A Estratégia Portugal Espaço 2030 prevê a criação de 1.000 postos de trabalho altamente qualificados até ao final da década, uma meta que os atores envolvidos no processo querem ver atingida e que é encarada como ambiciosa, mas realista. Paulo Chaves, do Cluster Português para as Indústrias da Aeronáutica, Espaço e Defesa, sublinha que o sucesso só depende da capacidade da indústria portuguesa em se “alinhar com as necessidades da procura e entrar nas cadeias de fornecimento internacionais”. 

O responsável, à data da conversa representante da comissão sectorial do Espaço da AED, refere-se sobretudo ao segmento dos microssatélites e micro-lançadores, onde estão muitas das empresas portuguesas com tradição no sector espacial e afiança que “temos entidades a trabalhar em todas as fases da cadeia de fornecimento”. 

A falta de escala tem sido um dos entraves à afirmação do sector espacial em Portugal, que começa a mobilizar-se, em iniciativas como a Magellan Orbital, que junta várias empresas para desenvolver, integrar e operar constelações de pequenos satélites

Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, explica que o número foi fixado a pensar “em toda a cadeia de valor, desde o desenvolvimento e fabrico de microssatélites e micro-lançadores e de todo o segmento terrestre associado, à operação dos mesmos, assim como à participação de entidades nacionais em projetos europeus e internacionais”, sejam eles da Comissão Europeia, ESA, ESO, SKAO ou de outras organizações. Também contempla o desenvolvimento do chamado ecossistema downstream, onde cabem os negócios que criam serviços e aplicações para sectores não espaciais, a partir de dados de observação da terra e de outras tecnologias espaciais. 

Serviços e aplicações para sectores não espaciais são os que prometem gerar mais emprego 

O responsável da Portugal Space admite mesmo que “este último segmento é aquele com maior impacto socioeconómico e também o que apresenta um maior potencial de crescimento ao nível do emprego”. É já hoje, aliás, uma das áreas com maior dinâmica de novos projetos, como demonstra o crescimento da rede local de incubadoras da Agência Espacial Europeia. 

Portugal quer brilhar na indústria espacial e as perspetivas são animadoras 
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Carlos Cerqueira, diretor de inovação do Instituto Pedro Nunes, que coordena a rede de incubadoras da ESA em Portugal, sublinha mesmo que Portugal já é um caso interessante no contexto europeu, pelo número de projetos inovadores na área. 

Em termos de faturação, as projeções associadas à Estratégia Nacional para o Espaço indicam que Portugal chegue a 2030 com uma indústria espacial capaz de gerar 400 a 500 milhões de euros anuais, valores bem diferentes daqueles que o sector movimenta atualmente. 

Sector terá faturado 55 milhões de euros em 2020 

“Em 2020, o sector espacial em Portugal terá faturado entre 45 milhões e 55 milhões de euros. Este valor representa principalmente o retorno do contributo nacional para o orçamento da ESA, que é na ordem dos 22 milhões de euros anuais e que retorna a Portugal em forma de contratos industriais”, detalha Ricardo Conde. 

Leia toda a análise no Especial sobre A indústria espacial em Portugal

A esta soma junta-se o financiamento recebido por via dos fundos estruturais em projetos mobilizadores e outros programas idênticos, geridos por entidades nacionais como a Agência Nacional de Inovação e a AICEP, parcela que, segundo a agência, deverá rondar os 10 milhões de euros, mas que consigo alavanca investimento privado adicional. 

A estes números juntam-se 15 milhões de euros, associados à participação de empresas portuguesas em programas da Comissão Europeia, como o Copernicus e o Galileo, ou via Horizonte 2020. E há ainda que contabilizar o financiamento à I&D nesta área, por parte da Fundação para a Ciência e Tecnologia, ou o impacto da contribuição anual português para entidades como o EUMETSAT, ESO ou SKA, que também voltam ao país sob a forma de contratos industriais. 

Espaço emprega pelo menos mil pessoas em Portugal 

A fotografia completa-se com o capital de risco que vai chegando a projetos no sector e com o negócio feito por privados, fora destes circuitos, contas que não são fáceis de fazer, porque para muitas empresas o Espaço ainda é apenas uma pequena área de negócio, sobre a qual não prestam contas ao mercado. 

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A agência fez também já um trabalho exaustivo para identificar quem está e quem faz o quê no sector espacial, em Portugal e criou um Catálogo Espacial Português, que está neste momento a atualizar. Os dados mais recentes contabilizam mais de 30 institutos de investigação que, como sublinha Ricardo Conde, “também são fundamentais ao nível da criação de riqueza e postos de trabalho” e cerca de meia centena de empresas.

Estas companhias empregam 950 pessoas, sendo que a grande maioria destes colaboradores (cerca de 850) trabalham em empresas que operam maioritariamente no sector espacial. As contas da AED apontam para números um pouco superiores. Entre as 85 empresas representadas no cluster, 57 têm ligações ao Espaço. Olhando para o resto do mercado, a associação estima que possam existir cerca de uma centena de empresas a trabalhar na área em Portugal. 

Este artigo integra um especial sobre a indústria espacial em Portugal, onde também pode ler: 

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Startups trazem tecnologia do Espaço para negócios na Terra nas 15 incubadoras da ESA em Portugal

"Estamos a dar passos para um importante impulso ao Ecossistema Espacial de Santa Maria nos Açores”, entrevista com Ricardo Conde, presidente da Portugal Space.

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