A tecnologia 5G é desde há muito apontada como um ponto de viragem na capacidade de eficiência das redes de comunicações e como uma das armas para fazer da digitalização da economia uma oportunidade para reduzir o seu impacto ambiental.
Um estudo do Fórum Económico Mundial estima que tecnologias como o 5G e a IoT possam ajudar a reduzir as emissões globais em 15%, até 2030. Para esta meta vão contribuir diferentes casos de uso, alguns mais avançados que outros à data de hoje. Ainda assim, até os projetos que respondem a questões mais pontuais ajudam a perceber o potencial da tecnologia, em contextos que outras tecnologias não tinham condições, técnicas ou de preço, para responder.
“O 5G é uma alavanca poderosíssima, que em conjunto com outras tecnologias veio inaugurar uma nova era – a era da hiperconectividade – com a interligação de milhares de milhões de dispositivos e sensores em permanente comunicação”, exemplifica Judite Reis Senior Director, Mobile Engineering Network & Services da NOS.
A sensorização é provavelmente uma das áreas onde o impacto do 5G está já mais materializado e onde os resultados, em termos de impacto ambiental, podem ser relevantes. “Através da monitorização e dos controlos inteligentes com sensores e análises em tempo real, a tecnologia 5G vai capacitar todas as indústrias e pessoas na otimização de consumos energéticos”, acrescenta Judite Reis. A máxima vale para redes de água, gás ou eletricidade, tanto na perspetiva do consumo como da gestão.
Os operadores têm vindo a explorar este caminho, com o lançamento de diferentes soluções e já têm alguns resultados para partilhar, caso da NOS que refere poupanças até 30% em água e energia, associadas ao sistema de rega inteligente instalado em vários municípios, como Pombal.
Já com a solução de gestão inteligente de resíduos urbanos implementada no Barreiro, e também suportada em 5G, a operadora diz que as poupanças de combustível rondam os 20% e nos custos operacionais os 40%. Este tipo de soluções permite monitorizar o conteúdo dos contentores e os camiões de recolha de bio-resíduos e otimizar as recolhas. A iluminação inteligente será outra das áreas onde já estão a ser geradas poupanças significativas.
Redes 5G podem ser até 90% mais eficientes mas não estão sozinhas
Ainda as redes 5G estavam a dar os primeiros passos no terreno e um estudo da Nokia e da Telefónica, de 2020, já quantificava o impacto da tecnologia numa outra perspetiva: a dos operadores. A pesquisa concluiu que estas infraestruturas podem ser até 90% mais eficientes, em termos de energia por unidade de tráfego, do que as redes 4G. Considerando que as redes 5G vão permitir um aumento dramático do tráfego é crucial que a energia consumida não aumente na mesma proporção.
“Efetivamente, a tecnologia 5G incorpora componentes eletrónicos e implementa algoritmos mais eficientes, além de permitir uma maior reutilização do espectro, fazendo com que sejam transportados mais Bits por Segundo por Megahertz, para um mesmo consumo”, contextualiza Judite Reis da NOS.
Ainda assim, é preciso fazer as contas ao impacto da tecnologia na atual fase de implementação e não apenas numa fase de cruzeiro, como alertam outros estudos, e ter presente que nas redes dos operadores vão coexistir, por vários anos, tecnologias de diferentes gerações. A oportunidade de reduzir a pegada ambiental, do lado das redes, está por isso longe de se esgotar no 5G.
A rede móvel representa cerca de 80% da fatura de eletricidade, admite a Vodafone. A migração para o 5G pode ser uma oportunidade para reduzir esta fatura por várias razões. No caso, a operadora detalha que pôs em marcha um programa para aproveitar a instalação da rede 5G, nas várias estações de rede móvel pelo país, e modernizar cerca de 4 mil estações até 2025.
“O facto de colocarmos o 5G on top das tecnologias existentes — 2G, 3G, 4G — implica consumir mais energia”, explica Pedro Santos, diretor de desenvolvimento de Rede da Vodafone. Só por si, o 5G tem um maior consumo de energia do que as anteriores tecnologias.
