Quanto mais a tecnologia entra na vida das empresas, mais os líderes empresariais percebem que têm de apostar na sustentabilidade humana das organizações, dos mercados e da sociedade, conclui um novo estudo da Deloitte. A pesquisa verifica que à medida que as mudanças tecnológicas e culturais estão a reestruturar o mundo do trabalho, o foco no factor humano ganha um espaço cada vez maior como elemento diferenciador na capacidade de criação de valor acrescentado para as empresas.
Em muitas organizações identificam-se cada vez mais estratégias de liderança para alavancar o potencial humano e promover um reforço mútuo entre os resultados empresariais e humanos. Em vez de priorizar as questões empresariais em detrimento dos resultados humanos, estas empresas estão a adotar uma abordagem de sustentabilidade humana, para melhorar os resultados para os trabalhadores, clientes e sociedade e a tecnologia está a ajudar a pôr esta visão no terreno. Nuns casos, porque noutros é percebida como uma ameaça.
Valorizar a sustentabilidade humana é já hoje reconhecido como importante por 76% das organizações, embora só 46% admitam que estão a abordar o tema, de acordo com o Global Human Capital Trends 2024 da Deloitte, que identifica as principais tendências a nível de capital humano e recursos humanos no contexto empresarial.
As organizações que o estão a fazer “têm quase o dobro da probabilidade de alcançar os resultados financeiros desejados e o dobro da probabilidade de alcançar resultados humanos positivos”, apurou também a consultora, que encontrou grandes divergências de perceção sobre o tema e receios nos colaboradores relativamente ao impacto da tecnologia a este nível.
Em termos de perceção, 89% dos executivos disseram que a sua organização está a promover a sustentabilidade humana de alguma forma, mas só 41% dos trabalhadores inquiridos têm a mesma opinião. Os maiores obstáculos identificados pelos colaboradores nesta matéria são o aumento do stress no trabalho (53%), logo seguido dos receios de que a tecnologia venha a ameaçar o seu emprego, ponto apontado por 28% dos inquiridos.
Entre as várias tendências identificadas pela Deloitte nesta pesquisa estão outros pontos onde a tecnologia tem um papel central e é um facilitador da valorização da sustentabilidade humana. Um deles é o uso dos dados, cada vez mais disponíveis nas organizações, para promover a transparência e criar confiança. “Na era da interconectividade global, os trabalhadores de uma empresa deixam na sua atuação um rasto de dados que pode dar aos líderes uma visibilidade microscópica do funcionamento das organizações”, refere a nota de resumo do estudo. Esta transparência de dados tem potencial para criar benefícios para ambas as partes, trabalhadores e liderança, se for gerida responsavelmente, embora possa também acarretar riscos para a privacidade dos colaboradores.
Mais de metade (52%) dos inquiridos no estudo dizem que estão a tomar algumas medidas para aumentar a confiança e a transparência nas suas organizações tirando partido destes dados, mas só 13% reconhecem que estão a fazer o suficiente para obter progressos significativos. As organizações que criam transparência e confiança têm duas vezes mais probabilidades de alcançar os resultados empresariais e humanos desejados, garante a Deloitte.
O trabalho colaborativo e as competências mais sofisticadas dos colaboradores estão também a exigir das empresas novas métricas para medir a produtividade. A maioria dos líderes (74%) confirmam o interesse em fazer alterações a este nível, mas só 40% já estão a trabalhar nisso e só 17% acreditam que a sua empresa é eficaz na avaliação do valor criado por cada trabalhador, para além das métricas tradicionais.
A pesquisa identifica ainda que o avanço acelerado de tecnologias como a inteligência artificial generativa está a trazer para as empresas um “défice na imaginação”, materializado na dificuldade em imaginar novas possibilidades de colaboração entre humanos e tecnologia. “73% dos inquiridos afirmam que é importante garantir que a imaginação humana acompanha o ritmo da inovação tecnológica, mas apenas 9% estão a fazer grandes progressos no sentido de alcançar esse equilíbrio”, revela-se.
As empresas bem-sucedidas a este nível terão quase o dobro da probabilidade de alcançar os resultados empresariais e humanos que desejam. E isto não acontece por falta de interesse dos colaboradores em aproveitarem os benefícios da IA: 70% dos trabalhadores estão dispostos a delegar o máximo de trabalho possível à IA para poupar tempo e aumentar a criatividade. Por outro lado, 75% das organizações a nível mundial tencionam acelerar a sua utilização da IA nos próximos cinco anos, conforme apurou também a pesquisa.
Outra tendência, mais desejada que concretizada, mas igualmente com elevado potencial de impacto nos resultados das organizações, são os espaços de criatividade, imaginação e exploração. Mais de metade dos inquiridos na pesquisa (65%) reconhecem a importância de criar nas suas organizações “espaços seguros que incentivem a criatividade e a exploração intencionais, que podem nem ser espaços físicos”, mas que permitam aos trabalhadores “experienciar as possibilidades do novo futuro tecnológico para melhorar os resultados comerciais mais rapidamente”. Quarenta e um por cento das empresas dizem que já estão a trabalhar nesta área, menos de metade das inquiridas.
“Apesar de assistirmos a uma aceleração geral da utilização da tecnologia, muito potenciada na área da inteligência artificial, deverá existir uma consciência real da importância do papel que as pessoas têm nas organizações e na sustentabilidade das empresas”, sublinha Nuno Carvalho, partner da Deloitte.
“Essa poderá ser a chave para o sucesso das organizações, numa altura em que as abordagens tradicionais da forma como trabalhamos caem em desuso”, acrescenta o responsável. “A capacidade de criar valor em benefício das pessoas em vez de olhar para elas como fonte de valor, é hoje em dia não apenas um “nice to have” mas um “must have” para que as empresas possam obter melhores resultados financeiros e criar um impacto positivo na sociedade”.
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