Por Inês Santos Silva (*)

Quando em 2010 me juntei a um dos primeiros eventos e comunidades em Portugal de mulheres em tecnologia a realidade que encontrei não podia ser mais diferente da realidade que vemos em 2023.

No início, eramos um grupo muito pequeno de mulheres, que acreditavam que era importante haver mais mulheres a trabalhar na área da tecnologia. Poucos acreditavam no mesmo e ainda menos faziam algo para mudar esta realidade

13 anos depois a situação é completamente diferente. Em 2023, temos várias organizações como as Portuguese Women in Tech, as Geek Girls Portugal ou as Raparigas do Código que fazem um trabalho activo no apoio a mulheres em tecnologia. Hoje, temos dezenas de empresas tecnológicas activamente envolvidas nas actividades destas organizações e muito interessadas em fazer crescer o número de mulheres nesta área. Hoje temos um grande número de escolas, bootcamps e formações para mulheres que querem fazer transição de carreira. E hoje, é reconhecida a importância de haver mais mulheres a trabalhar em tecnologia, pelas oportunidades de crescimento de carreira e pelas oportunidades salariais que a área oferece.

Relativamente a 2023 há três grandes temas a destacar.

Desde logo, hoje há claramente mais mulheres a trabalhar em tecnologia do que havia há 4/5 anos atrás. Curiosamente, pela minha experiência na Portuguese Women in Tech este aumento não se deve a um aumento do número de mulheres a estudar tecnologia nas Universidades e Politécnicos, mas deve-se ao sucesso dos programas de re-qualificiação que têm conseguido captar e formar muitas mulheres com as mais diversas idades e experiências profissionais.

Onde isso se vê bem é no Programa de Mentoria que desenvolvemos na Portuguese Women in Tech. Este programa, já com quatro edições e 500 participantes, começou em 2020 com mais de 90% das participantes vindas de percursos ditos “normais”, isto é, participantes finalistas de cursos do ensino superior de engenharia. Em 2023, mais de 50% das participantes passaram por programas de requalificação, uma mudança significativa e muito rápida.  Esta tendência deverá continuar em 2024.

Um dos aspectos que também noto uma evolução muito positiva é no espírito de entreajuda. Hoje, nas várias iniciativas que desenvolvemos sentimos um foco muito grande no apoio mútuo e no crescimento conjunto. Há mais pre-disposição para o networking, para a mentoria conjunta, para abrir portas a outras mulheres nas empresas em que trabalhamos e para o desenvolvimento de projetos em conjunto.

Esta é uma das tendências que me deixa mais feliz. Se trabalharmos em conjunto, o crescimento das mulheres no sector tecnológico pode claramente acelerar.

Por fim, de 2023 fica também a realização que há um aumento da maturidade do ecossistema e de uma procura por outros temas. Em 2023, na Portuguese Women in Tech lançamos a conferência Women & Wealth que juntou 150 mulheres para aprender e discutir temas relacionados com finanças pessoais e investimento. Com o lançamento desta conferência percebemos como este e outros temas são do interesse da nossa comunidade, apesar de serem tangenciais à tecnologia.

Fazendo agora um pouco de futurologia, em 2024 acredito que veremos mais crescimento e um aumento de maturidade do ecossistema de mulheres em tecnologia.

Vamos continuar a ver um número crescente de mulheres a trabalhar na área, vamos continuar a ver empresas e organizações a colaborarem ativamente para isso acontecer. E vamos, pela primeira vez, ver um maior foco nos temas da liderança.

Se nos últimos 13 anos o foco de todos nós esteve maioritariamente na atração de mulheres para a tecnologia e o apoio às mulheres que estavam a entrar no sector, em 2024 vamos ver uma maior preocupação com a retenção (infelizmente os números são pouco animadores) e vamos também ver uma maior atenção com preparar as próximas líderes de equipas, de departamentos, de empresas.

O que sabemos, com certeza, e isso não será diferente em 2024 ou em 2030 é que a tecnologia está na nossa vida para ficar. As oportunidades em tecnologia vão continuar a aumentar. E nós mulheres, queremos participar na construção do futuro, usando a tecnologia.

(*) Co-fundadora da Portuguese Women in Tech