Por Nelson Pereira (*)

À medida que entramos no ano de 2024, o paradigma tecnológico continua a evoluir de uma forma exponencial. No meio de discussões infindáveis sobre as consequências da inteligência artificial generativa, destacam-se algumas conclusões que permitem alinhavar algumas das muitas tendências que moldarão o setor tecnológico este ano. Embora o ChatGPT tenha conquistado uma posição dominante como uma ferramenta valiosa, há outras tendências que estão a redefinir o cenário tecnológico de maneiras igualmente impactantes.

Ainda ligado à inteligência artificial, há que destacar que a regulamentação da União Europeia terá um impacto em 2024 no desenvolvimento de soluções baseadas nesta tecnologia. Com objetivo de garantir que esta tem um impacto positivo na nossa sociedade, o parlamento pretende estabelecer uma matriz de risco, passível de ser aplicada em toda a UE. Como tal, iremos ver este ano uma maior transparência no processo de tomada de decisão destes algoritmos, que apelidamos de inteligência artificial explicável. À medida que se tornam mais complexos, compreender o raciocínio por trás das decisões é fundamental para estabelecer confiança e conformidade.

Acrescento ainda que devemos considerar que será cada vez mais comum, além da explicabilidade, repensar o impacto ambiental das soluções tecnológicas, inclusive, mas não exclusivamente, da inteligência artificial. A preocupação com a sustentabilidade vai moldar em 2024 o desenvolvimento de soluções de TI, acompanhada do desejo de tornar as operações cada vez mais eficientes. Ao reduzir o consumo de energia em data centers e adotar práticas responsáveis de gestão de resíduos eletrónicos, a tecnologia está a ser repensada para ser parte da solução, em vez do problema.

Ademais, em 2024, antecipa-se uma revolução significativa na interseção entre a inteligência artificial e a Internet das Coisas - IoT. A convergência destas tecnologias promete criar ecossistemas mais inteligentes e conectados, onde os dispositivos fazem mais do que apenas recolher dados, também interpretam e respondem de uma forma automatizada – sem intervenção humana. Vamos depender cada vez mais destes algoritmos para analisar documentos ou informação confidencial, de modo a conseguirmos ser mais produtivos.

Contudo, há que considerar os perigos de dependermos desta tecnologia, nomeadamente ao nível da segurança da organização. À medida que a inteligência artificial desempenha um papel essencial em diversos setores, desde a saúde até a indústria, os riscos associados a ataques cibernéticos direcionados a sistemas automatizados aumentam significativamente. Neste sentido, este crescimento deverá ser acompanhado por um investimento robusto na cibersegurança, de modo a proteger os algoritmos e os dados sensíveis utilizados para treinar os modelos. Garantir uma cibersegurança eficaz no ecossistema da inteligência artificial assegura que os benefícios da tecnologia podem ser aproveitados de uma forma ética e segura.

Como referi, o panorama de tendências de inteligência artificial para 2024 promete transformações profundas em diversas esferas da sociedade e das organizações. No entanto, à medida que celebramos estes avanços, é fundamental reconhecer a necessidade de priorizar a resolução de desafios como a ética e a cibersegurança. A integração destas tecnologias obriga uma abordagem proativa, de modo a mitigar os riscos associados a possíveis vulnerabilidades. Acredito que este ano vamos continuar a ver um grande crescimento por parte da inteligência artificial generativa, porém, existem também outras dimensões desta tecnologia a considerar para que esta tenha um impacto positivo na sociedade.

(*) Board Member e CTO da Noesis