversos especialistas, a ideia era mesmo proibir as operações do TikTok nos Estados Unidos, dando assim mais um golpe nas relações comerciais com a China.
E as suas palavras não davam margem de dúvida: “No que diz respeito ao TikTok, vamos bani-lo dos Estados Unidos. Em breve, imediatamente. Quer dizer essencialmente imediatamente”, afirmou aos jornalistas, no tom que o caracteriza, referindo que tinha autoridade para banir a aplicação da ByteDance, sob ordem executiva ou através da Lei Internacional de Poderes Económicos de Emergência, destacava a Bloomberg na sexta-feira. Essa ordem seria assinada no sábado.
O certo é que corriam rumores de que Microsoft tinha planos para adquirir o TikTok, embora a gigante tecnológica não comentasse os mesmos. Do lado da ByteDance, a empresa chinesa estava disposta a vender o total das operações da rede social nos Estados Unidos, de forma a evitar qualquer represália do executivo americano, davam conta mais duas pessoas, de forma anónima à publicação.
… a Microsoft avance para a sua aquisição
A sensação que fica é que Trump fez bluff no meio deste impasse no fim de semana. Entre a ameaça de fechar o TikTok nos Estados Unidos e a disponibilidade da empresa chinesa vender as operações a uma empresa americana. E os rumores de que a Microsoft estava interessada. E tal como um grilo que sai da sua toca, quando cutucado com uma palhinha, a Microsoft acabou mesmo por admitir o interesse na compra da rede social.
Em declarações no seu blog oficial, Satya Nadella, o CEO da Microsoft indica que terá conversado com Donald Trump (entre sexta e sábado?) para a viabilização da compra da empresa. “A Microsoft está comprometida em adquirir o TikTok, sujeitando-se a uma completa análise de segurança, providenciando benefícios económicos aos Estados Unidos e ao Tesouro Nacional”.
A gigante tecnológica prometeu encetar rápidas conversações com a ByteDance e concluir as negociações até ao dia 15 de setembro, prazo eventualmente dado pelo presidente dos Estados Unidos. Além do mercado americano, a Microsoft procura adquirir as operações nos mercados do Canadá, Austrália e Nova Zelândia, convidando outros investidores americanos a participar na compra, com uma fatia minoritária.
Na sua essência, a ideia da Microsoft é adquirir o TikTok, fazer-lhe um “d-tox” de questões relacionadas com a segurança, e relançar o serviço com o mínimo de modificações possíveis para os consumidores. Todos os dados privados dos americanos, recolhidos pela aplicação seriam guardados nos Estados Unidos e que as restantes cópias de segurança localizadas no exterior do país seriam apagadas depois da transferência.
Atualmente, o TikTok tem 1.500 funcionários a trabalhar, com planos de empregar mais 10 mil nos próximos três anos, apenas nos Estados Unidos, revelou Vanessa Poppas, líder das operações americanas da app. Para se ter ideia da força da aplicação, esta obteve 2 mil milhões de downloads a nível global. Nos Estados Unidos 165 milhões de pessoas usam a rede social.
Apesar do interesse da Microsoft, no executivo de Donald Trump há que pense que separar o TikTok para servir os Estados Unidos ainda é uma solução pior, “porque os americanos vão dar milhares de milhões à China para terem o privilégio de ter o TikTok a funcionar nos Estados Unidos”. Falta agora conhecer as cenas dos próximos capítulos.
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