Por Fátima Linhares (*)

A capacidade de adaptação tornou-se fundamental para a sobrevivência e para o crescimento de qualquer empresa, face ao contexto atual de constante evolução no ambiente dos negócios, com novas oportunidades e desafios a surgir diariamente.

Especificamente, as empresas portuguesas de manufacturing enfrentam desafios como a digitalização, a competitividade e a crescente necessidade de personalização, sendo que, para garantir o sucesso, é crucial que as mesmas se adaptem, inovem e se reinventem, encontrando soluções que otimizem processos, reduzam custos e aumentem a eficiência, sem comprometer a qualidade.

As chamadas "Composable Companies" emergem neste contexto como “a solução”, ganhando cada vez mais destaque no mercado, por representarem um modelo de empresa modular e reconfigurável que permite a adaptação às necessidades existentes. De acordo com a Gartner, este modelo de negócios baseado na flexibilidade, escalabilidade e inovação, adota sistemas tecnológicos modulares e interconectados, possibilitando uma resposta rápida e eficaz às mudanças do mercado, acelerando a inovação por meio de aplicações compostas e integradas e conduzindo a uma melhoria da gestão operacional. Simplificando, trata-se de reinventar a empresa e as suas capacidades. Mas quais as áreas-chave, outros benefícios e vantagens, desafios e melhores práticas no que toca a este modelo?

A chave reside na tecnologia, mais especificamente na adoção de soluções interconectadas que funcionam como blocos independentes e reutilizáveis. Esta modularidade permite que as empresas implementem mudanças de forma rápida e eficaz, sem a necessidade de reformular toda a sua estrutura, fator crucial no contexto atual em que a transformação digital avança a um ritmo acelerado.

A abordagem composable permite, ainda, que as empresas reduzam custos e minimizem riscos, uma vez que a substituição ou a atualização de um componente não compromete o funcionamento do sistema como um todo.

Outra vantagem diz respeito à capacidade de inovar de forma contínua. As Composable Companies permitem experimentar novas soluções sem causar grandes interrupções, tornando isso um fator competitivo essencial. A rápida experimentação e a implementação iterativa de novas tecnologias e serviços permitem não só acompanhar as tendências, mas também antecipá-las, posicionando a empresa como um agente de mudança no setor em que opera. Além disso, este modelo incentiva a colaboração interna e externa, promovendo um ecossistema aberto onde diferentes stakeholders contribuem ativamente para a evolução das empresas.

A personalização da experiência do cliente é outro benefício deste modelo. Numa era em que os consumidores “exigem” produtos e serviços adaptados às suas necessidades específicas, a capacidade de ajustar rapidamente a oferta a essas necessidades é uma enorme mais-valia. Com sistemas modulares e interligados, as empresas conseguem recolher, analisar e utilizar dados de forma mais eficiente, criando experiências altamente personalizadas e melhorando o envolvimento com os clientes.

No entanto, apesar de todos os benefícios acarretados, a transição para um modelo deste tipo não está isenta de desafios. A mudança exige uma mentalidade aberta, quer das lideranças, quer dos colaboradores, além de um investimento significativo na modernização da infraestrutura tecnológica das empresas. A adoção de interfaces padronizadas, a integração de plataformas abertas e a aposta na interoperabilidade são aspetos fundamentais para garantir que esta abordagem resulta em ganhos concretos e sustentáveis. Para muitas empresas, esta transformação representa uma rutura com práticas tradicionais e requer um compromisso genuíno com a inovação e a experimentação contínua.

Apesar dos desafios que se colocam, uma coisa é certa: o futuro pertence às empresas que se conseguem reinventar. As Composable Companies representam um novo paradigma empresarial, onde a agilidade e a adaptação são requisitos essenciais para o sucesso, assente em três dimensões fundamentais - engagement, tecnologia e capacidade, que garantem flexibilidade e resiliência às organizações.

No cenário empresarial atual onde a mudança é constante, a capacidade de uma empresa de se reconfigurar de forma dinâmica e estratégica deixa de ser “apenas” uma vantagem competitiva, passando a ser uma necessidade. Se antes as grandes transformações exigiam longos ciclos de planeamento e implementação, hoje a tecnologia e a inovação permitem ajustes rápidos e precisos, possibilitando respostas quase em tempo real a novas oportunidades e desafios.

O mundo pertence às empresas que não apenas acompanham a mudança, mas que a antecipam e a utilizam como motor para crescer.

(*) Discrete Industries Manager da valantic BT