Fora das maiores cidades, um pouco por todo o país, os projetos de Smart Cities também estão a avançar. As necessidades de uma grande cidade podem não ser as mesmas de uma cidade de menor dimensão - e em muitos casos não são - mas não é só nas maiores cidades do país que os projetos de Smart Cities apontam holofotes para o poder dos dados.
Famalicão é um exemplo disso. “Não queríamos atuar sobre uma das áreas apenas. Queríamos ter um processo muito aberto, cada vez mais horizontal e que tocasse todas as pessoas, ao contrário do que muitas vezes é a abordagem a este tema das Smart Cities” explica Vitor Moreira, diretor-geral do município e responsável pela Smart City de Vila Nova de Famalicão.
“Não queríamos dizer que somos uma Smart City só porque temos um sistema de rega inteligente, ou outro sistema qualquer” e por isso aqui não há pressa em contar poupanças, ou mostrar resultados. Há essencialmente a “preocupação de encontrar formas de extrair valor dos muitos dados que a autarquia já tem, para poder começar a gerar impacto na vida das pessoas”, reforçando a aposta na sustentabilidade e na eficiência.
O ponto de partida do projeto, que começou a ser implementado há três anos e que levou a marca de B-Smart Famalicão, foi a digitalização de informação. “Hoje temos já os nossos dados bastante cadastrados e estão cadastrados a todos os níveis municipais”, conta o responsável.
“Já temos alguma informação, muitos dados, mas o que queremos é essencialmente isto: ter a capacidade de definir indicadores para todas as áreas de gestão do município e a partir daí ir monitorizando como estamos a gerir o território”.
A maior parte destes indicadores estão alinhados com os objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas.
Entretanto, a cidade implementou uma plataforma de inteligência urbana, para “trazer esse cadastro que tradicionalmente estava dentro de cada uma das áreas, para um espaço comum e para que todos tenham acesso. Nesta fase, acesso a dados e mais tarde a informação”, distingue Vítor Moreira.
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Famalicão está também já a fazer uso de uma plataforma de gestão de ocorrências, por enquanto para articulação interna com as freguesias, em breve disponível para os munícipes. Paralelamente foi implementado um sistema de informação para os lugares públicos de estacionamento e começam a materializar-se poupanças decorrentes de uma análise mais cuidada dos dados disponíveis. Por exemplo, depois de constatar que a quantidade de biomassa na floresta do concelho é grande, a autarquia decidiu começar a aproveitá-la para aquecimento e já alterou os sistemas de três escolas de gás para pellets, com a devida adaptação da matéria-prima.
Mas Vitor Moreira volta a frisar: “estamos a fazer, sem pressas, um percurso que não se centra em poupanças no curto prazo. A visão é mais a médio prazo e por isso é que já estamos a trabalhar com um laboratório de cientistas de dados. Queremos encontrar correlações entre dados que já existem há muito tempo, mas nunca foram trabalhados de forma a poder antecipar algumas situações e aí sim intervir na vida das pessoas” O laboratório em questão é o Data CoLAB que está a ajudar a autarquia a desenvolver modelos preditivos.
No início do ano, a autarquia quer dar ainda mais escala a esta visão Data Centric, dinamizando o lançamento de um Observatório de Dados. A B-Smart Alliance vai juntar “30 parceiros de visão, que connosco vão ajudar a construir este processo e que são das mais diversas áreas, algumas nada tecnológicas”, mas todas importantes para o que se pretende fazer neste laboratório colaborativo, assegura Vítor Moreira.
A Smart City de Lagoa chega a todo o concelho
A abordagem da autarquia de Lagoa às Smart Cities tem a particularidade de, desde o primeiro momento, considerar todo o concelho. Os princípios são idênticos àqueles que orientam muitos municípios: ajudar a “responder às necessidades de quem vive, trabalha ou visita o concelho, de forma sustentável e eficaz, promovendo a coesão social e incentivando uma utilização mais eficiente dos recursos”, mas procurando estender essas respostas a todo o concelho.
Os primeiros passos do projeto, que arrancou em 2019 mas só começou efetivamente chegar ao terreno em 2020, passaram pela criação de um centro de operações e de um sistema de registo de ocorrências, que permite aos munícipes reportar problemas no concelho e acompanhar a resolução. O município avançou entretanto para a sensorização de diferentes equipamentos e por essa via consegue receber dados que partilha na mesma plataforma, ou que apoiam uma gestão mais eficiente.
“A Sala de Operações é a nossa montra para o mundo, dota os munícipes com uma ampla gama de serviços de IoT, todos entregues através da mesma interface de back-end, proporcionando uma visão única e global do concelho para a gestão e de todas as suas atividades associadas”, explica Rui Mesquita, técnico de informática - SmartCity Lagoa.
O software de suporte a esta sala de operações permite ainda “desenvolver de uma forma rápida e a um custo muito reduzido as mais diversas aplicações”, que tanto podem servir para facilitar a comunicação com os munícipes (fazer inquéritos, informar sobre transportes públicos, ou percursos pedestres, por exemplo), como servem as necessidades dos próprios serviços e facilitam a partilha de informação entre si.
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A sensorização do concelho e a rede LoRa que suporta essas comunicações permitem hoje, nomeadamente, receber informação centralizada e várias vezes ao dia dos contadores da água instalados no concelho; ter sistemas de rega inteligente,com controlo de temperatura e humidade e interação com estações meteorológicas; ter iluminação inteligente; ou rotas de recolha de lixo otimizadas em todo o concelho.
Potenciar o valor dos dados recolhidos pelos sensores
O próximo passo é potenciar o valor de todos os dados que o município já consegue recolher. A “componente de gestão de informação é a alavanca para a mudança do modelo de gestão das cidades”, admite Rui Mesquita, reconhecendo que a tarefa é complexa.
“A capacidade de gerar, reunir e analisar dados distribuídos e disponibilizá-los publicamente é o primeiro, mais ambicioso e disruptivo passo” para criar uma “nova cidade analítica". Pelo caminho é preciso vencer resistências à mudança e aversão ao risco, que no sector público acabam por atirar muitos projetos públicos mais para “metas e resultados a curto prazo”, que para estratégias a longo prazo.
Também em Lagoa, a visão para a construção de uma Smart City tem passado pelas parcerias e pela promoção de “processos de inovação aberta, cocriação e inteligência”. A autarquia defende que o ponto de partida de um projeto deste tipo “devem ser programas de dados abertos, apoiados numa primeira fase por fontes de dados internas e pelos seus próprios projetos de IoT”.
Os parceiros desta lógica de colaboração têm sido a NOS, UNINOVA, Universidade do Algarve, Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes e Instituto Politécnico de Beja. Daqui já nasceram vários protótipos funcionais para responder a necessidades específicas, como a monitorização de indicadores de meio ambiente, da qualidade da água, gestão pedonal e de trânsito, entre outras.
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