Dados de estudos que associam a turbulência aérea às alterações climáticas foram, recentemente recuperados, no rescaldo do incidente com um voo da Singapore Airlines que resultou na morte de um passageiro e ferimento de outros 100.

A turbulência é um movimento irregular e repentino do ar que pode ocorrer em situações como tempestades durante um voo, mas também em regiões da atmosfera de “ar limpo”, onde não existem formações meteorológicas visíveis ou detetáveis por radares. Este tipo de fenómeno tem vindo a aumentar em frequência e intensidade e terá sido o causador do incidente com o Boeing 777, que transportava 211 passageiros e 18 tripulantes de Londres para Singapura.

Um estudo da Universidade de Reading, publicado em junho de 2023, revelou que a duração da turbulência severa na rota do Atlântico Norte - uma das mais usadas em todo o mundo - aumentou 55% nas últimas quatro décadas, o mesmo acontecendo com as turbulências moderadas (37%) e leves (17%) na região.

A pesquisa sugere que essas mudanças estão relacionadas com os efeitos das alterações climáticas, uma vez que o ar mais quente devido às emissões de CO2 aumenta o chamado cisalhamento (mudanças rápidas na velocidade ou na direção do vento) nas correntes de ar rápido que se movem a grandes altitudes, geralmente entre 8 e 12 km acima do nível do mar, onde os aviões comerciais costumam voar (correntes de jato), intensificando a turbulência no “céu limpo”.

Cada minuto adicional de turbulência aumenta o desgaste dos aviões, tornando os voos mais acidentados e, por vezes, perigosos, com o risco de feridos a bordo a aumentar, destacam os autores do estudo.

Projeções futuras indicam que a turbulência severa em regiões de “ar limpo” pode duplicar ou triplicar nas próximas décadas, se as condições meteorológicas continuarem a mudar conforme o esperado, à medida que a Terra continua a aquecer, em grande parte alimentada pelo aumento vertiginoso dos gases com efeito de estufa na atmosfera, como tem ficado claro nos últimos cálculos na NASA e mesmo do sistema Copernicus.

As temperaturas médias globais do último ano atingiram máximos históricos em cada mês, numa sequência sem precedentes, segundo dados da NASA. Maio de 2024 foi o maio mais quente de sempre.

Para os cientistas da agência norte-americana, a série de temperaturas recorde enquadra-se numa tendência de aquecimento a longo prazo impulsionada pela atividade humana - principalmente pelas emissões de gases com efeito de estufa.

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Recorde-se que 2023 foi considerado o ano mais quente desde que há registoscom os números a ficarem 1,2 graus acima do normal. Juntamente com as temperaturas recordes vieram a humidade superficial do solo mais baixa do que a média, incêndios florestais, secas e inundações. As principais conclusões estão reunidas no ESOTC 2023.

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É difícil determinar se 2024 trará um novo recorde global de calor, mas os valores já estão próximos de 2023, aponta a agência norte-americana.