Redes (de Acesso) de Nova Geração
Por Pedro Tavares e Rui Simões *

A utilização da palavra "fibra" é hoje obrigatória na maioria das acções de marketing dos operadores de telecomunicações e entrou, definitivamente, no vocabulário diário do comum dos consumidores de serviços de telecomunicações. Infelizmente, por desconhecimento ou simplesmente por aproveitamento, a palavra "fibra" tem aparecido quase sempre ligada ao advento das Redes de Nova Geração (RNG), o que é manifestamente redutor e incorpora um entendimento menos esclarecido do tema. Mas afinal o que está a suceder?

Se num primeiro momento foi tímido e cauteloso o avanço da fibra óptica desde os edifícios técnicos dos operadores em direcção às habitações dos consumidores, hoje, felizmente, esse movimento é visível, dinâmico e, diríamos, imparável. Assistimos e somos parte interessada de uma revolução em que, debaixo dos nossos pés, os cabos de cobre que durante décadas foram o meio de transmissão que assegurou as comunicações de voz e dados, são, gradualmente, substituídos, por novos meios de transmissão, que permitem velocidades de transmissão da ordem de vários Gb/s e que, surpreendentemente, são fabricados com um dos materiais mais abundantes no Planeta - o silício - se bem que num estado de pureza extremo e na forma de óxido.

Passados que estão 25 anos depois dos XXIII Jogos Olímpicos realizados na cidade de Los Angeles, EUA, onde a fibra óptica foi utilizada pela primeira vez com alguma relevância, chegou o momento em que cabos de fibra vão inundando gradualmente as condutas e postes da rede de acesso, substituindo os tradicionais cabos de cobre.

[caption]Pedro Tavares (esq.) e Rui Simões (Dta)[/caption]

Enquanto para os consumidores, as RNG são normalmente associadas à possibilidade de aceder à Internet de forma mais rápida, para os operadores este termo tem um significado bem mais abrangente. Tal como consagrado nas especificações emanadas quer pelo ITU-T quer pelo ETSI, a visão da criação das RNG é a do aparecimento de uma rede de pacotes (IP) capaz de oferecer serviços de telecomunicações fazendo uso de diversas tecnologias de transporte e em que seja possível garantir qualidade de serviço.

Por outras palavras, prevê o desaparecimento das redes verticais, em que uma rede presta apenas um serviço, e consagra as redes horizontais, em que uma única rede é capaz de disponibilizar todos os serviços do operador. Para muitos operadores esta é também uma oportunidade de optimizar os seus velhos sistemas obtendo, assim, redução de custos de manutenção e de operação.

Apesar da maior parte do enfoque operacional e esforço de investimento estar, presentemente, no roll-out das redes de acesso com fibra óptica, importa que os operadores não descurem a optimização e o upgrade das componentes core da rede, de forma a capitalizar os investimentos na rede de fibra e obterem, de facto, a possibilidade de se concentrarem na oferta de serviços inovadores, com elevada aceitação por parte dos consumidores. Este é o verdadeiro desígnio das RNG - os serviços - sendo que a rede, se bem que naturalmente importante, são deixa de ser apenas o meio para o alcançar.

* Manager e Senior consultant da consultora GMS