Pela primeira vez o Congresso da APDC contou com um “Estado da Nação” dos responsáveis das áreas técnicas dos operadores de telecomunicações, e o tema em debate foi o Futuro do 5G, embora a tecnologia já faça parte do presente e do dia a dia de quem gere as redes móveis. Portugal está na primeira linha da Europa em termos de número de testes realizados, mas o calendário definido para a atribuição das licenças aponta só para meados de 2020 a possibilidade de lançamento de serviços comerciais, o que os CTOs das operadoras defendem que tem impacto negativo na economia, na abordagem ao mercado e no posicionamento do país como inovador na área da tecnologia, com capacidade de exportação de know how.
“Há uma vontade inegável de os operadores dominarem a tecnologia, do resto, acho que estamos atrasados”, afirmou João Nascimento, CTO da Vodafone, explicando que é importante estar no pelotão da frente porque há uma quantidade de empresas que querem usar a tecnologia e não podem e que os operadores não podem explorar a “capacidade tecnológica e de exportação de know how que não nos vamos conseguir apropriar”.
Para Luis Alveirinho, da Altice, “o que está em causa é que podíamos ter feito mais cedo e já o demonstrámos em vários testes”, lembrando que “neste momento o que se passa é que não estão criadas as condições externamente para lançar esses serviços. Na nossa pespectiva estamos atrasados não do ponto de vista da preparação mas a nível das condições de espectro”. O CTO da Altice afirma que “enquanto engenheiro, custa-me ter uma tecnologia disponível, clientes altamente expectantes e depois estou agarrado porque não posso fazer” e explica que mais de 50 países do mundo já lançaram o 5G e que Portugal que esteve na linha da frente no 3G está a ficar para trás.
Para demonstrar que a Altice está preparada, Luis Alveirinho fez uma demonstração em direto de uma ligação 5G, com Speedtest no palco, ultrapassando os 500 Mbps de velocidade.
João Graça, CTO da NOS alinha pela mesma ideia do impacto negativo do atraso do 5G, afirmando que "não estamos a falar no impacto que tem nos atuais serviços. Estamos a falar de novos serviços, novas soluções. E é ai que sentimos o atraso", sublinhando que esses novos serviços vão tardar a chegar ao tecido empresarial português, onde podem fazer a diferença na competitividade das empresas. "Não é a conetividade do 4G, são novos serviços diferenciadores para a eficiência das empresas e que abrem novos modelos de negócio", sublinhou.
Ainda esta manhã João Cadete de Matos, presidente da ANACOM recusou a ideia de que existe um atraso no calendário, e apontou a "culpa" à libertação do espectro da TDT, mas Luis Alveirinho lembrou que o leilão poderia avançar sem essa faixa do espectro, como aconteceu em Espanha, que deixou o licenciamento dos 700 MHz para o próximo ano mas já avançou com as licenças que permitiram lançar o serviço comercial.
Partilha mas sem condicionar o investimento
A necessidade da distribuição adequada do espectro e do modelo de partilha de infraestruturas também gerou consenso entre os responsáveis técnicos dos operadores. João Nascimento explicou detalhadamente que é necessário ter uma banda de espectro razoável para que cada operador possa oferecer os serviços que cumprem as promessas dos 5G, em que no mínimo cada operador tem de ter 90 Mhz de largura de bada. "Se não, vamos ter um 5G coxo".
Com a distribuição do espectro, e dos 100 Mhz que estão "fechados" para a Denseair, sem serem utilizados, assim como o interesse na entrada de mais um operador, a Vodafone teme que reste pouco para cada um dos atuais operadores móveis.
Do ponto de vista da partilha de rede, que João Cadete de Matos, presidente da ANACOM, voltou a lembrar hoje que deverá estar na lista das obrigações do leilão do 5G, todos afirmaram que essa já é uma prática nos equipamentos passivos, mas que é mais difícil de implementar nos equipamentos ativos de rede, o chamado RAN sharing. O "elefante" no meio da sala é a possibilidade da ANACOM impor uma obrigação de roaming nacional, que Luis Alveirinho considera que é desincentivador de investimento na rede para os operadores. "Se houver roaming nacional vou esperar que os outros invistam na rede", afirma.
Há ainda uma possibilidade levantada pelos operadores, que poderia ser uma solução para as zonas de menos densidade populacional, que seria o co-investimento entre o Governo, as autarquias e os operadores, algo semelhante ao que foi já feito no Parque da Peneda Gerês.
O 29º Congresso da APDC teve início hoje, 20 de outubro, no Centro Cultural de Belém, e termina amanhã com alguns dos painéis mais esperados, como o painel da regulação e o Estado da Nação, que envolve os CEOs dos operadores de comunicações, e onde estes temas do 5G vão certamente voltar a ser debatidos.
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