O cenário do mercado global de smartphones continua em queda, tendo registado no terceiro trimestre do ano a sua quinta quebra consecutiva na distribuição. Segundo a IDC, houve uma quebra de 9,7% de smartphones distribuídos, face ao mesmo período homólogo do ano passado. A Apple foi a única fabricante com crescimento positivo no período.

Em Portugal, o cenário é exatamente o mesmo de recuo, mas com uma quebra ainda mais saliente. Segundo os números partilhados por Francisco Jerónimo, analista da IDC, houve uma diminuição da distribuição no mercado nacional de 25,9% face a 2021, traduzindo-se em 520 mil unidades colocadas nas lojas. Das cinco principais marcas do mercado português, apenas a Apple registou um crescimento, ainda assim de 0,4%, uma margem mínima, mas positiva, mantendo o segundo lugar na quota do mercado com 16,9%, tendo colocado nas lojas 88 mil smartphones.

IDC smartphones Portugal T3 2022

A liderança do mercado continua a ser da Samsung, com uma quota avassaladora de 48,5%, mas as suas 252,5 mil unidades distribuídas significam uma quebra de 12,7% face ao ano passado. Mas as maiores quedas do mercado foram mesmo da Xiaomi com 59,7% e a Oppo com 53,5%. A Xiaomi distribuiu 68 mil unidades, tendo uma quota de 13,1% e a Oppo 35,2 mil smartphones, somando 6,8%.

A fechar o Top 5 encontra-se a TCL, que também caiu 28%, para 33,2 mil smartphones distribuídos, registando uma quota de 6,4%.

“Há uma questão mais técnica a referir, que poderia fazer com que o mercado não caísse desta forma. Há cerca de 80 mil unidades da Xiaomi que estavam para chegar no final de setembro, apanhando ainda o terceiro trimestre, mas que acabaram por não chegar, e que vão ser reportados no próximo trimestre”, explicou Franciso Jerónimo ao SAPO TEK. Este detalhe acaba por ter impacto não só na quota de mercado da marca chinesa, como no próprio mercado.

Se essas unidades tivessem sido reportadas, o mercado cairia apenas 15% e não os 25,9%. E nesse sentido, também a Xiaomi não deveria estar a cair os quase 60%, não em linha com o ano passado, mas bem menos que isso. São questões técnicas, que as pessoas nem sempre percebem”. O analista diz que a sua quota de mercado caiu para metade, quando na realidade devia estar nos cerca de 30% e ser o segundo maior fabricante em Portugal.

Ainda assim, refere da situação da Xiaomi, a realidade é que o mercado está mesmo a cair. “E a cair pela primeira vez em vários trimestres, pois o mercado cresceu sempre sobretudo depois da pandemia. No primeiro trimestre cresceu 21%, no segundo subiu 12% e agora está em queda, sejam 15 ou 25%”.

O principal fator pelo recuo prende-se com o facto de as pessoas terem renovado os seus equipamentos nos últimos dois anos. Ninguém troca de smartphone todos os anos e por isso esperava-se depois do crescimento, a respetiva queda. “Já fizemos uma previsão em agosto de que no quarto trimestre vai continuar a cair, provavelmente de forma ainda mais acentuada do que o previsto”.

A inflação e os receios da recessão no próximo ano têm também afastado as pessoas das lojas, já que os equipamentos eletrónicos deixam de ser uma prioridade de compra. Mas defende que a razão principal foi a renovação recente dos smartphones. “Quando uma pessoa compra um smartphone, fica com ele durante mais tempo, por ter melhores especificações, as pessoas já gastam mais a pensar que vão mantê-lo mais tempo”. As fabricantes sofrem assim destes ciclos de maior ou menor procura, crescendo em vários trimestres, mas depois caindo nos seguintes, que é o que está agora a acontecer.

"Quando uma pessoa compra um smartphone, fica com ele durante mais tempo, por ter melhores especificações, as pessoas já gastam mais a pensar que vão mantê-lo mais tempo."

A Apple continua a ganhar terreno no país e Francisco Jerónimo afirma que a marca da maçã tem sido das mais resilientes a nível global. “As pessoas percebem cada vez mais que quando compram um iPhone e depois decidem trocá-lo, o seu valor residual é muito superior ao de outras marcas Android”. Explica que quando se paga 1.000 euros por um smartphone, na troca seguinte não vai dar o mesmo valor, mas sim o preço menos uns 400 ou 500 euros que ainda vale o seu equipamento. “O preço médio dos smartphones da Apple é muito superior aos concorrentes, mas na verdade as pessoas não estão a pagar esse valor”.

Ainda sobre os equipamentos da Apple, o ecossistema criado e melhorado pela empresa ao longo dos anos está a gerar frutos, convencendo as pessoas a comprar não apenas um iPhone, como outros equipamentos como o tablet ou computadores, porque tem aplicações para tudo. Também salienta o benefício de ter tudo em Android, mas o valor residual dos produtos da Apple tem vindo a superar e a convencer os utilizadores.