“Ao trocarmos o equipamento antigo que disponibiliza as tecnologias 2G, 3G e 4G, por equipamento novo, estamos a poupar diretamente cerca de 40%. Com estes 40% de poupança ganhamos margem para colocar o 5G praticamente com uma pegada neutra”, acrescenta o responsável da Vodafone.
Estas intervenções estão também a servir para remover os chamados “consumos parasitas” da rede, desligando equipamentos que estavam numa espécie de modo stand by, mas já não estavam em utilização. Um exemplo são os ares condicionados que fazem refrigeração dos equipamentos elétricos nas estações. Os mais antigos ficavam instalados em pequenos armazéns, perto das estações de rede móvel.
O funcionamento gerava calor e os sistemas de arrefecimento eram essenciais para manter a operação em segurança. Como os trabalhos nas estações preveem a substituição destes equipamentos por outros, mais leves que podem ser colocados na própria antena, a refrigeração passará a ser natural e os sistemas antigos dispensáveis.
Há ainda outras formas de aproveitar as intervenções que a modernização das redes e a instalação do 5G pedem, para melhorar a pegada ambiental.
“Em 2022, registámos uma redução de 21% da área ocupada por sites instalados em áreas protegidas ou ricas em biodiversidade”, conta José Maurício Costa, Responsável do Gabinete de Direitos Humanos, Sustentabilidade e Inclusão da Altice.
A dona da MEO tem também vindo a instalar centrais fotovoltaicas, a promover a reutilização de materiais e o uso de tecnologias eficientes, que exigem menos recursos tanto ao nível da operação como da manutenção, para mitigar o risco de exploração excessiva dos recursos naturais.
Revela ainda que também já fez a “renovação de toda a infraestrutura de energia de climatização dos sites de rede móvel, com um rendimento acima de 97%, dotando-os de baterias de lítio, para melhorar a resiliência e eficiência energética da operação”.
Novas soluções e serviços para preparar a grande transformação
No último ano, e nos próximos, o 5G vai ser o grande impulsionador de investimento nas redes de telecomunicações, para uma mudança de paradigma que vai afetar todos os sectores. A NOS sublinha que no ano passado já registou o maior volume de investimento da sua história, 496 milhões de euros, e uma parcela significativa foi usada no desenvolvimento da rede 5G.
Também a Altice garante que nos próximos anos, o “5G vai continuar a ser uma das grandes apostas do ponto de vista de investimento, com o desenvolvimento e implementação de projetos e soluções que aportem mais valias à vida e ao dia a dia dos cidadãos e das empresas”.
Como nota José Maurício Costa, a adoção da tecnologia vai depender, principalmente, da evolução de todo o ecossistema que o integra, seja a nível de plataformas, soluções ou equipamentos, seja mediante o papel que o consumidor final terá ao nível da utilização progressiva de equipamentos compatíveis com o 5G.
Enquanto não se desfazem as dúvidas, os operadores posicionam-se e têm vindo a criar soluções e produtos que ajudem as empresas a tirar partido do potencial do 5G, nas áreas onde a tecnologia pode trazer maiores mudanças. No caso da Altice, os alvos estão, por agora, apontados à saúde, conectividade IoT, Smart Cities, Indústria 4.0 e assistência remota, áreas onde os concorrentes também estão a apostar.
A operadora concretiza com alguns exemplos: na saúde a aposta vai para a telemonitorização clínica e diagnóstico à distância, através de soluções como o Smart AL e o Medigraf. Na Indústria 4.0, a Altice está a avançar com soluções 3D, recorrendo a tecnologia digital twin que permitem visualizar em tempo real a performance do processo produtivo e simular novos cenários de produção. Na área de Remote Assistance suporta soluções que permitem a quem está no terreno aceder a informação técnica em formato digital, com suporte para realidade aumentada e possibilidade de interagir em tempo real com um especialista remoto por vídeo.
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