Há alguns anos, as baterias de um computador portátil ou smartphone eram geralmente amovíveis, acessíveis através de uma tampa de acesso rápido. Isto significava que era possível substituir facilmente a bateria do equipamento sempre que esta ficava “viciada” e sem capacidade de receber mais carga. O conceito perdeu-se, uma vez que a complexidade dos equipamentos obriga a intervenções técnicas para aceder à sua substituição. E muitas das vezes o valor a pagar por essas reparações deixam de compensar, incentivando os utilizadores a trocar de smartphone.
A Apple chegou a estar envolvida no caso “Batterygate”, numa longa batalha judicial, e condenada a pagar 500 milhões de euros em indeminizações por “viciar” as baterias dos iPhones mais antigos e desacelerar os equipamentos. E depois ainda ofereceu 50 dólares de desconto na substituição das baterias dos smartphones afetados, num caso que remota a 2017.
As diferenças entre baterias de polímero de lítio (Li-Po) e íon de lítio (Li-Ion)
As fabricantes de smartphones e portáteis continuam a investigar novas tecnologias para preservar as baterias, prolongando o seu tempo de vida, ou melhor, oferecendo mais ciclos de carregamento. A Oppo, por exemplo, é uma das fabricantes que tem investido em investigação e desenvolvimento da tecnologia das baterias, garantindo que os seus smartphones mais recentes conseguem durar 1.600 ciclos de carga, ou seja, o dobro das ofertas habituais, correspondendo a cerca de quatro anos de vida. Mas todas as marcas têm procurado, de uma forma ou de outra melhorar a bateria e contribuir para a diminuição do "stress da autonomia".
Atualmente existem dois tipos de baterias mais utilizadas nos equipamentos: polímero de lítio (Li-Po) e íon de lítio (Li-Ion). As tecnologias são semelhantes, mas as baseadas em Li-Po são mais recentes que as anteriores convencionais Li-Ion (que alimentam equipamentos mais antigos). A nova tecnologia é flexível e leve, sendo utilizada em equipamentos cada vez mais pequenos e moldadas perante as necessidades das fabricantes. É possível construir uma bateria Li-Po com uma pequena capacidade de carga, de 1.000 mAh, por exemplo, com uma espessura muito fina para auriculares ou smartwatches.
Esta nova tecnologia de baterias foi também adotada pela indústria pelas suas capacidades de carregamento rápido dos smartphones, por exemplo. Além disso, são consideradas as mais seguras e com uma performance estável.
Existem vantagens e desvantagens entre os dois tipos de bateria. Por ser uma tecnologia madura, as anteriores baterias Li-Ion são mais baratas e conseguem reter até mais quatro vezes a carga comparada com uma moderna Li-Po, de tamanhos semelhantes. É por isso que vemos nas diferentes gamas de smartphones uma versão Pro ou Ultra com uma bateria com menor capacidade, mas com carregamento rápido, provavelmente baseado em Li-Po; e equipamentos de gama inferior com mais capacidade de bateria, mas com um tempo de carregamento superior.
A tecnologia mais recente também tem uma capacidade de reter a energia, ou seja, a bateria não se descarrega tanto de forma passiva, quando o equipamento não está a ser utilizado. No entanto, as anteriores Li-Ion têm um ciclo de vida maior, de dois a três anos, enquanto que as Li-Po podem durar menos.
Também já se olha para o futuro, com a mudança para a tecnologia de baterias Solid State, que utilizam elétrodos sólidos em substituição dos líquidos ou gel polímero. A Xiaomi também já revelou que está a trabalhar numa solução de baterias High-Silicon Lithium, capaz de receber mais energia no mesmo volume das atuais.
Melhores práticas de preservação das baterias
Durante muitos anos criaram-se mitos em torno da preservação das baterias. Será saudável manter o equipamento, neste caso um portátil, permanentemente ligado à corrente? Deveremos apenas carregar a bateria quando esta estiver a zero, para que o ciclo se complete e esta não fique viciada? São perguntas que provavelmente já terá feito ou ouvido, mas nem sempre as respostas são consensuais ou mesmo corretas.
Independentemente da melhor utilização das baterias há que perceber que estas se vão desgastar ao longo dos anos. O tempo que o seu ciclo de vida pode durar é que pode então depender da forma como utiliza os equipamentos. Seja um smartphone, um portátil ou um simples smartwatch, vai notar que ao longo do tempo a autonomia vai sendo cada vez menor, em casos críticos não se aguenta um dia completo sem ser colocado à carga.
Nesse sentido, um dos comportamentos que deve mudar é evitar o carregamento de ciclos completos, ou seja, deixar o equipamento ficar sem bateria (0%) e depois carregá-lo a 100%. Um ciclo representa a carga de 0-100%. A ideia é alimentar o equipamento com pequenas cargas, quando este se encontra entre os 20% e 50% de bateria. Os especialistas dizem que o objetivo é prolongar os tais ciclos de carregamento.
