Christopher Wylie, whistleblower do Facebook no polémico caso Cambrige Analytica e agora responsável pelo departamento de tecnologias emergentes da H&M, subiu ao palco para uma conversa acerca da regulação da Internet e do mundo das tecnologias na sessão “Move fast and fix things: Creating a building code for the Internet”.

O caso Cambrige Analytica causou uma profunda disrupção na forma como olhamos para as redes sociais e plataformas online e Christopher Wylie, como muitos outros, sentiu-a na pele. Com o advento de equipamentos que integram assistentes inteligentes, como a Alexa da Amazon, “damos os primeiros passos para a integração inevitável do ciberespaço com a nossa realidade”, afirma o responsável.

Viajemos no tempo até daqui a 10 anos: “a Amazon saberá quando tomamos uma Aspirina e o Facebook tomará conta dos nossos filhos enquanto brincam na sala”. Christopher Wylie pinta um futuro onde todas as tecnologias não só observam os nossos hábitos e comportamentos, mas também pensam acerca do que poderemos, ou não fazer, tentando alterar as decisões tendo em conta quem gostariam que nós fossemos.

Aqui, a televisão passa a observar o utilizador; os eletrodomésticos na cozinha conversam entre si acerca de quem está a preparar o jantar, as portas dos apartamentos transformam-se em porteiros e os automóveis decidem se o condutor chega, ou não, a tempo ao trabalho dependendo do “pacote” de serviços a que subscreveu.

“Imaginem viver numa casa assombrada por algoritmos invisíveis. Estamos a criar um futuro que poderá ser «possuído» por algoritmos sem considerar o impacto que isso poderá ter na experiência humana.”, enfatiza Christopher Wylie.

Neste futuro, a tecnologia deixa de ter um papel passivo ou benigno, passando a ter uma influência direta nas nossas ações, assim como “intenções, opiniões e agendas” próprias.

Olhando para o mundo online, o responsável recorda que a Internet chegou com a promessa de quebrar barreiras, mas ocorreu um fenómeno diferente: os internautas passam “horas nas redes sociais a seguir pessoas como eles e a ler artigos curados para eles por algoritmos”: “estamos a assistir à segregação da nossa realidade".

O responsável afirma que as experiências partilhadas são a base fundamental para a solidariedade entre cidadãos e fazem parte da história de múltiplos movimentos de direitos civis. Por outro lado, a segregação manifesta-se de modo “mundano”, expressando-se atualmente no mundo online e habitando na sua própria arquitetura.

Para Christopher Wylie, a tecnologia está, aos poucos, a reger tudo na nossa vida e a decidir o nosso valor enquanto seres humanos. É neste contexto que a privacidade desempenha um papel relevante, sendo a “essência do nosso poder de decisão”.

Embora o que esteja a acontecer com as redes socais pareça algo novo, o responsável defende que temos de olhar para este fenómeno pela lente da História. “Com as Big Tech, vemos a História a repetir-se” e, apesar de as empresas argumentarem que a forma de lidar com os problemas é criar uma maior consciencialização e informar mais o público, Christopher Wylie defende que isso não é suficientes e que é necessária mais regulação.

Um código para a Internet poderá ser a resposta para os problemas, defende. Este código profissional, que terá como objetivo garantir que o peso de assegurar que uma determinada tecnologia é segura recai sobre as empresas, não sobre os utilizadores, que deixam de ser “cobaias”, seria idealmente suportado por um corpo legal, assim como por código de ética para os engenheiros. Christopher Wylie apela a quem trabalha em tecnologia para ser parte da mudança, porque esta é a altura ideal para “agir rapidamente e consertar as coisas”.

Veja as imagens captadas pela equipa do SAPO TEK que dão uma perspetiva por dentro do Web Summit

4 dias de agenda cheia

O Web Summit 2021 começou ontem com uma sessão de abertura onde as startups subiram ao palco mas onde a notícia principal foi Frances Hugen, a denunciante do Facebook que tem acusado a rede social de adotar práticas nocivas em favor do lucro financeiro. Também Carlos Moedas e o ministro Pedro Siza Vieira estiveram em palco para promover o empreendedorismo em Portugal e acolher as startups que se queiram instalar no país. O novo presidente da Câmara de Lisboa anunciou a criação de uma "fábrica de startups" para 2022.

Este é só o início do Web Summit, e de uma agenda cheia. No SAPO TEK, já tínhamos dado a conhecer 10 oradores que vale a pena ouvir no Web Summit 2021 e para ajudar a compor a sua agenda para o evento, destacamos ainda algumas das talks que deve apontar no calendário, e que poderá também consultar ao detalhe no website do Web Summit, ou na própria aplicação do evento.

Clique nas imagens para conhecer algumas talks que vale a pena acompanhar no Web Summit 2021

Dia 3 de novembro

O lançamento oficial da European Startups Nations Alliance (ESNA) está em destaque no palco central do Web Summit, numa sessão liderada por Pedro Siza Vieira, Ministro da Economia. Apresentada neste ano, a ESNA, onde Portugal apresenta um papel de destaque, afirma-se como um passo essencial para tornar o ecossistema europeu de empreendedorismo mais competitivo.

A pandemia de COVID-19 pôs a “nu” as disparidades que existem no mundo, incluindo no acesso ao digital, que se tornou numa ferramenta fundamental para manter a vida a funcional no “novo normal”. Será possível atingir uma maior equidade digital entre países? É esta a pergunta a que Brad Smith, presidente da Microsoft, se propõe a responder nesta sessão.

O desenvolvimento do metaverso é um dos novos objetivos do Facebook, que, ainda na semana passada mudou de identidade, passando a chamar-se Meta, refletindo os seus novos propósitos. Nesta sessão, Chris Cox, CTO da empresa, dará a conhecer um pouco mais do que podemos esperar do metaverso e sobre a forma como promete transformar as nossas vidas.

Dia 4 de novembro

Estaremos a entrar na época áurea da tecnologia europeia? Embora a Europa tenha apenas um décimo de todos os “unicórnios”, com as empresas dos Estados Unidos e China a liderarem nesta categoria, há potencial para ter um papel ainda mais relevante no ecossistema tecnológico global. Nesta sessão, António Dias Martins, CEO da Startup Portugal, e Kat Borlongan, Founding Member da Scale-Up Europe, darão a conhecer o que será necessário para a Europa atingir o seu potencial.

A sustentabilidade e a luta contra as alterações climáticas também fazem parte das temáticas em debate no Web Summit 2021. Patrick Brown, CEO da Impossible Foods, sobe ao palco central para uma sessão acerca da forma como a redução do consumo de produtos animais e a escolha de uma alimentação à base de plantas pode ser uma das formas mais poderosas de pôr um travão nas alterações climáticas.

O “pai” da World Wide Web está de regresso ao Web Summit para uma sessão centrada no uso desregrado de dados. Acompanhado por John Bruce, CEO e cofundador da Inrupt, Tim Berners-Lee, também cofundador e CTO da empresa, deixará um apelo aos governantes um pouco por todo o mundo, focando-se na forma como será possível catalisar a próxima era da web.

Deixe também na caixa de comentários outras sugestões e acompanhe o trabalho do SAPO TEK no Web Summit através do dossier dedicado à conferência.