Nos últimos cinco anos, o valor criado pelo sector das telecomunicações atingiu os 694 mil milhões de dólares, mais 21% que nos cinco anos entre 2019 e 2023, de acordo com um novo estudo do Boston Consulting Group.

A mesma pesquisa mostra que nesse período, entre 2020 e 2024, no entanto, o retorno das empresas do sector para os acionistas não foi além dos 4% ao ano e também verifica que são os operadores de menor dimensão aqueles que se revelam mais capazes de devolver parte do valor que criam a quem neles investe. Os operadores de menor escala conseguiram dar um retorno anual médio aos acionistas de 6%, mais 3 pontos percentuais que entre 2019 e 2023.

"A menor escala tem conferido a alguns operadores a vantagem competitiva de serem também mais ágeis e rápidos a adaptar-se e capturar valor”, confirma Eduardo Bicacro, Partner da BCG em Lisboa.

O mesmo responsável admite que no cenário desafiante que os operadores de telecomunicações têm enfrentado nos últimos anos, aqueles que apostam primeiro nas frentes certas — como inovação, digitalização e smart M&A (fusões e aquisições) — têm conseguido destacar-se mais e alcançar retornos mais relevantes”.

A pesquisa agrupou em quatro “divisões” as empresas do sector, para melhor ilustrar a criação de valor de cada perfil de operador. Verificou que as empresas de telecomunicações globais geraram 199 mil milhões de dólares em valor, com um retorno médio anual para os acionistas (TSR) de 3,1%, entre 2020 e 2024.

“Os grandes operadores em mercados domésticos geraram cerca de dois terços do total de valor criado pelo sector, com 455 mil milhões de dólares em valor acrescentado”, indica também a análise, indicando um retorno médio de 4% para o período.

As empresas com receitas abaixo dos 10 mil milhões de dólares, geraram 74 mil milhões de dólares e conseguiram dar um retorno médio anual de 6% aos acionistas. Neste grupo, a taxa de retorno avançou cerca de 3 pontos percentuais. Nos anteriores decresceu na mesma proporção.

O estudo segmenta ainda as empresas de infraestruturas, que tiveram uma perda de valor de 34 mil milhões de dólares e um retorno anual negativo de 2% entre 2020 e 2024, quando no período entre 2019 e 2023 conseguiram entregar retornos de 10%.

Voltando à fotografia geral, os dados compilados no "Returns May Be Declining, but Opportunity Is Calling”, mostram ainda que, em 2024, o retorno sobre o capital investido (ROIC) das empresas de Telecomunicações fixou-se nos 6,7%, ficando abaixo do custo médio ponderado de capital (WACC) mediano, que se situou nos 7,1%.

Por outras palavras, isto significa que as empresas não conseguiram gerar retornos suficientes para cobrir os seus custos de capital. Ainda assim, “no ano passado, o sector das Telecomunicações conseguiu reduzir a lacuna do retorno acionista face à média do
mercado, ficando apenas 7 pontos percentuais abaixo do índice S&P 1200 de ações globais”, destaca o BCG. Este valor traduz-se numa recuperação de 15 pontos percentuais face a 2023.

A BCG indica um conjunto de ações que podem ajudar as empresas a melhorar estes indicadores, com foco na inovação e na aposta em tecnologias de ponta. Sublinha-se a importância de uma aposta clara na otimização de ativos e custos, com iniciativas como a partilha de infraestruturas e soluções baseadas na nuvem.

Destaque ainda para o investimento em arquiteturas de rede de ponta - novos produtos e serviços que ajudem a ganhar competitividade e para a transformação digital e Inteligência Artificial. “A implementação de IA está a transformar a forma como as operadoras interagem com os clientes e otimizam processos internos”, sublinha o BCG, destacando o valor destas tecnologias para melhorar a eficiência no atendimento ao cliente e reduzir a rotatividade de
clientes.

Para este estudo foram avaliadas as realidades de 73 empresas cotadas do sector das telecomunicações a nível global.