Vivek Murthy, Cirurgião Geral dos Estados Unidos, quer pôr um aviso nas redes sociais, semelhante aos dos que se veem nos maços de cigarros. Com um cargo correspondente ao de Diretor-Geral da Saúde em Portugal, o médico está preocupado com a saúde mental dos mais novos.
O objetivo é que os EUA obriguem as redes sociais a pôr alertas de perigo, uma vez que o uso destas plataformas pelas crianças e jovens aumenta o risco de surgimento de sintomas de ansiedade e depressão, noticia o New York Times. O Cirurgião Geral não tem poder para aprovar leis, mas pode influenciar o Congresso a tomar decisões. O médico pede também aos pais que limitem o tempo que os adolescentes passam nas redes sociais.
As advertências nos maços de tabaco foram apostas pela primeira vez em embalagens de cigarros nos Estados Unidos em 1966. O Reino Unido passou a exigir a impressão de uma mensagem semelhante nos maços de cigarros em 1971. Em Portugal, as mensagens como “Fumar mata” e “Fumar prejudica gravemente a sua saúde e a dos que o rodeiam”, apareceram pela primeira vez em 2003, na sequência da transposição da Diretiva Europeia para o enquadramento legal nacional.
O cirurgião-geral considera que está provado que a impressão destes rótulos nas embalagens de tabaco aumentou a consciencialização para os riscos associados ao tabagismo, pelo que, acredita que “um aviso semelhante aplicado às plataformas de redes sociais incentivaria os pais a monitorizar a segurança dos seus filhos online”.
Num artigo de opinião no New York Times, o médico diz que, quem visita essas plataformas, deveria ser alertado para o facto de as redes sociais estarem “associadas a danos significativos para a saúde mental dos adolescentes”. Este aviso “recordaria regularmente aos pais e aos adolescentes que as redes sociais não são comprovadamente seguras”, conclui.
Vivek Murthy pretende que o Congresso exija às redes sociais, como o Facebook, o TikTok ou o Instagram, a obrigatoriedade da inclusão de avisos de saúde pública nas plataformas, para alertar sobre os efeitos na saúde mental dos utilizadores adolescentes.
A preocupação do cirurgião-geral centra-se, em particular, nos adolescentes, porque concluiu que “passar mais de três horas por dia nas redes sociais dobra o risco de sintomas de ansiedade e depressão”. Vivek Murthy é um dos mais altos responsáveis pela saúde nos Estados Unidos da América. É vice-almirante do Corpo de Comissários do Serviço de Saúde Pública e cirurgião-geral dos Estados Unidos desde 2021.
Não é a primeira vez que o gabinete de Vivek Murthy manifesta esta preocupação. Em 2023, Vivek Murthy publicou um parecer sobre a saúde pública que estabelece uma correlação entre a utilização das redes sociais pelos adolescentes e uma saúde mental precária. Nesse parecer apela à realização de mais investigação, pois não existe consenso académico sobre o impacto das redes sociais na saúde dos jovens.
Preocupado com as consequências desta possibilidade, não obstante a falta de consenso entre os investigadores, avança que é melhor não esperar pela “informação perfeita”, e aceitar “os factos disponíveis”, usar o bom-senso e agir rapidamente.
O cirurgião-geral defende que estes danos “não resultam de uma falha de vontade ou da educação dos pais”. Na sua opinião, os potenciais riscos para a saúde dos adolescentes são consequência de “uma tecnologia poderosa sem medidas de segurança, transparência ou responsabilidade adequadas”.
No artigo, o médico apelou também à proibição da utilização do telemóvel nas escolas e disse que os pais deviam impedir as crianças de utilizar os aparelhos durante as refeições e à hora de dormir.
A BBC contactou Gin Lalli, psicoterapeuta e autora de “How to Empty Your Stress Bucket”, que disse que os rótulos de aviso seriam “um passo significativo para promover uma melhor saúde mental e bem-estar”. A psicoterapeuta considera que as redes sociais têm muitos benefícios, mas que podem ter também riscos como o ciberbullying ou a exposição a conteúdos nocivos. São riscos que conduzem à ansiedade, à depressão e a outros problemas de saúde mental que tanto Gin Lalli como os seus colegas testemunham cada vez mais.
A psicoterapeuta defende que, além de ser um lembrete para as pessoas para usarem as redes sociais com conta, peso e medida, a advertência também é um back-up para os pais, que aumenta a sua autoridade na definição de limites de utilização das redes sociais.
Em janeiro de 2024, Mark Zuckerberg, diretor-executivo da empresa-mãe do Facebook, Meta, respondeu à pergunta do Congresso norte-americano: “como podem, as redes sociais, prejudicar as crianças?” Mark Zuckerberg assinalou que “o conjunto de trabalhos científicos existentes não demonstrou uma relação causal entre a utilização das redes sociais e o agravamento da saúde mental dos jovens”.
No entanto, alguns investigadores apontam para uma correlação. Na sequência do estudo de 2017, “Have Smartphones Destroyed A Generation?”, de Jean M. Twenge, apontou que os adolescentes estavam à beira de uma crise de saúde mental, Jonathan Haidt, foi mais longe e questionou: “Has Social Media Destroyed a Generation?”. Jonathan Haidt é professor de liderança ética na Universidade de Nova Iorque e cofundador da Heterodox Academy, e asseverou que o Governo federal, devia “aumentar os seus esforços para reduzir os danos causados pelas redes sociais”. O autor assinala que, “embora as plataformas não tenham sido inicialmente concebidas para menores de 18 anos, este segmento tem sido indiscutivelmente a sua vítima”, salientando que o melhor é “consumir com moderação”, tal como o açúcar .
Investigações encontraram uma correlação entre a utilização em demasia de “social media” e o impacto negativo na saúde mental dos adolescentes, e outros estudos associaram a utilização das redes sociais pelos adolescentes a uma redução do grau de satisfação com as suas vidas.
Por outro lado, outros estudos não encontram correlação entre o uso de redes sociais e problemas de saúde mental. Em 2023, o Wall Street Journal citou um estudom que não encontrava nenhuma evidência da relação entre a expansão do Facebook e o incremento de perturbações psicológicas. O estudo tinha a mão do Facebook. Outro estudo refere que algumas crianças beneficiam de passarem tempo online a falar com amigos que já conhecem off-line.
A Associação de Psicólogos norte-americanos diz que as redes sociais não são “intrinsecamente benéficas ou prejudiciais”, embora alerte para a utilização problemática e pretenda que sejam retirados os conteúdos que incitem a danos.
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