A atmosfera de Neptuno tem uma enorme mancha escura com um inesperado ponto brilhante adjacente mais pequeno, descoberta agora, na primeira vez que este tipo de fenómeno no gigante gasoso é observado com um telescópio a partir da Terra.
O registo foi alvo de um estudo publicado hoje na revista Nature Astronomy por uma equipa internacional de cientistas que utilizaram dados do VLT do ESO para excluir a possibilidade de as manchas escuras - estruturas comuns nas atmosferas dos planetas gigantes - serem causadas por uma "abertura" nas nuvens.
As novas observações indicam, em vez disso, que as manchas escuras são provavelmente devidas ao escurecimento de partículas de ar numa camada abaixo da camada principal de neblina visível, à medida que os gelos e as neblinas se misturam na atmosfera de Neptuno.
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Chegar a esta conclusão não foi tarefa fácil, já que as manchas escuras não são estruturas permanentes da atmosfera de Neptuno e os astrónomos nunca tinham conseguido estudá-las com detalhe suficiente, sublinha a Rede de Divulgação Científica do ESO, em comunicado.
A oportunidade surgiu depois do Telescópio Espacial Hubble ter descoberto várias manchas escuras na atmosfera de Neptuno, incluindo uma no hemisfério norte do planeta, observada pela primeira vez em 2018, explica. A equipa de cientistas liderada por Patrick Irwin aproveitou esta oportunidade para a estudar a partir do solo, fazendo uso de um instrumento ideal para estas difíceis observações.
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Com o auxílio do instrumento MUSE (Multi Unit Spectroscopic Explorer) montado no VLT, os investigadores conseguiram separar a luz solar refletida por Neptuno e pela sua mancha nas cores, ou comprimentos de onda, que a compõem, e obter assim um espectro tridimensional, o que significa que conseguiram estudar a mancha com mais pormenor do que o que era possível até à data.
"Estou bastante feliz por termos sido capazes de fazer não só a primeira deteção de uma mancha escura a partir do solo, mas também de registar pela primeira vez o espectro de reflexão de uma tal estrutura", diz Irwin, citado na nota de imprensa.
Uma vez que diferentes comprimentos de onda sondam diferentes profundidades na atmosfera de Neptuno, a obtenção de um espectro permitiu aos astrónomos determinar melhor a altitude a qual se encontra a mancha escura na atmosfera do planeta. O espectro forneceu também informações sobre a composição química das diferentes camadas da atmosfera, o que deu à equipa pistas sobre a razão pela qual a mancha nos aparece escura.
Surpreendentemente, as observações também permitiram descobrir um tipo raro de nuvem “brilhante e profunda”, até agora nunca identificado, mesmo a partir do espaço.
De acordo com os cientistas, os dados do VLT mostram que a nova "nuvem brilhante profunda" está ao mesmo nível que a mancha escura principal na atmosfera. Isto significa que se trata de um tipo de estrutura completamente nova sem relação com as pequenas nuvens "companheiras" de gelo de metano observadas anteriormente a grande altitude, refere-se no comunicado.
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