Dados do observatório espacial Gaia ajudaram uma equipa de cientistas alemã a fazer mais uma descoberta importante sobre o processo de evolução da Via Láctea. A exploração de dados divulgados pelo satélite, ainda em 2020, permitiram juntar diferentes pistas e identificar mais um processo de colisão e fusão com outra galáxia, nos 12 mil milhões de anos de história da Via Láctea. A fusão com a já batizada Pontus não foi a mais recente, terá acontecido há oito ou 10 mil milhões de anos, mas era até agora desconhecida.
Uma nota publicada pela Agência Espacial Europeia e uma imagem explicam como chegaram os cientistas a esta conclusão e representam-na num mapa da Via Láctea. Segundo estes dados, a equipa liderada por Khyati Malhan, do Max-Planck-Institut für Astronomie, na Alemanha, centrou-se na pesquisa de vestígios de pequenas galáxias que se tenham fundido com a nossa.
Estes vestígios podem ser identificados na auréola da Via Láctea, que rodeia o disco de estrelas mais jovens e a saliência central de estrelas mais antigas - na área mais iluminada da Via Láctea - quando o processo de colisão é lento. Nesses casos, as estrelas da galáxia em fusão formam uma corrente estelar, à medida que as forças gravitacionais, conhecidas como forças de maré, as afastam, deixando uma espécie de assinatura.
Se o processo for rápido esses vestígios não são percetíveis, mas há outras forma de os tentar identificar e foi isso que a equipa fez. Partiu do pressuposto que a galáxia que se funde não terá apenas estrelas e pode trazer à sua volta uma população de aglomerados estelares globulares (conjuntos de podem ter milhares de estrelas antigas ligadas gravitacionalmente) e pequenas galáxias satélites.
Estudaram 170 clusters deste tipo, 41 correntes estelares e 46 galáxias satélite da Via Láctea. Posicionaram-nas em função da energia e dinâmica e concluíram que 25% podem ser agrupados em seis grupos distintos, cada um correspondente a um processo distinto de fusão com a Via Láctea. Destes, cinco já tinham sido identificados O novo, Pontus, ganhou o nome do primeiro filho de Gaia, deusa da Terra na mitologia grega.
Os dados recolhidos em relação a este sexto processo de colisão permitem aos cientistas estimar que tenha ocorrido há oito a 10 mil milhões de anos, pela mesma altura que quatro dos outros cincos identificados. O evento mais recente, que já era conhecido e identificado como Sagitário, terá ocorrido há cinco ou seis mil milhões de anos “apenas” e ainda está a ser “processado” pela Via Láctea.
A imagem divulgada pela ESA faz uma representação da forma como o Gaia perceciona a Via Láctea. Os quadrados representam a localização dos aglomerados estelares que foram um dos alvos desta pesquisa. Os triângulos posicionam as galáxias satélite e os pontos as correntes estelares. A lilás (com ponto e quadrados) estão representados os objetos que a fusão com Pontus trouxe para a Via Láctea
Em junho deste ano o Observatório espacial Gaia vai disponibilizar novos dados, que podem ajudar a obter mais informação relevante para estas e outras pesquisas. A Missão Gaia tem como objetivo registar as propriedades de mil milhões de estrelas e fazer a partir daí uma representação a três dimensões da Via Láctea, um exercício que vai ajudar a reconstituir a história da própria galáxia e que é um ponto de partida para novas descobertas.
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