Brad Smith, o presidente da Microsoft, assumiu o palco principal do Web Summit para falar do perigo crescente dos ataques cibernéticos que assolam o mundo. Uma espécie de “guerra fria”, onde se incluem os velhos protagonistas Estados Unidos e Rússia, mas com muitos outros "players", onde os ataques cibernéticos são uma realidade muito perigosa.
A chamada “paz tecnológica” é um período para se falar dos perigos que advêm com o avanço da tecnologia. Brad Smith acredita que no futuro a tecnologia vai curar doenças como cancro, mas até lá muitos novos perigos irão imergir, tais como ataques às redes elétricas ou às eleições. “Estes são os problemas atuais da humanidade. Há 6,5 triliões de sinais diariamente e o que se vê é que as ferramentas que se têm criado para ajudar as pessoas, têm sido transformadas em armas", destaca o executivo.
2017 foi o ano para o “acordar do mundo” para os perigos, o 12 de maio os ataques e depois o 26 de junho, quando as empresas, empregados e clientes pelo mundo foram atacados. "Não podemos dizer: não precisamos de nos preocupar, mas temos sim, as pessoas estão a ser afetadas com este problema", salienta. E o pior é que não se encontram soluções enquanto não se reconhecer que existem perigos que devem ser partilhados. A intervenção do presidente da Microsoft é um dos alertas do que deve ser feito, como refere.
O ataque WannaCry foi um exemplo de ataques a negócios e clientes, tendo um impacto nas empresas. Desde agendamentos cancelados, consultas que deixaram de se fazer, prejudicando pessoas doentes: “fomos hackados” foi a justificação, algo “invisível” que afetou a vida das pessoas, tornando-se o “grito de alerta” para o perigo dos ataques cibernéticos, utilizando armas como computadores ligados à internet…
Outros exemplos de ataques foram as caixas de ATM, e quando se pensa que não volta a acontecer, a certeza é que sim, vai acontecer, é referido num vídeo mostrado na palestra. O Wannacry afectou mais de 300 mil computadores no mundo, e o fantasma continua bem presente, pois a qualquer momento pode voltar a acontecer. O pior é que as armas “somos todos nós”, a falta de segurança nos computadores e ligações, facilmente atacáveis, refere o presidente da Microsoft no seu discurso.
Existe mil milhões de vítimas de ataques por ano, refere Brad Smith, e esse número vai aumentar, porque todos os aparelhos estão conectados, desde a aparelhagem da sala de estar, ao avião que transporta passageiros, hospitais com os seus dados ligados à rede, ou máquinas vitais ligadas à eletricidade. “A vida das pessoas está em risco”, adianta o executivo.
Destaque para o evento Road to Paris, que pretende reunir para um fórum durante uma semana todos os líderes do mundo, acreditando ser um dia histórico. A 11ª hora, do 11º dia, do 11º mês, que sinaliza o fim da primeira guerra, no próximo domingo. Refere que é preciso aprender com esta guerra para reagir aos perigos imergentes. Existem grandes semelhanças entre a guerra de 1914 e a atual, onde as pessoas foram apanhadas no meio de um dos conflitos mais sangrentos de sempre. “Ainda assim não estou a dizer que estamos perante uma eminente terceira guerra mundial, mas as pessoas devem preparar-se e aprender com o passado, para se focarem no futuro”. Quatro anos depois e 16 milhões de mortes depois, a Europa tinha acordado para a realidade da primeira guerra mundial. Os governos têm falhado e a tecnologia tem continuado a ser desenvolvida, tendo dado depois origem a uma segunda guerra mundial.
Por fim, deixou a mensagem que Obama deixou na sua visita no Japão, para homenagear os mortos da segunda guerra mundial: “precisamos fazer mais, precisamos que os governos façam mais, e não apenas apontar o dedo a este ou aquele culpado pelos ataques". Os governos devem ter princípios de como proteger as pessoas e as eleições, serem capazes de fazer as leis internacionais prevalecerem. Leis como uma quarta convenção de Geneva e a Convenção Digital de Geneva para proteger as pessoas, assim como criar uma espécie de Nações Unidas, mas com grupos de governantes especialistas em tecnologia.
“Nós somos o campo de batalha” e devemos levantar-nos para princípios mais claros, e as boas notícias, segundo o presidente da Microsoft, é que depois do Web Summit do ano passado foram fechados novos acordos entre o sector tecnológico, capazes de proteger os clientes e empresas. Houve um acordo tecnológico de cibersegurança entre dezenas de empresas tecnológicas, criando aquilo que foi apelidado de “Chart of Trust”. A Microsoft é uma das entidades fortemente envolvidas na procura desta paz cibernética, tendo inclusivamente alertado para ataques e agido, tendo bloqueado ataques da Rússia previstos para as eleições dos Estados Unidos nesta terça-feira. A Microsoft apresentou ainda novas ferramentas gratuitas para proteger as eleições nos países do mundo. "Mas no fim, o mundo tem de se unir, governos, empresas, pessoas, instituições", salienta.
Mas há uma última coisa no seu discurso que deve ser salientado: “o silêncio das pessoas. As pessoas devem ser ouvidas, e neste século, as pessoas devem ser ouvidas”, repetiu diversas vezes, salientando que as pessoas devem saber a “riqueza que têm em casa”, mas a responsabilidade de ser uma potencial "arma". Nesse sentido, a Microsoft apela a uma “Paz Digital”, e lançou uma petição para todos assinarem e assumirem o seu compromisso. “A vossa voz precisa ser ouvida”, foi a frase com que terminou o seu discurso.
O Web Summit 2018 arrancou esta segunda-feira e vai prolongar-se até à próxima quinta-feira, dia 8 de novembro, com vários palcos a funcionarem, por onde vão passar centenas de oradores. Acompanhe tudo o que se passa com o SAPO TEK.
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