“Então, pá?”. Foi assim que José Correia Guedes, um ex-piloto e contador de histórias nato, ouviu o seu chefe iniciar uma conversa de "raspanete", após um incidente que envolveu rebentar pneus durante uma aterragem no Funchal.
O episódio marcou não só uma memória no mundo da aviação, mas também dá o nome a uma série de publicações bem-humoradas de sucesso nas redes sociais, que têm conquistado seguidores de todas as idades.
Hoje, José Correia Guedes, também conhecido como "O Aviador", @cpt340 ou @cptboeing "viaja", respetivamente, entre as plataformas digitais Facebook, X (antigo Twitter) e Instagram, encantando públicos distintos com a sua escrita singular e as suas histórias fascinantes. Mas, como o próprio gosta de contar, o início desta jornada não foi menos curioso.
Em 2012 lançou o seu primeiro livro “Na Rota do Yankee Clipper”, uma obra que narra o acidente de um hidroavião da Pan Am no rio Tejo durante a Segunda Guerra Mundial. Sem ser conhecido no meio literário, financiou a publicação do próprio bolso. O lançamento nem correu mal, conta, com as vendas iniciais a cobrirem os custos, mas o livro acabou esquecido em prateleiras devido à ausência de promoção.
A vontade de ser lido, no entanto, persistiu. “Achei que era importante contar aquela história”, lembra. Sem opções no mercado tradicional, decidiu experimentar um novo canal: as redes sociais. Criou uma página no Facebook intitulada “O Aviador” e começou a partilhar as suas histórias. E desde aí nunca mais parou.
“Rapidamente aquilo disparou: 500 seguidores, 1.000, 2.000, 10.000, por aí fora”. Quando atingiu 10 mil seguidores, a editora Leya entrou em contacto, e José finalmente viu o seu livro ganhar espaço numa grande editora. “Sem as redes sociais, isso não teria acontecido”.
Um contador de histórias em qualquer plataforma
José Correia Guedes tem uma habilidade singular - e autodidata - de adaptar os conteúdos ao público de cada rede social. No Facebook, onde mantém a página com perto de 60 mil seguidores, partilha histórias divertidas e nostálgicas. No X, com quase 37 mil seguidores, explora temas técnicos e atuais sobre aviação e tecnologia, interagindo diariamente com os seus seguidores. Já no Instagram, que vive mais das imagens, o ritmo é mais leve, mas não menos autêntico.
Veja na galeria imagens publicadas por José Correia Gomes nas redes sociais
Descreve as redes como uma excelente forma de ligação ao público. “Acho muito interessante esta ligação direta do autor com o leitor. Recebo mensagens diariamente, de jovens que querem ser pilotos, de pessoas que têm medo de voar a pedir ajuda, entre outras”.
Num episódio recente, uma passageira desesperada enviou uma mensagem ao ver o capô do motor de um avião aberto antes da descolagem. “Respondi que não era nada de grave, só estavam a mudar o óleo”.
Essa interação, segundo ele, é gratificante. E, de certo modo, José vê-se como uma espécie de padre, ouvindo confissões e aliviando ansiedades. “Penitências é que nunca dou”, brinca.
Define-se como contador de histórias, não como escritor. A sua série “Então, pá?”, no X, exemplifica o seu estilo único de transformar pequenos incidentes em narrativas envolventes. Inspirada pela sua experiência pessoal, aborda acontecimentos do quotidiano da aviação, sempre com um toque de humor.
Para José Correia Gomes, cada plataforma exige uma abordagem diferente. O X, com o seu limite inicial de 280 caracteres, foi um desafio que ele abraçou com entusiasmo, embora atualmente já não tenha esse problema. “Era um exercício muito interessante, às vezes demorava meia hora ou mais para criar um tweet que fosse inteligível”.
No Facebook, explora textos mais longos e envolventes, mas sempre com cuidado para não ultrapassar a paciência dos leitores. “Hoje em dia, percebo que as pessoas têm preguiça de ler textos grandes. Então, tem que ser com peso e medida. Os podcasts estão a ganhar cada vez mais força, porque ouvir é mais fácil”. Ele próprio gravou a versão em áudio do seu livro, seguindo esta tendência crescente.
Além da sua carreira digital, incentiva amigos e conhecidos a seguirem o mesmo caminho. Acredita que as redes sociais democratizam o acesso ao público, algo que antes era restrito às grandes editoras. Um exemplo que cita com orgulho é o de um amigo de 97 anos, que aprendeu a usar o Facebook e agora partilha as suas histórias com entusiasmo.
"Eu digo sempre: escrevam no Facebook. É a plataforma ideal para quem quer contar histórias e alcançar leitores, especialmente para pessoas da minha geração ou mais velhas".
Aos 76 anos, José Correia Guedes continua a reinventar a sua forma de contar histórias, seja com palavras, imagens ou áudio. Vê nas redes sociais não só um meio de comunicação, mas também um espaço de aprendizagem e troca.
Mesmo no meio dos desafios, como lidar com o ódio online e a superficialidade de alguns, mantém o foco no que realmente importa: partilhar experiências, informar e, acima de tudo, entreter. “Eu gosto de escrever. Sempre gostei. E gosto de contar histórias. É isso que faço, e é isso que quero continuar a fazer”.
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