A Microsoft está na lista das grandes tecnológicas que anunciaram despedimentos no início deste ano, calculando em mais de 10 mil pessoas que saem dos seus quadros, embora sem confirmar países ou áreas específicas. Andres Ortolá, diretor geral da Microsoft em Portugal já tinha sublinhado em entrevista ao SAPO TEK que o negócio estava a crescer de forma saudável no país, admitindo porém que existe um ajuste de estratégia global e garantindo que o processo aconteceria com total transparência.

Hoje foram avançados números de despedimentos da empresa em Portugal, com o Observador a indicar que são 112 os colaboradores na lista dos que vão ser dispensados. Contactada pelo SAPO TEK a Microsoft Portugal não confirma o número mas admite que iniciou o processo de despedimento coletivo.

"Comunicámos hoje aos nossos colaboradores, que iniciámos um processo de despedimento colectivo, uma vez que este é o mecanismo previsto pela legislação laboral portuguesa para quando os despedimentos afectam mais de 5 colaboradores em empresas com 50 ou mais de 50 funcionários. Não tomamos decisões como estas de ânimo leve. Estamos a trabalhar de forma próxima com os colaboradores impactados para garantir que são tratados com respeito e têm todo o nosso apoio durante estas transições", explica a empresa em comunicado.

A Microsoft Portugal não comenta também quais são as áreas de negócio mais afetadas, mas o SAPO TEK sabe que os despedimentos vão incidir no centro de competências Customer Experience & Success que foi criado em 2017 e que nos últimos três anos cresceu de forma exponencial.

Microsoft está há 33 anos em Portugal e nos últimos anos registou um crescimento acelerado, sobretudo em número de colaboradores, onde já ultrapassou os 1.500, numa subida de 265% que resulta da localização do centro de Customer Experience & Success. Este centro dá apoio sobretudo a clientes internacionais e a sua receita não entra nas contas da Microsoft Portugal.

Um breve comentário da Microsoft Portugal sublinha que "ajustes organizacionais são uma parte regular, necessária no nosso negócio. Continuaremos a priorizar e investir em áreas estratégicas de crescimento para o nosso futuro, dando suporte e apoio aos nossos clientes e parceiro".

A empresa tinha divulgado no mês passado um estudo da consultora Ernest & Young (EY) onde revelava o impacto económico do seu negócio em Portugal, o equivalente a 2,4% do PIB e 4,9 mil milhões de euros, um valor que Hermano Rodrigues, Partner da EY, admite ser conservador.

Tudo indica que os despedimento aconteçam ainda durante o ano civil de 2023, mas é possível que os processos se arrastem no âmbito das negociações do despedimento coletivo.

Questionada pelo SAPO TEK em relação a um possível impacto adicional do uso da tecnologia de Inteligência Artificial nos despedimentos, a empresa lembra não é possível dizer com certeza de que forma o mercado de trabalho será afetado pela IA, mas que está empenhada em desenvolver a tecnologia de forma responsável. "Estamos concentrados na criação responsável de Inteligência Artificial que permita às pessoas obter maior produtividade, crescimento e satisfação no trabalho que fazem", mas admite também que "à medida que os sistemas de IA evoluem, esperamos que a natureza de alguns empregos se altere e que sejam criados novos empregos".

"Estas mudanças são semelhantes às mudanças a que assistimos noutros grandes avanços tecnológicos, como a invenção da imprensa, do telefone ou da Internet", refere a mesma fonte.

"Esperamos que esta mudança exija novas formas de pensar sobre competências e formação para garantir que os trabalhadores estejam preparados para o futuro e que haja talento suficiente disponível para empregos críticos", acrescenta.