Os dados recolhidos da análise aos pedaços de um meteorito que caiu na cidade de Winchcombe, no Reino Unido, no ano passado mostram alguns dados surpreendentes. Os cientistas encontraram vestígios de água com caraterísticas muito semelhantes àquelas que temos na Terra, nos pedaços analisados.
O achado vem reforçar a teoria de que parte da água existente no planeta foi “bombardeada” por asteroides e cometas, há milhares de milhões de anos. Cerca de 11% da composição do meteorito de Winchcombe é água e a quantidade de átomos de hidrogénio aí contidos é muito semelhante àquela que é possível encontrar na água terrestre.
Algumas teorias defendem que a temperatura da Terra, pela sua idade, não permitiria manter no planeta tanta água como aquela que existe e admitem a possibilidade de que parte da água na Terra tenha sido introduzida mais tarde, na sequência do impacto de asteroides gelados.
Esta nova descoberta volta a pôr a hipótese em destaque, porque o Winchcombe não está a ser estudado como um meteorito diferente de tantos outros que já colidiram com a Terra. o que muda, neste caso, é o estado das amostras analisadas.
A rapidez com que foi possível recolher os detritos que sobraram do impacto no solo do meteorito de Winchcombe acabou por trazer aos investigadores mais dados “limpos” que o habitual. Em menos de 12 horas, quase meio quilograma de detritos foram recolhidos de quintais e campos em redor da cidade britânica, que segundos antes da aterragem teve o céu iluminado por uma bola de fogo.
Como os pedaços do meteorito estiveram pouco tempo no solo, pouco foram contaminados com substâncias que não traziam já consigo - incluindo água local - na longa viagem percorrida até chegar à Terra. Por norma não é assim e por isso admite-se que estes resultados só não são identificados mais vezes, por causa dessa contaminação da amostra.
"Todos os outros meteoritos foram comprometidos de alguma forma pelo ambiente terrestre", admitiu à BBC News Ashley King, do Museu de História Natural de Londres (MHN). "O Winchcombe é diferente devido à rapidez com que foi capturado. Isto significa que quando o analisamos, sabemos que a composição que estamos a analisar nos leva até à composição no início do Sistema Solar, há 4,6 mil milhões de anos”, acrescenta a responsável.
A cientista compara mesmo o nível de pureza das amostras do Winchcombe com aquele que seria possível encontrar se a rocha fosse diretamente recolhida de um asteroide, com uma nave espacial. Este nível de pureza também se verificou na análise dos restantes compostos orgânicos das amostras.
O trabalho realizado até agora permite também já identificar a origem do Winchcombe, que terá partido da cintura externa de asteroides entre Marte e Júpiter. Para chegar a esta conclusão, os cientistas analisaram os dados recolhidos por câmaras da bola de fogo que envolvia o Winchcombe. Invertendo o curso da viagem chegaram à origem.
Sabe-se já também que o Winchcombe se desprendeu de um asteroide, possivelmente numa colisão, e que precisou de 200 a 300 mil anos para chegar à Terra, um tempo que parece longo “mas que de uma perspetiva geológica é na verdade muito rápido", sublinhou também à BBC Helena Bates do MHN. O cálculo do tempo de viagem é feito a partir da análise do número de alguns átomos específicos na rocha, como o neon, que resulta do contacto a alta velocidade com partículas espaciais
Estes dados foram publicados no Science Advances Journal e são apenas os primeiros resultados das investigações realizadas, que vão continuar pelos próximos anos e que estão a cargo de várias equipas em diferentes países. Os pedaços daquele que já é considerado o meteorito mais importante alguma vez descoberto no Reino Unido foram partilhados pelo Museu de Londres com equipas de investigação de vários países.
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