Como não podia deixar de ser, as Redes de Nova Geração estiveram em foco no debate do Estado da Nação, do 19º Congresso da APDC, onde alguns operadores voltaram a contestar o modelo escolhido para a criação destas redes, alegando que podem limitar a capacidade de investimento do sector e criar novos monopólios.

A questão foi levantada por Ângelo Paupério, presidente executivo da Sonaecom, num contexto de preocupação com o futuro. Referindo que os dados hoje publicados pela Anacom mostram que a Sonaecom lidera na fibra, o responsável pela empresa do Grupo PT mostra a sua preocupação com a sustentabilidade do sector, que "está mais pujante do que nunca mas que não tem crescido em valor", o que levanta problemas quanto à velocidade com que as empresas conseguem modernizar-se e investir.

Embora realce que o sector das telecomunicações foi um dos que mostrou maior resiliência face à crise que se vive, lembra é preciso encontrar outras formas de rentabilizar as redes e os serviços.

Quanto às RNGs, o modelo escolhido "não é o modelo que gostamos. Gostávamos de um modelo de investimento optimizado e não de proliferação de redes", sublinha, embora reconheça que nas zonas onde se optou pela criação das redes rurais há maior racionalidade. Noutro tipo de modelo "teríamos tido mais capacidade de investimento e de assegurar a comercialização", assegura.

A mesma ideia é defendida por António Coimbra, presidente executivo da Vodafone, que não assinou o protocolo com o Governo para as RNGs. Este responsável lembra que se sabe que não há espaço para mais do que uma infra-estrutura e que se corre o risco de cair no mesmo erro que se fez com a criação da rede de cabo, onde todos podiam investir mas na verdade a capacidade de investimento era limitada. "As RNG vão perpetuar o modelo livre e não de redes partilhadas [...]vamos criar ineficiência económica e comprometer a prazo novos investimentos", sublinha, afirmando que "podíamos fazer mais de forma economicamente mais sã".

"Esperamos que daqui a uns anos não estejamos todos a criticar que há monopólio e é preciso regulação", sublinha António Coimbra.

Fazendo contas semelhantes sobre a rentabilidade económica, Xavier Martin da Oni volta a recordar que só há espaço para 1,5 redes de RNG e que não faz sentido fazer sobreposição de investimentos, drenando recursos de serviços e de outras valências importantes.

Do lado do contrário da barreira, Zeinal Bava defende a importância do investimento da fibra para aumentar o peso das telecomunicações no PIB, que poderá passar dos actuais 3,5% para 4,5%, aumentando um ponto percentual que pode representar 1,6 biliões milhões de euros de receitas.

"Pior do que uma má decisão é uma não decisão", justifica Zeinal Bava, lembrando que a PT decidiu investir em fibra numa altura de incerteza económica, contando com o apoio da administração da PT mas com a confiança de que este é um investimento estruturante. "A rede que cada operador tem não é uma comodity, é valor acrescentado, e a arquitectura de cada rede é diferenciadora", sublinha.

Para o presidente da PT, este não é um projecto em contra-relógio para a operadora, mas de médio e longo prazo, que vai permitir também a Portugal exportar tecnologia e serviços que estão a ser desenvolvidas cá, entre as quais o slicing de fibra.

Em relação à disputa com a Zon sobre o que é e o que não é fibra, Zeinal Bava admite que com o tempo os clientes vão perceber a diferença porque as necessidades de largura de banda de upload e download vão crescer significativamente e outras tecnologias não o vão suportar.