No início do ano, a sonda Gaia deu a conhecer ao mundo o primeiro mapa 3D em grande escala para a nossa galáxia, baseado em medidas diretas das posições das estrelas em relação a nós.

Desde então, esse catálogo tem vindo a ser explorado para examinar as propriedades e os movimentos das estrelas na nossa galáxia, entre elas um pequeno número de corpos celestes de "alta-velocidade". Consideradas as estrelas mais rápidas, supostamente começariam a sua vida perto do centro e depois seriam lançadas em direção aos limites da Via Láctea.

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Agora, uma equipa de astrónomos descobriu que, de sete milhões de estrelas identificadas pela sonda Gaia com medições de velocidade 3D, 20 conseguem viajar rápido o suficiente para “escapar” da Via Láctea, um número que apanhou os cientistas de surpresa.

Além disso, em vez de “voar para longe do centro galáctico, a maioria das estrelas de alta velocidade que vimos parece estar a correr em direção a ele", acrescenta o co-autor da investigação, Tommaso Marchetti.

O astrónomo explica que se podem tratar de estrelas de outra galáxia “que estão de passagem pela Via Láctea”, sendo a Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia relativamente pequena que orbita a Via Láctea, apontada como sendo a origem possível.

Se for esse o caso, carregam a marca do seu local de origem, pelo que estudá-las a distâncias muito mais próximas do que a sua galáxia-mãe pode fornecer informações sem precedentes sobre a natureza das estrelas noutra galáxia. Para o cientista é como “estudar material marciano trazido para o nosso planeta por meteoritos”.

Elena Maria Rossi, outra das autoras deste estudo, destaca ainda que, uma vez que as “estrelas podem ser aceleradas a altas velocidades quando interagem com um buraco negro supermassivo”, a presença destes corpos celestes pode ser um sinal da existência de tais buracos negros em galáxias próximas.

“Mas as estrelas também podem ter sido parte de um sistema binário, lançado em direção à Via Láctea quando a sua estrela companheira explodiu como uma supernova”, explica a investigadora.

Existe ainda uma explicação alternativa que é a de que as estrelas “hiper velozes” recentemente identificadas poderiam ser nativas do halo da nossa galáxia, tendo sido aceleradas e empurradas para dentro através de interações com uma das galáxias satélite e que "caíram" em direção à Via Láctea.