Hoje em dia, em caso de emergência, qualquer pessoa liga facilmente para o 112. Mas já pensou no caso das pessoas surdas e nos surdos-cegos? Foi também a pensar nesta realidade que a Federação Mundial das Línguas Gestuais (WFSL, sigla em inglês) desenvolveu um software para uma nova aplicação móvel, uma nova versão de uma app que antes era apenas para pessoas surdas. O SAPO TEK conversou com o presidente da WFSL e com a Fundação Calouste Gulbenkian para saber mais sobre a pulseira braille 112.

Num país onde onde alguns sistemas não estão bem preparados para lidar com pessoas com estas deficiências, os próprios profissionais de saúde podem não ter competências de língua gestual portuguesa (LGP), uma das três oficiais de Portugal, e, por isso, fazer um pedido de socorro pode ser um verdadeiro desafio. "Como a grande maioria dos portugueses não tem qualquer conhecimento de LGP a comunicação torna-se muito difícil", comenta João Gomes, ele próprio surdo e CEO e presidente da Federação que quer valorizar a LGP.

"A nossa missão é valorizar, defender e normalizar a LGP, de forma a que a comunidade surda possa desenvolver-se e ter as mesmas oportunidades que a sociedade dita "normal" tem"

Foi no sentido de diminuir a ansiedade destas pessoas, e também aumentar o grau de independência e a qualidade de vida das pessoas surdas e surdas-cegas, que a Fundação liderada por João desenvolveu um smart wearable que recorre a um GPS e um sensor de movimento para indicar a posição da pessoa em emergência. “Um SIM global assegura a ajuda mesmo em viagem”, adianta João Gomes, que explica ainda que o carregamento da pulseira é wireless.

Protótipo da Pulseira Braille 112
Imagem concedida por João Gomes, presidente da WFSL

De acordo com Anabela Nunes Salgueiro, do Programa Gulbenkian Coesão e Integração Social (PGCIS), já existia uma aplicação para surdos para em situações de emergência poderem solicitar e aceder a cuidados com quem tivesse conhecimentos de LGP. Mas agora a WFSL vem propor o alargamento desse serviço através do gesto internacional e da pulseira para cegos-surdos, de forma a ser “ainda mais acessível”. “Uma vez que os utilizadores tinham acesso livre e gratuito, a app existente tinha problemas de sustentabilidade”, explica.

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A Fundação Calouste Gulbenkian concedeu o seu apoio numa fase inicial, em 2017, “para a criação e desenvolvimento da aplicação móvel em videochamada e chat criptografado e depois à aplicação para a pulseira destinada aos surdos-cegos”. O apoio surgiu no âmbito de uma proposta de João Gomes ao PGCIS, programa cujo objetivo principal é “criar e incentivar novas dinâmicas na área social que potenciem este sector, contribuindo para a construção de uma sociedade mais coesa e com menos situações de exclusão social”, explica Anabela.

A tecnologia foi recentemente reconhecida ao vencer a categoria "Melhor Projeto Digital Sustentabilidade & Inclusão” em Portugal da ACEPI - ASSOCIAÇÃO da Economia Digital, e em breve João Gomes espera poder lançar a pulseira braille 112 no mercado nacional, onde existem cerca de 247 mil pessoas com deficiências visuais ou auditivas.