Por Carlos Carús (*)

 O processo de migração para a cloud no decurso da modernização das TI empresariais pode eliminar gradualmente o legado histórico, existindo múltiplos fatores de sucesso a ter em consideração ao migrar para a cloud.

Se uma organização quiser progressos rápidos, inicia a migração com as aplicações mais simples possíveis - tais como, um website estático ou uma pequena aplicação de software livre, havendo poucos riscos para o processo de migração.

  1. Dar preferência a aplicações complexas e representativas

No entanto, as "vitórias rápidas" revelam-se frequentemente uma espada de dois gumes, uma vez que a velocidade de migração diminui.

Em vez disso, as aplicações mais complexas ajudam a estabelecer normas reutilizáveis e mecanismos de controlo. Estas aplicações formam o maior denominador comum de todos os requisitos em termos de conceção, segurança e funcionamento. Assim, a modernização sustentável começa com a escolha consolidada de aplicações-piloto.

  1. Desenvolver sistematicamente com base na experiência piloto

Mesmo para portefólios de maiores dimensões, com centenas de aplicações, mais de 80% das aplicações inserem-se num grupo de padrões arquitetónicos específicos e blocos de construção reutilizáveis. Uma vez concebidos e aprovados, o projeto de migração ganha velocidade graças à reutilização. Em vez de passar pelo ciclo completo de migração para cada aplicação, é utilizado o princípio da exceção, o que significa que apenas as alterações que são realmente necessárias são feitas aos padrões aprovados.

Os blocos de construção estabelecidos servem de modelos para as próximas aplicações e para novas equipas, permitindo economias de escala no projeto. Isto facilita o trabalho faseado de colaboradores menos experientes no projeto de migração. Contudo, um elevado grau de padronização é essencial. Caso contrário, o esforço para sistemas-alvo complexos e para a automatização e refatoração é desnecessariamente aumentado.

  1. Estabelecer uma operação estável como objetivo

As exceções a novas normas tecnológicas nas operações podem normalmente ser justificadas por requisitos especiais. Contudo, as equipas escolhem tecnologias diferentes apesar das mesmas condições, sem que haja necessidade das mesmas. Isto pode complicar a resolução de problemas nas operações. O número de causas possíveis de falhas aumenta, o conhecimento sobre tecnologias individuais torna-se menos divulgado e o aumento da curva de aprendizagem acarreta tempo e dinheiro.

Aqueles que valorizam operações mais estáveis escolhem as variantes mais simples possíveis, mantêm a soberania sobre os padrões arquitetónicos e têm em conta o nível de maturidade da equipa, de modo a evitar muitas mudanças súbitas. Na prática, este papel é frequentemente atribuído a um departamento de arquitetura central ou a um Centro de Excelência em Cloud.

  1. Tornar o sucesso da modernização mensurável

As figuras-chave ajudam a tornar o objetivo da modernização tangível. Embora a data de conclusão e a velocidade da migração sejam cruciais para o sucesso de uma migração "lift & shift", a qualidade do trabalho determina o sucesso da modernização. As métricas relevantes neste contexto podem incluir: a poupança de custos resultante da eliminação de produtos de licença; os ciclos de implementação de aplicações e das suas infraestruturas; o grau de normalização das arquiteturas de aplicações; o grau de utilização de novos processos e ferramentas de TI; e a proporção de programadores que implementam infraestruturas na cloud de forma independente. Um objetivo de modernização bem formulado possibilita métricas que tornam o sucesso mensurável.

  1. Atingir a otimização em pequenos passos

Uma empresa pode passar anos a automatizar os mecanismos de controlo dos seus recursos de cloud. Portanto, para não prolongar desnecessariamente a migração da cloud, só se deve começar a otimizar o básico quando é necessário. Isto acontece porque não só a primeira, mas cada migração de aplicações pode levar a desenvolvimentos iterativos. A automatização pode ser adicionada conforme necessário, talvez só depois da migração para a cloud.

Mesmo uma aplicação que foi instalada manualmente no ambiente de desenvolvimento ainda pode ser automatizada mais tarde nas iterações posteriores. A chamada mentalidade de "mínimo exequível" permite manter o ritmo do projeto elevado. Além disso, é possível decidir o que pode ser otimizado mais tarde e, posteriormente, incluído no protocolo para o período após a aceitação do sistema. Um processo de decisão eficiente é importante para definir a conceção do sistema alvo e o nível de alterações suplementares para uma configuração V1 adequada.

  1. Considerar os fatores "transversais" na migração

As ferramentas podem ajudar a transferir servidores e dados para a cloud - mas não pessoas e processos. Mesmo uma migração de "lift and shift" pode falhar se não mantiver os fatores transversais em consideração. Dependências entre processos, unidades de negócio e fornecedores externos podem levar a perturbações dos meios de comunicação durante a migração. Modernizar significa sempre acabar com velhos padrões de comportamento - e isso causa frequentemente ansiedade. Nem todos estão abertos à mudança. Por exemplo, alguns colaboradores mantêm o controlo sobre certos passos e processos porque assumem que isso irá assegurar os seus empregos.

Os bons gestores são capazes de identificar os colaboradores que impedem a mudança e forma-los em conformidade. É útil comunicar o plano de desenvolvimento e a oportunidade de trabalhar no projeto de migração desde o início. Uma divisão bem definida do trabalho ao longo do processo de migração ajuda nas tarefas de formação e na sua distribuição, bem como na superação de lacunas de documentação.

  1. Não adiar a relocalização de software padrão

As grandes empresas têm geralmente um grande número de aplicações comerciais. Independentemente de serem modernizadas ou transferidas para a cloud através de "lift & shift": a sua migração requer acordos adequados com fabricantes de software e integradores de sistemas. Como resultado, os responsáveis tendem frequentemente a adiar a migração dessas aplicações, prolongando, assim, a duração do projeto.

No entanto, uma revisão contratual deve ser desenvolvida no início do projeto de migração. A localização do centro de dados pode ser definida nos contratos de software e a operação na cloud pode ser excluída nos termos da licença. Deste modo, são essenciais compromissos antecipados para o calendário da migração. É igualmente importante conceder tempo suficiente para quaisquer alterações aos termos comerciais.

Conclusão

A experiência mostra que os projetos bem-sucedidos são pensados em grande escala desde o início. Preferir aplicações simples para o projeto-piloto significa muitas vezes adiar decisões importantes para o futuro. Em vez disso, é mais sensato tomar decisões essenciais em primeiro lugar e construir sistematicamente sobre padrões estabelecidos para migrações posteriores. Muitas aplicações podem ser reduzidas a um grupo de padrões. Ainda que uma variedade de arquiteturas seja possível na cloud: se a organização valoriza uma operação estável, é preferível manter os processos simples e evitar extensões não essenciais no sistema alvo.

Para além de um processo eficiente de definição de objetivos, é aconselhável ter um objetivo de modernização claramente formulado - expresso em etapas mensuráveis e métricas de sucesso. Como em qualquer grande projeto de TI, as interdependências entre processos, departamentos e fornecedores externos significam perturbações dos meios de comunicação no processo de migração. Para além disso, fatores transversais, tais como conflitos de interesse, podem comprometer a modernização, devendo ser abordados desde o início.

(*) Diretor de Tecnologia da AWS para Portugal e Espanha

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