
Por Inês Segurado Marques (*)
O setor tecnológico, outrora sinónimo de crescimento contínuo e inovação, enfrenta atualmente uma fase de instabilidade. Os despedimentos em massa nas grandes empresas tecnológicas e a incerteza económica global evidenciam que o modelo de crescimento acelerado adotado nos últimos anos já não é sustentável. Não estamos a regressar à realidade pré-pandemia, mas sim a entrar num novo contexto que exige adaptação e reinvenção.
Em Portugal, embora não tenhamos assistido a despedimentos em massa como noutros países, enfrentamos desafios significativos. A escassez de talento qualificado é uma realidade permanente. De acordo com a IDC Portugal, áreas como Inteligência Artificial (IA), análise de dados, cibersegurança e desenvolvimento de software são especialmente afetadas, com uma procura crescente que poderá aumentar mais de 20% ao ano até 2026).
Esta escassez coloca-nos numa posição vulnerável. Segundo o estudo “Escassez de Talento 2024” da ManpowerGroup, 81% dos empregadores portugueses revela dificuldades em encontrar profissionais com os perfis necessários, colocando Portugal na 5.ª posição entre os países com maior escassez de talento.
Perante este cenário, a solução não passa por esperar que o mercado retorne ao que era antes. É imperativo que profissionais e empresas adotem uma postura proativa, focada na adaptação e na reinvenção. A segurança profissional já não reside em cargos estáveis ou em empresas consolidadas, mas na capacidade de cada um se adaptar às novas realidades e de encontrar formas inovadoras de criar valor.
A transformação digital acelerada e as mudanças nas dinâmicas de trabalho exigem que repensemos as nossas abordagens. Aqueles que se mostram resilientes e dispostos a evoluir estarão melhor posicionados para enfrentar os desafios atuais e futuros. A adaptação não é apenas uma resposta à crise, mas uma estratégia contínua para prosperar num mundo em constante mudança.
E então, como podemos adaptar-nos a esta nova realidade?
A mudança já está a acontecer e a única opção viável é anteciparmo-nos a ela.
Quem ficar preso ao passado e esperar que tudo volte ao que era antes, arrisca-se a ser deixado para trás. Na minha opinião, aqui estão algumas formas de garantir que continuamos relevantes neste novo cenário:
- Aprendizagem Contínua: Não podemos parar no tempo
A tecnologia avança a um ritmo alucinante e quem não acompanha essas mudanças corre o risco de ver as suas competências tornarem-se obsoletas. Já não basta ter um curso superior; é essencial investir em formação contínua, seja através de certificações, cursos online ou participação em projetos práticos.
- Flexibilidade Profissional: Um mar de oportunidades
São várias as empresas que estão a querer voltar à vida pré-pandemia.
Estar aberto a diferentes modelos de trabalho, como o híbrido e o presencial ou freelance, amplia as oportunidades e permite uma melhor adaptação às dinâmicas atuais do mercado.
- Mentalidade de crescimento: Encarar a mudança como uma oportunidade
Resistir à mudança é uma estratégia perdida. Em vez de temer as novas tendências, devemos aproveitá-las. IA, cibersegurança e análise de dados não são ameaças – são oportunidades para quem estiver disposto a aprender e adaptar-se. Profissionais que desenvolvem uma mentalidade de crescimento e veem os desafios como hipóteses de evolução tendem a prosperar, enquanto os que resistem à mudança ficam para trás.
- Criar uma Rede de Contactos: Oportunidades surgem através de pessoas
Hoje, mais do que nunca, a nossa empregabilidade depende das conexões que criamos. Manter um perfil atualizado no LinkedIn, participar em eventos do setor e envolver-se em comunidades profissionais são estratégias essenciais para garantir que estamos na linha da frente quando surgem novas oportunidades.
- Adaptar-se à nova realidade do trabalho: As Soft Skills são tão ou mais importantes quanto as técnicas
As empresas já não procuram apenas profissionais altamente técnicos. A capacidade de comunicação, a resiliência, o pensamento crítico e a colaboração são características cada vez mais valorizadas. Saber programar ou gerir dados é essencial, mas saber trabalhar em equipa e resolver problemas complexos pode ser o verdadeiro fator diferenciador.
O setor tecnológico está a atravessar uma fase de transição inevitável. Quem continuar a olhar para o passado e esperar estabilidade garantida dificilmente conseguirá acompanhar o ritmo do mercado. A adaptação e a reinvenção não são apenas uma resposta à crise, são a única forma de garantir um futuro sustentável nesta área.
Portugal, apesar dos desafios, continua a ser um país com grande potencial. O segredo para ultrapassar esta fase está na capacidade de cada um de nós se adaptar, aprender continuamente e estar aberto a novas formas de trabalhar. O futuro não será construído por quem espera que tudo volte ao normal, mas sim por aqueles que aceitam a mudança e fazem dela uma oportunidade.
(*) Business Unit Lead, da KWAN (empresa portuguesa de outsourcing e nearshoring de perfis tecnológicos)
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