Na teoria, se um smartphone tiver uma bateria com 500 ciclos de carga (como um iPhone), significa que este pode carregar 500 vezes quando está totalmente descarregado até ao máximo. Por outro lado, deverá tentar parar o carregamento quando atinge 80%, um exercício bem mais complicado, mas que é referido como o mais correto para prolongar a vida do equipamento. Com as baterias de lítio não só pode fazer estes carregamentos parciais, como ajudam a prolongar a sua vida útil
Outra dúvida é se devemos ou não manter um portátil ligado à corrente quando a bateria já está a 100%. Ou seja, fazer uma utilização para o trabalho sempre ligado à energia. Os especialistas não aconselham a manter o computador ligado 24/7. Apesar de não ser aconselhado manter smartphones a carregar durante a noite, as baterias mais modernas estão preparadas para pararem de absorver energia. Evitar quando não é necessário é o ideal, mas atualmente não é motivo de preocupação se o deixar ligado esporadicamente.
Um mito recorrente diz respeito à necessidade de ocasionalmente descarregar totalmente a bateria e depois voltar a carregar por completo, devido aos vícios de memória da bateria. Essa teoria aplicava-se às antigas baterias de chumbo e ácido, que nem sequer eram utilizados em equipamentos, mas sim nos automóveis.
No caso de planear não utilizar um equipamento durante algum tempo (cerca de seis meses), a Apple diz que deverá guardá-lo com cerca de 50% da bateria. Deverá depois voltar a carregar a cada seis meses, mantendo-o a 50%. A Samsung deixa ainda o apontamento de que deverá carregar 100% o equipamento quando o volta a utilizar após um longo período guardado.
E no caso dos carregamentos rápidos, os especialistas aconselham a utilizar apenas quando é mesmo necessário. Um dos principais inimigos da bateria é o calor e como deve ter notado, o carregamento rápido aumenta a temperatura do equipamento, mesmo que estes estejam obviamente preparados para receber esse esforço adicional de carga.
Ainda no que diz respeito ao aquecimento, deve evitar manter um smartphone, tablet ou outro equipamento em locais quentes, tais como o deixar no interior veículo, expostos ao sol. E quando estiver à carga não o cubra, se possível retire a respetiva capa, devendo mantê-lo em locais mais frescos.
Utilizar o equipamento (a jogar ou a ver vídeos) enquanto carrega o equipamento também contribui para o seu aumento de temperatura. A Apple explica que a temperatura ideal para a utilização dos equipamentos deve estar entre os 16-22º, devendo-se evitar locais com mais de 35º para não danificar a duração de vida das baterias.
Apesar da tendência passar pela universalização dos carregadores, tendo sido adotado o formato USB-C para 2024, deve ter cuidado na utilização dos transformadores não fornecidos com o equipamento. Não faz mal adquirir uma alternativa mais em conta de uma fabricante independente, mas tenha atenção a eventuais diferenças entre voltagem ou amperagem que podem não ser saudáveis para a bateria. Deverá de confirmar nas instruções a compatibilidade com os equipamentos para evitar possíveis danos.
Equipamentos mais modernos estão melhor preparados
Felizmente que algumas destas más práticas acabam por ser compensadas pela própria tecnologia. Ou seja, as fabricantes introduzem mecanismos, agora geridos por inteligência artificial, que ajudam a manter o carregamento dos equipamentos mais saudável.
Por exemplo, a definição de períodos de carregamento ou a deteção dos 100% de bateria, cortando a energia que entra num smartphone ou portátil. No caso da Apple, o sistema pausa temporariamente o carregamento quando deteta condições de temperaturas extremas, retomando quando o equipamento arrefece. E a partir do iOS 16 há uma notificação que isto acontece.
A Asus também utiliza o seu sistema Battery Health Charging, integrado no ecossistema MyAsus, para ajudar os utilizadores a gerirem o carregamento dos equipamentos. No caso da Lenovo, ao utilizar o carregador fornecido com os seus portáteis, os equipamentos são alimentados diretamente pela corrente elétrica e não pela bateria. O sistema HP Battery Health Manager tem definições que funciona ao nível da BIOS do equipamento, desenhado para otimizar a vida das baterias, ajudando a mitigar alguns dos problemas apontados pela má utilização da bateria.
Considerando que se comprar um smartphone ou portátil novo não terá algumas das dores de cabeça na gestão de carregamento, certamente que ainda terá em casa modelos com sistemas mais antigos e menos inteligentes. Deve dessa forma aplicar as melhores práticas de utilização aqui listadas.
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