Lançado há pouco mais de três anos, o telescópio espacial James Webb tem gerado dados significativos e sem precedentes sobre os confins do espaço e há frequentemente novos estudos que demonstram a sua importância para desafiar ideias estabelecidas e explorar os mistérios do cosmos.

Localizada a cerca de 1.400 anos-luz da Terra, a Nebulosa da Chama é uma região ativa de formação estelar com menos de um milhão de anos. No entanto, nem todos os objetos aqui formados se tornam estrelas. Muitos são anãs castanhas, corpos celestes incapazes de fundir hidrogénio nos seus núcleos. Conhecidas como “estrelas falhadas”, tornam-se gradualmente mais frias e escuras, dificultando a sua observação.

Com a sua capacidade de detetar infravermelhos, o James Webb conseguiu penetrar a poeira densa da nebulosa, identificando anãs castanhas com massas entre duas a três vezes a de Júpiter, e até mesmo objetos tão pequenos como 0,5 vezes a massa de Júpiter. Estes achados foram publicados na revista The Astrophysical Journal Letters.

A investigação sugere que há um limite mínimo de massa para fragmentos que se tornam anãs castanhas, um dado crucial para entender a formação de estrelas e planetas.

Outro estudo intrigante utilizou o supertelescópio para analisar 263 galáxias no programa JADES (James Webb Advanced Deep Extragalactic Survey). Cerca de dois terços destas galáxias giram no sentido horário, enquanto apenas um terço gira no sentido anti-horário, algo inesperado num universo considerado aleatório.

O resultado da investigação liderada por Lior Shamir, da Kansas State University, levanta hipóteses fascinantes. Uma possibilidade é que o universo tenha nascido a girar, sugerindo que as teorias atuais sobre o cosmos possam ser incompletas. Outra explicação pode estar no efeito Doppler, onde a luz de galáxias que giram na direção oposta à Terra parece mais brilhante, influenciando as observações. Este fenómeno pode até levar à recalibração das medições de distância no universo profundo, resolvendo questões cosmológicas como a expansão do universo.

Num dos capítulos mais antigos do cosmos, o James Webb observou JADES-GS-z14-0, uma galáxia que existiu quando o universo tinha apenas 300 milhões de anos. Esta galáxia, maior e mais brilhante do que o esperado, revelou-se quimicamente complexa, contendo elementos pesados como o oxigénio.

Tal descoberta indica que a formação de estrelas e galáxias começou ainda mais cedo do que se pensava, logo após o Big Bang.

A equipa utilizou instrumentos avançados do telescópio, como a câmara de infravermelho próximo (NIRCam) e o instrumento de infravermelho médio (MIRI), para desvendar os segredos de JADES-GS-z14-0. Estes achados desafiam modelos teóricos de formação de galáxias e sublinham a importância do James Webb para explorar o universo primordial.

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Desde as anãs castanhas da Nebulosa da Chama até galáxias distantes e padrões cósmicos enigmáticos, o James Webb continua a abrir portas para uma nova era da astronomia. Como afirmou Kevin Hainline, coautor do estudo sobre JADES-GS-z14-0: "Estamos a desvendar galáxias além de tudo o que a humanidade já encontrou. É verdadeiramente mágico".