A Telemenutenção desenvolve desde 1997, juntamente com outras empresas da área das tecnologias, um projecto de integração profissional de deficientes em regime de tele-trabalho, conhecido como Porcide, em Portugal, e com uma vertente internacional de nome THINK - Towards Handicap Integration Negotiating.
Pelas duas primeiras fases nacionais de desenvolvimento deste projecto que recorre a ferramentas tecnológicas passaram respectivamente 20 e 25 tele-trabalhadores com deficiência, enquanto a terceira, a decorrer desde Março último, compreende a preparação de 35 pessoas em idênticas circunstâncias.
O TeK falou com Miguel Reynolds Brandão, CEO da Telemanutenção, que deu a conhecer melhor este projecto com mais de seis anos de existência.
TeK: O que é o Porcide?
Miguel Reynolds Brandão: O Porcide é um projecto de integração profissional sustentada de pessoas com deficiência através do modelo de tele-trabalho. Aquilo que pretende é criar as condições para que depois essas pessoas possam ser auto-suficientes. Durante seis meses dispõem gratuitamente de apoio material, fornecido pelos nossos parceiros, período durante o qual os futuros tele-trabalhadores deverão adquirir competências próprias para posteriormente iniciarem um regime autónomo de trabalho.
TeK: E o que é que acontece ao fim desses seis meses?
M.R.B.: A partir daí pressupõe-se que se já estão aptos a trabalhar, se já exercem determinada função, passem a pagar o equipamento, como qualquer outra pessoa - embora sob condições especiais. Não pretendemos tratar as pessoas por serem deficientes de forma diferente. O nosso objectivo é dar o empurrão inicial e normalmente isso é criar uma alternativa profissional. A partir do momento que o individuo encontrou essa alternativa já pode ser o centro do negócio. Penso que estes seis meses devem ser vistos como uma espécie de estágio.
TeK: Que áreas de actividade são abrangidas pelo Porcide/THINK?
M.R.B.: A nossa experiência mostrou-nos que o tele-trabalho para pessoas com deficiências é inteiramente concretizável em serviços como help desk, administração de redes, gestão de software, processamento de texto, programação, design gráfico, telemarketing, entre outras.
TeK: O projecto pode integrar pessoas com todo o tipo de deficiências ou apenas pessoas com deficiências motoras?
M.R.B.: Embora, numa primeira fase, se dirigisse sobretudo a deficientes motores, hoje o Porcide abarca outro tipo de limitações. Temos alguns casos de esclerose múltipla - que aparece em pessoas de idade mais avançada e, por isso, já com experiência profissional -, temos casos de paralisia cerebral, de ambliopia e de agorafobia. Se juntarmos todos, estamos a falar de um universo nacional de quase 200 mil pessoas. Mas continuam a existir deficiências incompatíveis com muitos dos serviços prestados no âmbito do Porcide.
TeK: Além da Telemanutenção, que empresas estão envolvidas nesta iniciativa?
M.R.B.:
A Portugal Telecom está connosco desde o início, à qual depois se juntaram, pouco tempo depois, a HP e a Microsoft e posteriormente outras empresas que nos acompanharam até à actualidade, como a FCB, a Rumos ou a PWC Consulting, entre outras. Convidámos um conjunto de empresas fornecedoras de produtos ou serviços de que precisávamos a participar no projecto e a contribuir com o seu core business.
TeK: Qual é então o papel de cada parceiro no projecto?
M.R.B.: O Porcide/THINK apoia as pessoas nos primeiros seis meses de actividade, fornecendo-lhes toda a estrutura de trabalho de que necessitam para operar na área de trabalho da sua preferência. Perante este contexto, a PT Comunicações disponibiliza a infra-estrutura de telecomunicações, a HP contribui com hardware (computador, scanner, impressora, etc), a Microsoft fornece o software, a TELEPAC fornece o serviço de Internet, a FCB contribuiu com o serviço de publicidade e marketing, a RUMOS com toda a formação, e por aí fora. À Telemanutenção cabe a formação inicial e contínua e a gestão e coordenação dos tele-trabalhadores, assim como procurar os clientes para cada serviço desenvolvido. Esta é uma função muito importante porque um dos maiores problemas para os tele-trabalhadores independentes, deficientes ou não, é comercializar os seus serviços. O Porcide não só promove os seus serviços como também lhes encontra clientes.
O projecto não contempla obrigatoriamente a contratação, mas pode acontecer que as empresas parceiras possam igualmente passar a clientes e subcontratar esses tele-trabalhadores, como foi o caso da Microsoft que integra hoje oito profissionais em regime de tele-trabalho ligados ao Porcide no seu serviço de atendimento a clientes.
TeK: Estes mesmos parceiros participam nos outros países para onde o Porcide/THINK foi "exportado"?
M.R.B.: Nos outros países mantém-se o mesmo nível de parceria e tipo de relacionamento. A Microsoft é nossa parceira tal como o é em Portugal na Espanha, Grécia, Escócia, Itália, Lituânia, os cinco países europeus onde o projecto foi implementado; a HP também, com excepção da Escócia, onde no seu lugar está a IBM. Para a área das telecomunicações e da promoção é sempre necessário procurar parceiros locais.
TeK: Como tem corrido a experiência Porcide/Think além fronteiras?
M.R.B.: No geral está a correr bem. Grécia onde estamos desde 2000 pode ser apontado como um caso de sucesso, tendo já envolvido 40 pessoas com deficiência no regime de tele-trabalho. Há países que estão mais bem organizados do que outros... Espanha, por exemplo, está muito avançada em tudo o que são questões ligadas às pessoas com deficiência.
Estamos a preparar o lançamento do conceito em outros países, como o Brasil e o Canadá, e também o Uruguai, a Polónia, a Hungria e a Roménia. São países que já se mostraram interessados, mas sobre os quais ainda teremos que ponderar.
TeK: Que balanço poderá fazer destes mais de seis anos de existência do projecto?
M.R.B: Penso que temos conseguido alcançar o nosso objectivo de criar situações de sustentabilidade para os indivíduos. Há sempre pessoas que, por razões diversas, ficam pelo caminho; mas temos muitos que ficaram a trabalhar connosco, como empresa; temos outros que foram trabalhar para outros sítios e casos em que as pessoas montaram o seu próprio negócio, e com sucesso. Com o Porcide, demonstrámos que o tele-trabalho para pessoas deficientes é inteiramente exequível.
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