Por Tiago Santos (*)

A Inteligência Artificial (IA) tem vindo a transformar o ambiente empresarial há mais de uma década. De acordo com um estudo da Forbes Advisor, no último ano, cerca de 64% das empresas consideraram-na uma ferramenta essencial para aumentar a sua produtividade. Contudo, e embora muitas vezes associada a ganhos de eficiência, redução de erros e diminuição dos custos operacionais, a IA vai muito além disso. Perante o potencial disruptivo desta tecnologia, é vital que as empresas analisem os seus benefícios também na perspetiva do bem-estar dos trabalhadores, em particular no que diz respeito à proteção da saúde mental.

Mas, como podem as organizações tirar partido das potencialidades das ferramentas de IA sem desvalorizar, desproteger e pressionar excessivamente os seus trabalhadores? Antes de explorarmos o impacto da IA na satisfação dos colaboradores, é importante compreender o que é esta tecnologia e como funciona no contexto laboral.

A Inteligência Artificial refere-se à capacidade das máquinas de realizar tarefas que tradicionalmente exigiriam inteligência humana, como raciocinar, aprender, planear e, até mesmo, ser criativo. No ambiente de trabalho, a IA utiliza algoritmos e análise de dados para identificar padrões e tomar decisões informadas com base nessas aprendizagens. Desde a triagem de currículos até à monitorização de métricas de desempenho, esta tecnologia é uma aliada na otimização de recursos, libertando tempo dos colaboradores para se focarem em tarefas mais estratégicas. Portanto, mais do que uma ferramenta de produtividade, a IA tem o potencial de transformar a forma como trabalhamos e interagimos, tornando os processos mais ágeis e adaptados às necessidades reais das pessoas e organizações.

A saúde mental dos trabalhadores tem sido uma preocupação crescente para as empresas. Os gestores de recursos humanos sabem que colaboradores satisfeitos e saudáveis tendem a ser mais produtivos e empenhados, mais comprometidos, e apresentam menores taxas de absentismo e rotatividade. Investir em ações que promovam o seu bem-estar é, por isso,  fundamental para o sucesso de qualquer organização. A IA pode ser um recurso valioso na criação de ambientes de trabalho mais humanos, sustentáveis e produtivos. Esta tecnologia consegue, por exemplo, ajudar a identificar funcionários em risco de desenvolver problemas de saúde mental, analisando dados como o número de horas trabalhadas. Este é, sem dúvida, um dos benefícios da IA: a sua capacidade de transformar dados em ações concretas.

Ao analisar grandes volumes de dados em tempo real permite identificar padrões e prever situações críticas, como burnout ou uma quebras repentinas  de produtividade. O resultado? A oportunidade de melhorar significativamente a qualidade de vida dos colaboradores. Os algoritmos podem analisar métricas como a carga de trabalho e o tempo dedicado a tarefas específicas, detetando sinais de stress antes que se tornem problemas mais sérios. Com base neste tipo de análise, as empresas podem oferecer apoio personalizado ou ajustar processos de forma a ajudar os colaboradores a gerir melhor os seus desafios.

Se um colaborador for identificado como tendo filhos pequenos, a empresa pode oferecer soluções como horários flexíveis ou acesso a creches, promovendo uma melhor conciliação entre vida pessoal e profissional. Esta abordagem, baseada em dados, reforça a ligação entre a organização e os seus colaboradores, demonstrando uma preocupação genuína pelo seu bem-estar. Por sua vez, os trabalhadores sentem-se mais satisfeitos e leais à empresa. A meu ver, trata-se de um excelente exemplo de como a tecnologia, quando utilizada de forma ética e estratégica, pode beneficiar tanto os trabalhadores como as empresas.

Acredito que a IA pode ser uma poderosa aliada do bem-estar nas empresas, mas o seu impacto depende de como a utilizamos. Esta tecnologia reduz incertezas, maximiza a eficácia e promove um planeamento mais acertado, alicerçado em decisões bem informadas, que resultarão num planeamento mais robusto, confiante e benéfico para todos.

Decisões estratégicas — como o lançamento de novos produtos ou a expansão para uma nova área de negócio — já não precisam de depender exclusivamente da intuição de quem as toma. Estamos a viver uma mudança de paradigma, em que a análise de dados se torna o pilar das estratégias empresariais. Este novo modelo permite criar planos fundamentados, alinhados com objetivos específicos, moldados por tecnologias como o Machine Learning e sustentados pelos tais insights preditivos, de que mencionei há pouco.

Em suma, estas ferramentas estão a revolucionar a forma como as organizações gerem as suas equipas, planeiam e executam as suas estratégias. No entanto, é importante lembrar que a IA é apenas isso, uma ferramenta e, como tal, deve ser usada com responsabilidade. No meu entender, a tecnologia deve ser sempre orientada para promover o bem-estar dos colaboradores, e as empresas devem garantir que o cuidado com a saúde mental dos seus funcionários permanece uma prioridade.

A implementação ética da IA é, portanto, imprescindível para assegurar que as suas vantagens sejam aproveitadas ao máximo. Este é um dos seus contributos mais valiosos: transformar o incerto em algo mensurável e tangível, ampliando a capacidade das empresas de se adaptarem e garantir que os seus colaboradores prosperarem num mundo em constante evolução.

(*) Vice-Presidente de Comunidade e Crescimento da Sesame